São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2008

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VERDADES E MENTIRAS

Passado atômico é tema de museu de memorabilia

Testes com bombas nos arredores da cidade legaram imagens como miss bombástica e postal explosivo

DO ENVIADO ESPECIAL A LAS VEGAS

Imagine cogumelos resultantes de explosões atômicas, atrás dos hotéis de Freemont Street, em forma de cartões-postais dos anos 1950. Isso e mais uma miss metida em maiô bombástico e sorvendo drinques com nomes nucleares.
Imagens assim compõem a memorabilia de Las Vegas -e estão expostas no Atomic Testing Museum (atomictestingmuseum.org), museu aberto em 1998 no prédio da Nevada Test Site Historical Foundation (www.ntshf.org), órgão responsável pelos testes de bombas atômicas no deserto de Mojave a partir de 1951.
Fundado "para preservar a história exata dos locais de testes atômicos em Nevada", esse museu conserva, na verdade, a memória de uma era trágica, iniciada com as explosões nucleares em Hiroshima e Nagasaki, no fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). E o curioso é que os testes ocorriam perto do local, nos limites entre Las Vegas e o deserto.

"Boom"
Nesse museu, artefatos, gravações, fotos, painéis digitais e filmes de época mostram como, no período da Guerra Fria, nos arredores de Las Vegas, o então presidente Harry Truman designou legalmente a região como "área crítica de defesa".
O local virou então sede dos testes nucleares para fins bélicos -e o Atomic Testing Museum mostra como a humanidade parecia ter pouca consciência dos efeitos ultranocivos da radiação. Num dos nove ambientes, o auditório em forma de bunker mostra o frenesi causado pelas explosões entre 1952 e 1962, quando cem bombas atômicas foram detonadas. Depois disso, um tratado entre os EUA e a extinta União Soviética obrigou a realização dos testes no subsolo -e, aí, estimam-se em 900 as explosões realizadas ali entre 1962 e 1992.
O curioso é que o "boom" de Las Vegas coincide com essa época de experimentações nucleares: em 1950, a cidade tinha 24.624 habitantes; dez anos depois, em 1960, a população era de 64.405 pessoas.
Ciência, política, horror e esperança, brinquedos e equipamentos para medir a radiação, imagens de cientistas, receitas de drinques "atômicos", exemplares de quadrinhos do Super-Homem e até um filme da Disney intitulado "Nosso Amigo o Átomo" integram o acervo desse museu. Idem uma carta de Albert Einstein escrita durante a Segunda Guerra, mostrando que, apesar de o cientista, um dos pais da bomba atômica, ter passado para a história como um pacifista, ele exortou o então presidente Franklin D. Roosevelt a investir na produção do artefato, afirmando que a Alemanha nazista avançava nessa direção. Noutro documento, um médico nipônico conta, em inglês, a degeneração física de sobreviventes das explosões em Hiroshima e Nagasaki. (SILVIO CIOFFI)


ATOMIC TESTING MUSEUM
East Flamingo Road, 755; entrada: US$ 12 (R$ 19). De segunda a sábado das 9h às 17h e, aos domingos, das 13h às 17h
atomictestingmuseum.org


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