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BELEZA ROUBADA
Reportagem da Folha é assaltada na pedra Bonita; veja fotos contidas nos filmes resgatados no mato
No Rio, ladrões roubam direito de ir e ver
SILVIO CIOFFI
EDITOR DE TURISMO
"Você está pensando que eu sou
um bandido?" Diante da resposta
negativa, aparece o revólver: "Mas
eu sou!". Aliás, eram dois.
Longe de ser uma roubada, a visita ao Rio imerso na floresta da
Tijuca vale até o risco. A reportagem da Folha esteve no alto da pedra Bonita (696 metros), onde foi rendida por assaltantes, entregou
câmera fotográfica, celular, cartões de crédito, cheque e até a camiseta suada -mas lamentou mesmo o fato de um lugar tão especial não ter guarita nem policiamento sistemático.
Mais do que o roubo de objetos,
os bandidos que rondam a pedra
Bonita roubam algo insubstituível: o direito de ir e ver.
Do alto desse morro granítico
situado entre os bairros de São
Conrado e da Barra da Tijuca, no
Parque Nacional da Floresta da
Tijuca, acessível via Estrada das
Canoas, a beleza do Rio deixa o
espectador boquiaberto.
Numa visão de 360, ao norte,
está a cara do Imperador, incrustada na pedra da Gávea (de
840m), com o mar ao fundo; a leste, a paisagem é a serra da Carioca, com os morros da Agulhinha, Chrocaine e Dois Irmãos; e, a oeste, onde o Sol se põe, avista-se a Barra da Tijuca, emoldurada por
outra reserva natural, o Parque Nacional da Pedra Branca, em Jacarepaguá. As fotos desta página foram feitas instantes antes do assalto -e os filmes, recuperados pela reportagem, haviam sido jogados no mato.
Caminho nada suave
O topo da pedra Bonita está separado da rampa de onde se salta
de asa-delta, a 520 m de altitude,
por uma trilha difícil, de mais de 1
km. Até a rampa, pela Estrada das
Canoas, o carro percorre 7 km. Já
a subida da trilha, a pé, demora
cerca de 40 minutos.
Muita gente desiste, pois o caminho é íngreme, começa calçado
por pedras, mas passa por trechos
de terra e pelo mato (há mata
atlântica primária e vegetação secundária, que mescla bromélias
nativas e até camélias).
Quem chega ao topo -e não é
assaltado!- vê o Rio de uma
perspectiva escancarada. Nem é
preciso dia claro para avistar também o Cristo, o arquipélago das
Cagarras, com suas três ilhas
principais (Cagarras, Palmas e
Comprida), as asas-delta que
mergulham da rampa abaixo, na
direção da pedra da Gávea para,
depois, tomar o rumo do canto
direito da praia de São Conrado.
Cuidados especiais
Com 3.200 hectares, o parque da
floresta da Tijuca é a maior floresta em área urbana no mundo. Sua
biodiversidade compreende 600
espécies vegetais e 300 animais.
Micos, lagartos, cobras, pacas, tucanos e gaviões podem cruzar o
caminho, pois o parque é cortado
por trilhas densas e interligadas.
Quem explora o caminho até o
topo da pedra Bonita deve deixar
os objetos de valor no carro, no
estacionamento ao lado da rampa
de asa-delta, onde há movimento.
O ideal é colocar o pé na trilha
trajando roupa leve, levando uma
pequena mochila com água, filtro
solar, uma fruta ou um chocolate.
No lugar do documento, uma cópia autenticada. Um relógio pode
ser útil, mas relógio "roubável",
de preferência.
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