|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Pyongyang e Seul são avessas em tudo
Em Seul, shopping ligado por rampas e parque linear em riacho marcam novo orgulho da capital sul-coreana
Zaha Hadid e Daniel Libeskind constroem em Seul, onde rios são despoluídos e espaço para carros diminui
RAUL JUSTE LORES
EDITOR DE MERCADO
Muitos correm a Pyongyang antes que seu comunismo-kitsch desmorone para
desfrutar a viagem ao passado. Mas, em termos de túnel
do tempo, Seul é o oposto:
uma viagem ao futuro.
A capital da Coreia do Sul,
destruída nos anos 50 pela
Guerra da Coreia, tinha tudo
para ser uma versão asiática
de São Paulo.
Boa parte de suas construções tem a sem-gracice da má
arquitetura dos anos 60 e 70,
a natureza foi arrasada para
dar espaço a elevados e vias
expressas, e muito pouco do
patrimônio histórico sobreviveu ao progresso.
Nos últimos anos, o desenvolvimento enfim trouxe beleza. O arquiteto francês Dominique Perrault criou um
dos prédios mais ousados
dos últimos anos no mundo,
o novo campus da Universidade Feminina Ewha.
Se o título da instituição
remete ao século 19, quando
mulheres e homens estudavam separadamente, o prédio de vidro coberto por verde é totalmente século 21.
Boa arquitetura e a revalorização da natureza indicam
que é tempo de transformações em uma das capitais
mais modernas da Ásia.
Em uma das mais tradicionais ruas comerciais de Seul,
um prédio com fachada em
bambu chama atenção. É o
SsamzieGil, um shopping de
vidro, onde uma única rampa conecta seus quatro andares. Os criadores o definem
como uma "rua vertical".
Pelos seus corredores
abertos, vê-se a montanha de
Bukhan e centenas de lojinhas de artesanato e casas de
chá do bairro histórico de Insadong. Casais namoram ou
assistem a shows no pátio de
paralelepípedos.
Tudo é transparente e segue as regras do feng-shui
coreano. Até para subir nas
rampas inclinadas, o visitante precisa desacelerar da vida
turbulenta da metrópole de
10 milhões de habitantes.
TEMPOS MODERNOS
A modernidade em Seul
tem absorvido as tradições
coreanas. Um dos parques
mais frequentados da cidade
é horizontal, estendendo-se
pelos seis quilômetros do riacho de Cheonggyecheon.
O riacho foi canalizado para a construção de um elevado nos anos 60, mas o minhocão de Seul foi demolido
em 2003 e o rio foi ressuscitado por um complexo sistema
de bombeamento. O aniversário de Buda é comemorado
ali, com um festival de lanternas e esculturas de papel.
Obras de arte têm sido espalhadas em lugares públicos, principalmente na fachada de complexos de escritórios, contribuição privada
ao novo tempo da cidade.
TRANSFORMAÇÕES
Seul tem ambições ainda
maiores. Decidiu transferir a
base militar americana para
a periferia para construir um
novo distrito financeiro. O arquiteto americano Daniel Libeskind foi convidado para
fazer o maior arranha-céu da
cidade, provável ímã da empreitada.
O rio Han, que era um Tietê
coreano até há pouco, está
em processo acelerado de
despoluição, e já ganhou três
parques em suas margens.
As antigas marginais estão
sendo encolhidas para dar
mais espaço ao verde, enquanto a rede de metrô é a
que mais cresce no mundo,
fora da China.
Um antigo estádio de futebol foi demolido para dar espaço a um gigante centro de
design concebido pela arquiteta iraquiana Zaha Hadid.
Mas a batucada da torcida
coreana na terça-feira, ao
conquistar uma vaga nas oitavas de final da Copa, mostra que até no futebol os coreanos estão confiantes com
o futuro.
Texto Anterior: Coreia de Norte a Sul Próximo Texto: Fachada impenetrável esconde instabilidades Índice
|