São Paulo, segunda-feira, 26 de agosto de 2002

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PEZINHO NA ESTRADA

Chupeta ou mamadeira evita que os pequenos tenham dor de ouvido durante viagens de avião

Bebê paga 10% do bilhete, mas voa no colo

DA REPORTAGEM LOCAL

"O bebê já é a própria bagagem", respondeu uma funcionária do check in do Aeroporto Internacional de Guarulhos quando a reportagem perguntou se bebê tinha direito a levar bagagem no avião. Ela se referia ao fato de a criança de até dois anos incompletos não ter assento próprio, sendo obrigada a viajar no colo, apesar de sua passagem normalmente custar o equivalente a 10% do valor pago pelo adulto acompanhante (em caso de bilhete adquirido com milhagem, o valor é calculado sobre a tarifa cheia).
O bilhete para essa faixa etária sai de graça apenas nos vôos da Gol e na ponte aérea Rio-São Paulo da Vasp no universo das 22 companhias pesquisadas pela Folha (veja quadro nesta pág.). Algumas empresas estrangeiras também não cobram passagem de bebês em rotas realizadas dentro do seu país.
Se os pais quiserem garantir assento para seus pequenos de menos de dois anos, devem pagar a mesma tarifa concedida a crianças de até 12 anos incompletos, cujo preço, em relação ao bilhete do adulto, varia entre 50% e 80%. Ou contar com a sorte e torcer para que o avião esteja vazio e a criança possa usar uma poltrona vaga, como aconteceu com Rafaela Osso Pascotto, 3, na volta de Nova York, há dois anos. Ela dormiu deitada numa fileira de poltronas vazias entre o encosto e a mãe, Renata, que a protegeu com o próprio corpo.
O mais seguro, porém, é a criança se acomodar no bebê-conforto, a mesma cadeirinha utilizada nos carros, desde que o apetrecho tenha um selo de aprovação, segundo recomendação da ONG Criança Segura. "O colo não é confortável para a criança nem para o adulto", diz Camila Aloi, coordenadora da ONG em São Paulo.
A maioria das companhias disponibilizam moisés (muitos deles com cintos ou proteção especial), que são encaixados na aeronave em locais específicos para esse fim, embora normalmente haja uma quantidade limitada deles por vôo. Esses moisés têm capacidade para abrigar bebês de no máximo seis meses, e, mesmo nesse caso, a criança é obrigada a ficar no colo de um adulto em procedimentos de decolagem e de aterrissagem (as únicas empresas pesquisadas pela Folha que não oferecem "berços" são a Copa, a TAM e a Gol.)
Independentemente da opção dos pais, eles não podem se esquecer da documentação da criança (RG ou certidão de nascimento) para apresentar no check in, ou ela pode não embarcar.

Dor de ouvido
O bebê pode até se tornar, aos olhos dos outros passageiros, a mala a que se referia brincando a funcionária do início deste texto se sentir muita dor de ouvido, causada pela despressurização da cabine. Para evitar o transtorno, a saída é provocar movimentos de sucção na criança, oferecendo peito, mamadeira ou chupeta.
"Até atrasei um pouco a mamada da Giovana para lhe oferecer o peito no momento da decolagem. Foi ótimo, ela não sentiu dor nenhuma", comenta Abadia Pereira Boaretto, que viajou com a filha de cinco meses de Brasília para a Costa do Sauípe em julho.
A coisa complica um pouco quando a criança já não usa chupeta nem mamadeira, como era o caso de Rafaela, que foi a Nova York. "Ela berrou durante duas horas e meia seguidas", lembra a mãe. "Era muito difícil acalmá-la, pois o avião inteiro vinha dar palpite para tentar ajudar, o que acabava a irritando ainda mais."
Para quem já não usa mamadeira nem chupeta, a pediatra Eloisa Corrêa de Souza, do Hospital Universitário da USP, recomenda que a criança tome um suco ou um chá. "O importante é que a criança faça movimentos de deglutição." A dor pode ainda ser aliviada com uma massagem no canal de fora do ouvido da criança, como sugere a pediatra Renata Waksman, do hospital Albert Einstein. Se a criança for maior, bala ou chiclete pode ajudar.
Também o ar ressecado do avião pode incomodar os pequenos, o que pode ser evitado com soluções fisiológicas, segundo as médicas, que recomendam ainda a ingestão de muita água.
Para evitar que seus quatro filhos incomodem os outros passageiros a bordo, a brasileira Raquel Ajami, que mora na Bélgica e vem sempre ao Brasil, prefere se acomodar no fundo do avião, embora normalmente as companhias aéreas ofereçam as primeiras poltronas, com mais espaço na frente, para quem tem crianças.
Raquel evita viajar de dia para que as crianças durmam, mas costuma garantir o entretenimento dos pimpolhos, cujas idades são um, quatro, sete e nove anos, levando revistas para colorir, massinha e brinquedos para o avião. Esse tipo de passatempo às vezes é oferecido pela própria companhia aérea (veja quadro).
Raquel só vê dificuldades para entreter os pequenos no aeroporto, onde às vezes precisa ficar muito tempo. "Os aeroportos deveriam ter salas para famílias."
Espaço assim existe para os hóspedes da Costa do Sauípe no Aeroporto Internacional Luis Eduardo Magalhães, em Salvador. A sala, equipada com trocador, brinquedos e internet, pode ser usada por quem está chegando ou partindo. Já no exterior, a Lufthansa e a Swiss têm espaços com características semelhantes respectivamente nos aeroportos de Frankfurt e de Zurique.
(MARISTELA DO VALLE)


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