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O PAÍS E O POETA
Museu expõe pinturas em cenário natural
Quem visita Bcharre pode conhecer a casa do artista e o mosteiro na montanha que abriga suas obras
DO ENVIADO ESPECIAL AO LÍBANO
Uma fonte vinda diretamente da montanha onde fica o Museu Gibran inaugura a visita já
na primeira sala desse espaço e
permite que o som da água corrente seja ouvido em uma parte
considerável do local.
Encravado em uma montanha de Bcharre, o mosteiro de
Mar Sarkis (são Sérgio), outrora abrigo de eremitas (há mais
de um milênio) e morada de
monges carmelitas (no século
17), transformou-se no museu.
Desde 1926, quando morava
em Nova York, o artista manifestara a intenção de comprar o
mosteiro para transformá-lo
em refúgio na aposentadoria e
em morada final, pois ali costumava permanecer e rezar durante a infância.
Em 1931, quando os despojos
de Gibran foram enviados a
Bcharre, Marianna, sua irmã,
realizou o sonho manifesto de
adquirir o terreno e ali fez repousar o corpo do escritor.
O Comitê Nacional Gibran
inaugurou o Museu Gibran em
1975, depois de ampliar o mosteiro e adaptá-lo para exibir
pinturas do artista libanês.
Fundado em 1943, o comitê
tem o objetivo de "disseminar o
pensamento artístico e filosófico de Gibran" e até hoje se
mantém com os direitos autorais dos livros.
É responsável pelo Museu
Gibran, pela biblioteca pública
em Bcharre e pelo Instituto de
Música, voltado a estudos de
instrumentos como qanún,
alaúde, piano e flauta.
Presidente do comitê, o professor e escritor Antoine Tawq,
58, diz que "quem observa as
pinturas de Gibran vê o horizonte desta região, os cedros e
as montanhas, em meio a temas de fundo religioso".
O museu foi reampliado e
modernizado em 1995. A exposição começa com as pinturas a
óleo. Depois vêm as aquarelas.
Além das 126 peças expostas,
há cerca de 300 na reserva.
"Basta olhar os quadros e os
escritos para ver Bcharre e os
arredores. Vários livros trazem
essa presença. E sua pintura
era a continuação da escrita.
Era um homem normal, em cuja arte a aspiração à pureza e a
imagem mítica do Líbano se
misturavam aos prazeres terrestres", afirma Alexandre Najar, advogado e autor de romances como "Atenas" e "A Escola
da Guerra", obra testemunhal
sobre os conflitos de 1975-90,
além de "Papéis de Gibran".
Entre as obras, destacam-se a
série do centauro, que simboliza o vínculo entre a natureza e a
consciência, e os retratos de
Carl Gustav Jung, Claude Debussy, Rabindranath Tagore e
seu auto-retrato.
Por vezes, o artista desenhava, em um mesmo quadro, dois
rostos de uma mesma personalidade, o visível e o invisível, o
conhecido e o secreto.
A intenção era desenhar um
rosto que se apresentasse como
o reflexo do mundo interior. Na
obra "O Louco", escreveu: "Conheço os rostos, pois os conheço através do que atiça meu
olhar, e minha consciência revela a verdade que escondem".
As obras de arte ocupam 16
salas em três andares que, ao final, levam ao mausoléu de Gibran. Além de pinturas e aquarelas, o museu mostra objetos
encontrados na casa de Gibran,
incluindo um mobiliário em
madeira e estátuas vinculadas
ao Egito Antigo e à China.
Bem próximo ao museu, a pé
pela montanha, há um túmulo
fenício e cinco sarcófagos dos
séculos 7º e 8º a.C.
Com uma população de aproximadamente 13 mil pessoas,
Bcharre também abriga a casa
de Gibran, renovada e onde se
expõem objetos pessoais da família do escritor e pintor.
(PDF)
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