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NILO SEM MISTÉRIO
Templo de Ramsés 2º está a 280 km da cidade, que abriga cultura núbia e ilha dedicada a Isis
Faraós gigantes guardam santuário no sul de Assuã
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NO EGITO
Em Assuã, no sul do Egito, o rio
Nilo é pontuado por ilhas e por
embarcações a vela chamadas de
falucas. Acompanhar seu movimento ao pôr-do-sol é programa
recomendado para relaxar.
Para chegar a Assuã do Cairo,
um meio prático é pegar o trem
noturno (cerca de US$ 50), numa
viagem de 14 horas, com duas refeições e cabines com assentos
que se transformam em cama.
Assuã foi por séculos entreposto
de rotas de caravanas. O souq ainda hoje é animado, especialmente
à noite. Turistas e vendedores negociam echarpes, camisas, túnicas, canela, açafrão, chás, chaveiros, bananas e pêssegos. Tudo em
um ambiente informal.
Das mesquitas iluminadas, ouvem-se as orações. Nos cafés, homens vestidos com camisas e calça ou longas túnicas de algodão
tomam chá. Curiosamente, as
únicas mulheres vistas nesses cafés são as turistas.
Na ilha de Elefantine, no meio
do Nilo, tradicionais vilarejos núbios também aguardam os visitantes. Na avenida à beira do Nilo,
condutores de falucas oferecem
passeios para ver a ilha e outras
adjacentes.
O Museu Núbio, na cidade, é
considerado um dos melhores do
país. Foi erguido para preservar a
cultura núbia depois da decisão
de construir a represa ao sul da cidade, o que inundou as terras desse povo.
Transposição de templos
A represa de Assuã, seguida
anos depois por outra, a High
Dam, mudou a paisagem do Egito. Além de causar inundação ao
sul, criando o lago Nasser, ampliou a área cultivável e obrigou a
transposição dos templos de
Ramsés 2º (reinado de 1279 a 1213
a.C.) e de sua mulher, Nefertari,
em Abu Simbel, a 280 quilômetros ao sul.
Os templos foram originalmente escavados na encosta de uma
montanha. Como o local ia ficar
submerso, um morro idêntico ao
original foi erguido em um ponto
longe das águas. Paredes, colunas
e esculturas de pedra foram cortadas, transportadas e remontadas.
O templo de Ramsés 2º é dedicado aos deuses Ra-Harakhty,
Amun e Ptah. A fachada, de 30
metros de altura, é dominada por
quatro gigantescas estátuas de
Ramsés 2º, das quais três estão intactas. Os Ramsés de pedra impressionavam quem subia o Nilo
e adentrava o território egípcio.
Uma antiga estratégia de marketing pessoal. Lá dentro, cenas esculpidas na parede (algumas ainda coloridas) retratam o faraó em
suas conquistas, como a dos hititas, ou em frente aos deuses. O
templo de Nefertari, ao lado, é
menor e mais simples.
Para chegar a Abu Simbel, é preciso acordar cedo e encarar uma
longa jornada a partir de Assuã.
Vans e ônibus partem em comboio, para garantir a segurança, às
4h30, numa viagem de cerca de
três horas (só de ida). Na estrada,
vê-se apenas o deserto, com cara
de poucos amigos.
Chega-se aos templos por volta
das 7h30, quando ainda não está
muito quente. Se o seu meio de
transporte for uma van sem ar-condicionado, o que não é difícil
acontecer no caso dos viajantes
independentes, você vai achar ótimo. A visita é rápida, mas o suficiente para se impressionar com
esses monumentos e apreciar o
azul do lago Nasser à frente.
Na hora de comprar o tour, à
venda em todos os hotéis, o turista pode optar por um passeio
mais longo, que inclui a ilha de Filae, onde fica um templo de Isis.
O santuário também mudou de
lugar por causa da construção das
represas no Nilo, na década de
1970. A nova ilha de Filae foi até
lapidada para se parecer com a
ilha original. Mesmo depois que
os romanos impuseram o cristianismo, o culto a Isis na ilha resistiu por mais dois séculos, chegando aos meados de 550.
Os últimos hieróglifos foram
inscritos na ilha. A escrita egípcia,
usada por mais de 3.500 anos, somava mais de 6.000 símbolos. Ao
inscrevê-los nos monumentos, os
egípcios acreditavam que os desenhos adquiriam poderes divinos.
O complexo é formado por templos adjacentes e o santuário principal. Como é típico dos templos,
tem pilonos (pórtico), sala hipostila e o recinto sagrado, onde havia uma estátua de ouro da deusa.
Nas paredes vêem-se Isis com seu
marido, Osiris, outras divindades
e homens que governaram o Egito, como ptolemaicos e romanos.
O santuário chegou a ser em
parte convertido em capela cristã.
Infelizmente, aqui, como em muitos outros templos, muitas cenas
gravadas nas paredes foram danificadas por terem sido consideradas pagãs. Quando os muçulmanos chegaram, por sua vez, também danificaram as inscrições.
Mesmo assim, o complexo de Isis
é um lugar pitoresco, bom para
terminar o dia de passeio. Os
tours para Abu Simbel e Filae terminam por volta das 14h.
(CKT)
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