Enquanto os turistas batem fotos de mulheres com turbantes e saias rodadas, una-se aos locais no balcão

DA ENVIADA ESPECIAL A SALVADOR

Comece o dia batendo pernas pelas mais de 360 lojas de artesanato do Mercado Modelo, na Cidade Baixa, pertinho do elevador Lacerda. Passeio turístico demais para o seu gosto?
Não se antes de ir embora você der uma paradinha na Cantina Modelo, que fica dentro do mercado mesmo, mas que é frequentada quase que exclusivamente pelos locais. Nada de turistas. Nada de baianas com saias rodadas para gringo fotografar. Nada de mesa -você come de pé, com a barriga no balcão.
A estrela dessa grata descoberta no Mercado Modelo é a dona Marinalva, que todos os dias madruga em cima das panelas para preparar delícias como o aipim com carne de sol (R$ 19), o camarão encapotado (R$ 8, a porção com oito camarões) e as deliciosas lambretas (R$ 7,50)-mariscos servidos com um molho tipo vinagrete.
Dona Marinalva fica escondidinha, trabalhando nos fundos do pequeno cômodo em que se espremem, além dela, o dono, incontáveis garrafas, a micropia, o microfogão, a geladeira de cervejas e os suculentos cajus, servidos para acompanhar algumas cachaças.
É fascinante observar como, num espaço tão pequeno, ela consegue fazer tantas coisas ao mesmo tempo. O movimento da clientela é intenso. E ninguém precisa esperar muito para receber o que pediu. Tudo muito rápido, muito barato e muito gostoso.
Quando a reportagem pediu a porção de lambreta, pensando que se tratava de uma turista que tinha resolvido arriscar nos pratos que os locais, de fato, comem, dona Marinalva ficou de olho na reação da nova cliente.
Notando a feição de satisfação, ela deu um sorriso tímido e continuou trabalhando. No seu minúsculo cantinho de delícias baianas. (PRISCILA PASTRE-ROSSI)