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São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 2003

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BELEZA ROUBADA

Reportagem da Folha é assaltada na pedra Bonita; veja fotos contidas nos filmes resgatados no mato

No Rio, ladrões roubam direito de ir e ver

SILVIO CIOFFI
EDITOR DE TURISMO

"Você está pensando que eu sou um bandido?" Diante da resposta negativa, aparece o revólver: "Mas eu sou!". Aliás, eram dois.
Longe de ser uma roubada, a visita ao Rio imerso na floresta da Tijuca vale até o risco. A reportagem da Folha esteve no alto da pedra Bonita (696 metros), onde foi rendida por assaltantes, entregou câmera fotográfica, celular, cartões de crédito, cheque e até a camiseta suada -mas lamentou mesmo o fato de um lugar tão especial não ter guarita nem policiamento sistemático.
Mais do que o roubo de objetos, os bandidos que rondam a pedra Bonita roubam algo insubstituível: o direito de ir e ver.
Do alto desse morro granítico situado entre os bairros de São Conrado e da Barra da Tijuca, no Parque Nacional da Floresta da Tijuca, acessível via Estrada das Canoas, a beleza do Rio deixa o espectador boquiaberto.
Numa visão de 360, ao norte, está a cara do Imperador, incrustada na pedra da Gávea (de 840m), com o mar ao fundo; a leste, a paisagem é a serra da Carioca, com os morros da Agulhinha, Chrocaine e Dois Irmãos; e, a oeste, onde o Sol se põe, avista-se a Barra da Tijuca, emoldurada por outra reserva natural, o Parque Nacional da Pedra Branca, em Jacarepaguá. As fotos desta página foram feitas instantes antes do assalto -e os filmes, recuperados pela reportagem, haviam sido jogados no mato.

Caminho nada suave
O topo da pedra Bonita está separado da rampa de onde se salta de asa-delta, a 520 m de altitude, por uma trilha difícil, de mais de 1 km. Até a rampa, pela Estrada das Canoas, o carro percorre 7 km. Já a subida da trilha, a pé, demora cerca de 40 minutos.
Muita gente desiste, pois o caminho é íngreme, começa calçado por pedras, mas passa por trechos de terra e pelo mato (há mata atlântica primária e vegetação secundária, que mescla bromélias nativas e até camélias).
Quem chega ao topo -e não é assaltado!- vê o Rio de uma perspectiva escancarada. Nem é preciso dia claro para avistar também o Cristo, o arquipélago das Cagarras, com suas três ilhas principais (Cagarras, Palmas e Comprida), as asas-delta que mergulham da rampa abaixo, na direção da pedra da Gávea para, depois, tomar o rumo do canto direito da praia de São Conrado.

Cuidados especiais
Com 3.200 hectares, o parque da floresta da Tijuca é a maior floresta em área urbana no mundo. Sua biodiversidade compreende 600 espécies vegetais e 300 animais. Micos, lagartos, cobras, pacas, tucanos e gaviões podem cruzar o caminho, pois o parque é cortado por trilhas densas e interligadas.
Quem explora o caminho até o topo da pedra Bonita deve deixar os objetos de valor no carro, no estacionamento ao lado da rampa de asa-delta, onde há movimento.
O ideal é colocar o pé na trilha trajando roupa leve, levando uma pequena mochila com água, filtro solar, uma fruta ou um chocolate. No lugar do documento, uma cópia autenticada. Um relógio pode ser útil, mas relógio "roubável", de preferência.


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