São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 2008

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O PAÍS E O POETA

Museu expõe pinturas em cenário natural

Quem visita Bcharre pode conhecer a casa do artista e o mosteiro na montanha que abriga suas obras

DO ENVIADO ESPECIAL AO LÍBANO

Uma fonte vinda diretamente da montanha onde fica o Museu Gibran inaugura a visita já na primeira sala desse espaço e permite que o som da água corrente seja ouvido em uma parte considerável do local.
Encravado em uma montanha de Bcharre, o mosteiro de Mar Sarkis (são Sérgio), outrora abrigo de eremitas (há mais de um milênio) e morada de monges carmelitas (no século 17), transformou-se no museu.
Desde 1926, quando morava em Nova York, o artista manifestara a intenção de comprar o mosteiro para transformá-lo em refúgio na aposentadoria e em morada final, pois ali costumava permanecer e rezar durante a infância.
Em 1931, quando os despojos de Gibran foram enviados a Bcharre, Marianna, sua irmã, realizou o sonho manifesto de adquirir o terreno e ali fez repousar o corpo do escritor.
O Comitê Nacional Gibran inaugurou o Museu Gibran em 1975, depois de ampliar o mosteiro e adaptá-lo para exibir pinturas do artista libanês.
Fundado em 1943, o comitê tem o objetivo de "disseminar o pensamento artístico e filosófico de Gibran" e até hoje se mantém com os direitos autorais dos livros.
É responsável pelo Museu Gibran, pela biblioteca pública em Bcharre e pelo Instituto de Música, voltado a estudos de instrumentos como qanún, alaúde, piano e flauta.
Presidente do comitê, o professor e escritor Antoine Tawq, 58, diz que "quem observa as pinturas de Gibran vê o horizonte desta região, os cedros e as montanhas, em meio a temas de fundo religioso".
O museu foi reampliado e modernizado em 1995. A exposição começa com as pinturas a óleo. Depois vêm as aquarelas. Além das 126 peças expostas, há cerca de 300 na reserva.
"Basta olhar os quadros e os escritos para ver Bcharre e os arredores. Vários livros trazem essa presença. E sua pintura era a continuação da escrita. Era um homem normal, em cuja arte a aspiração à pureza e a imagem mítica do Líbano se misturavam aos prazeres terrestres", afirma Alexandre Najar, advogado e autor de romances como "Atenas" e "A Escola da Guerra", obra testemunhal sobre os conflitos de 1975-90, além de "Papéis de Gibran".
Entre as obras, destacam-se a série do centauro, que simboliza o vínculo entre a natureza e a consciência, e os retratos de Carl Gustav Jung, Claude Debussy, Rabindranath Tagore e seu auto-retrato.
Por vezes, o artista desenhava, em um mesmo quadro, dois rostos de uma mesma personalidade, o visível e o invisível, o conhecido e o secreto.
A intenção era desenhar um rosto que se apresentasse como o reflexo do mundo interior. Na obra "O Louco", escreveu: "Conheço os rostos, pois os conheço através do que atiça meu olhar, e minha consciência revela a verdade que escondem".
As obras de arte ocupam 16 salas em três andares que, ao final, levam ao mausoléu de Gibran. Além de pinturas e aquarelas, o museu mostra objetos encontrados na casa de Gibran, incluindo um mobiliário em madeira e estátuas vinculadas ao Egito Antigo e à China.
Bem próximo ao museu, a pé pela montanha, há um túmulo fenício e cinco sarcófagos dos séculos 7º e 8º a.C.
Com uma população de aproximadamente 13 mil pessoas, Bcharre também abriga a casa de Gibran, renovada e onde se expõem objetos pessoais da família do escritor e pintor. (PDF)


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