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NILO SEM MISTÉRIO
Já a Cidadela, um complexo de museus e mesquitas, revela a aproximação da capital com o mundo árabe
Arredor do Cairo ecoa universo dos faraós
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NO EGITO
Caótica e romântica, o Cairo,
principal porta de entrada do Egito, pode cativar ou repelir o visitante, mas é talvez preciso aceitar
e entender que os dois aspectos
andam juntos e tornam a capital
um lugar marcante.
A cidade, de 16 milhões de moradores, é densamente habitada,
barulhenta, e o trânsito é desordenado. Transeuntes ziguezagueiam por entre os carros. Motoristas acionam buzinas sem motivo aparente. A experiência de
atravessar uma avenida movimentada pela primeira vez renderá boas anedotas, mas pode se tornar cansativa.
Por outro lado, cafés esfumaçados por narguilés, a visão das pirâmides de Gizé e os barcos no Nilo e o entoar de orações nas mesquitas dão à cidade aquele ar mítico que povoa o imaginário ocidental desde o século 19, quando
o Egito encantou europeus e americanos, como Gustave Flaubert e
Mark Twain.
Dois ou três dias são suficientes
para conhecer suas principais
atrações. O Museu Egípcio e as pirâmides de Gizé, a oeste dali, evocam o universo dos faraós. Já lugares como o Cairo Islâmico e a
Cidadela oferecem um mergulho
no mundo muçulmano e árabe.
Pirâmides e tesouros
O Museu Egípcio, às margens
do Nilo, tem o interior quente,
mal iluminado, e nem todas as peças estão identificadas, o que é
uma pena. Mas, ainda assim, deve
ser visitado: guarda mais de 120
mil relíquias, entre múmias, sarcófagos, jóias e esculturas.
Em destaque estão os tesouros
de Tutancâmon, o jovem faraó
que reinou de 1336 a.C. a 1327 a.C.
e ficou famoso quando sua tumba
foi encontrada, recheada de objetos preciosos, em 1922, no Vale
dos Reis. Lá estão a máscara funerária de ouro maciço de 11 quilos e
o trono folheado a ouro com desenho do faraó e de sua mulher
untando-o com bálsamo. Também se vêem algumas múmias
reais, essas em uma sala climatizada. Ramsés 2º, sem as ataduras
em volta do rosto, mãos e pés,
mostra a excelência alcançada pelos egípcios no processo de mumificação.
Do outro lado do Nilo, a oeste
do Cairo, fica Gizé, onde estão as
famosas pirâmides Quéops, Quéfren e Miquerinos e a esfinge,
além dos camelos que convidam a
um passeio pelas areias do deserto. Uma das sete maravilhas do
mundo, as pirâmides medem de
62 metros a 137 metros de altura e
impressionam. A de Quéops tem
mais de 4.000 anos.
A proximidade da cidade e a falta de boa estrutura para turistas
tiram um pouco do encanto da visita. É possível entrar nos monumentos, pagando uma taxa extra
além da entrada para a área. O interior é sem pinturas. Ao lado da
pirâmide de Quéops, um museu
abriga uma bela barca solar reconstruída. Ela teria trazido a múmia do faraó e depois sido enterrada para transportá-lo no além.
Hotéis do Cairo oferecem tours
para visitar Gizé e também as pirâmides de Saqqara. De táxi, uma
corrida do centro do Cairo para
Gizé sai por cerca de 15 libras
egípcias (R$ 6). Se quiser visitar
Saqqara, é bom combinar o preço
antes de deixar a cidade.
Dança
Após a era dos cultos aos deuses, o Egito tornou-se cristão sob
os romanos e, depois da invasão
árabe, em 640, predominantemente muçulmano.
O bairro do Cairo Islâmico abriga mais de 800 monumentos, entre eles a mesquita Al-Azhar. Fundada em 970, é considerada a universidade mais antiga do mundo.
Guias aguardam os turistas na entrada, que é gratuita (mas eles pedirão uma colaboração em dinheiro pelas informações), e o
conduzem ao interior, uma ilha
de calmaria no animado bairro,
mostrando a arquitetura harmoniosa. Aproveite para observar os
freqüentadores, que meditam,
oram e até tiram uma soneca.
Próximo da mesquita fica o bazar Khan al-Kalili, que, desde o século 14, é um labirinto de lojas
abarrotadas com tudo que se possa imaginar, sem esquecer as estatuetas de gatos e de pirâmides.
À noite, a pedida é assistir a uma
apresentação de dança sufi na Cidadela, uma fortificação que começou a ser erguida em 1176 por
Saladino para proteger a cidade
contra os cruzados cristãos. Hoje
é um complexo de mesquitas, palácios e museus.
A apresentação, gratuita, acontece ao ar livre, sob a luz do luar. A
dança é originalmente uma forma
de culto de uma seita mística muçulmana em que os participantes
atingem um estado de êxtase.
Na Cidadela, músicos tocam
instrumentos de percussão e de
sopro enquanto homens giram
ininterruptamente, como piões, e
suas saias pesadas e coloridas erguem-se com a força dos rodopios, criando padrões ondulantes.
Quem fica extasiado são os espectadores. A corrida de táxi, do centro até a Cidadela, sai por cerca de
15 libras egípcias (R$ 6).
(CHIAKI KAREN TADA)
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