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O PAÍS E O POETA
Capital libanesa intensifica vida cultural
Em Beirute, nomeada a Capital Mundial do Livro de 2009, museus se renovam e festivais são retomados
DO ENVIADO ESPECIAL AO LÍBANO
Concertos, exposições, apresentações de música e dança
em universidades, teatros e
centros culturais, colóquios sobre a história antiga e contemporânea do Líbano...
As opções de programas culturais em Beirute, nomeada
Capital Mundial do Livro em
2009 pela Unesco, vêm se ampliando a cada dia.
Museus privados e públicos
apresentam coleções renovadas e acompanhadas de debates. O Museu Nacional de Beirute foi totalmente reformado
e inaugurou novos espaços.
"O museu estava localizado
na linha de demarcação da
guerra e, a princípio, foi apenas
fechado, pois acreditávamos
que os conflitos terminariam
logo, não imaginávamos que
durariam 15 anos [1975-1990]",
afirma Suzy Hakimian, curadora do museu Nacional.
"Depois, quando os combates passaram a atingir o museu,
a direção geral de antiguidades
decidiu retirar as peças pequenas e colocar as obras grandes
dentro de blocos de concreto
para protegê-las. Assim permaneceram por anos, até a reabertura", completa.
Entre as obras expostas, destaca-se o sarcófago de Ahiram,
testemunho do alfabeto fenício, origem de todos os alfabetos lineares conhecidos utilizados no mundo.
Escrito da direita para a esquerda, escrevia o fenício, língua semítica, e inspirou o aramaico, o hebraico, o siríaco, o
árabe, o grego, o latim, e línguas
como português, espanhol,
francês, inglês, alemão etc.
Ao longo do primeiro milênio
a.C., o alfabeto foi utilizado para escrever línguas aparentadas, como o aramaico. No século 8º a.C., os gregos adotaram o
alfabeto fenício, já com algumas modificações. Daí em
diante, o alfabeto começou a se
espalhar mundo afora.
Primeira inscrição
Existem algumas inscrições
breves com letras fenícias dos
séculos 11 e 12 a.C. , especialmente em pontas de lanças de
bronze, mas a primeira inscrição fenícia ampla que foi descoberta até hoje está no sarcófago
de Ahiram, rei de Biblos que viveu no século 10 a.C.
A escrita encontrada data de
aproximadamente 1.000 a.C. e
contém 19 das 22 letras do alfabeto fenício.
"Túmulo que Ittobaal, filho
de Ahiram, rei de Gubal [nome
em fenício de Biblos, que em
árabe se chama Jbeil], feito para Ahiram, seu pai, quando o
colocou [neste local] para repousar eternamente. Se algum
rei, governador ou comandante
de um Exército levantar-se
contra Gubal e abrir este túmulo, que o cetro de seu domínio
se despedace, que o trono de
seu reino seja deposto, e que a
paz se afaste de Gubal. Quanto
a ele, que sua inscrição seja apagada da face de Gubal", afirma a
inscrição do túmulo.
Outras atrações
Recomenda-se visitar também o museu Robert Mawwad,
uma casa tradicional libanesa
próxima ao palácio do governo
que foi comprada pela família
Mawwad e transformada em
museu. O local possui um jardim com fonte, árvores nativas
e colunas de períodos diversos.
O museu Sursock faz exposições de arte variadas, mas não
apresenta nenhuma coleção
permanente. Antes de ir ao local, é bom verificar se há alguma exposição no momento.
Chamam a atenção pelo bom
gosto a casa e o jardim, onde há
uma estátua que costumava ficar na praça dos Mártires e que
representa mulheres chorando
mortos em conflitos.
Festivais de arte na capital e
em outras cidades são uma tradição no Líbano que remonta à
época em que Beirute era conhecida como a Paris do Oriente Médio, nos anos 50 e 60.
Nos últimos anos, procuraram manter a tradição, mas
nem sempre isso foi possível.
"Tivemos de cancelar o festival
Al Bustan, dedicado à música
clássica, no inverno, por causa
dos ataques israelenses em
2006. Mas, neste ano, estamos
retomando com o tema "Além
das Fronteiras" e com artistas
de Rússia, Bulgária e França,
entre outros", diz Samar Moukheiber Adaimi, administradora desse festival.
Andrée Daouk, organizadora
do festival de Beiteddine, explica que "a cada ano ele era um
desafio durante os eventos.
Apesar de tudo, dos bombardeios, tentávamos organizar os
festivais. Vocês têm algo no
Brasil que nós também temos,
o sol. E, quando se vê o céu, há
esperança de viver."
Daouk era responsável pelo
"Mardi Club", reuniões semanais que promoviam a cultura
em Beirute na época dos conflitos. "A cultura não tem fronteiras. É mais forte que e-mail,
MSN. É uma troca para a vida
toda, e, quando não a partilhamos, tornamo-nos estéreis."
No final de semana, um dos
programas preferidos dos beirutenses é caminhar no Corniche, a avenida à beira-mar. Pode-se parar para apreciar uma
formação rochosa no mar que
já serviu de inspiração para
poemas e músicas.
À noite, a região próxima à
praça dos Mártires concentra
restaurantes e bares com propostas, sabores e valores diversificados. E a vida noturna em
Beirute também oferece opções para gostos variados.
(PDF)
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