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VULCÃO DE CORES
Estrada revela mais desafios que belezas
Dividir a pista com ônibus e caminhões exige atenção enquanto o cenário desfila pela janela do carro
DA ENVIADA ESPECIAL À GUATEMALA
Plano traçado: alugar um carro em Antigua e subir a rota Interamericana (CA-1), que corta
a América Central, no sentido
noroeste, até Panajachel, às
margens do lago Atitlán.
Formado a partir da erupção
de vulcões, o lago tem 130 quilômetros quadrados, com trechos de profundidade superiores a 300 metros, e está a 1.560
metros de altitude. Das margens, a vista impressiona.
Águas límpidas, céu invariavelmente azul ou estrelado, e um
horizonte cercado por montanhas e três vulcões. O cenário
foi definido pelo escritor inglês
Aldous Huxley (1894-1963) como uma das mais maravilhosas
paisagens da Terra.
Mas não é preciso ser inglês
ou escritor para ver que Atitlán
é um lugar especial. O imenso
lago é circulado por 12 pequenas cidades e povoados, que levam, na maior parte, nomes de
apóstolos, sinais da imposição
espanhola, já que as comunidades que vivem ali são maias das
etnias tz'utuzil e kaqchikel, ex-inimigos declarados.
Nos anos 60, esse caldeirão
cultural encravado em um lugar único e de natureza ainda
intocada atraiu legiões de hippies, que ajudaram Panajachel
a receber o apelido de gringotenango. Era atrás disso que estava ao sair de Antigua.
A diária do aluguel do carro
ficou 499 quetzals (pouco mais
de US$ 70 dólares, ou R$ 140),
com seguro total e quilometragem livre. Com 130 quetzals de
gasolina, o total ficou perto de
US$ 90, ou um pouco mais de
R$ 180. No roteiro, subir cerca
de 105 quilômetros. No papel,
ok. Mas são três horas de viagem. A distância São Paulo-Campinas, de 99 quilômetros,
não leva nem bem uma hora.
A CA-1, principal estrada
guatemalteca, é apenas uma
faixa de asfalto. Bem conservada, é verdade, só que limitada a
uma pista simples na maior
parte do tempo.
Ela escoa praticamente tudo,
de gente a comida, já que liga a
capital à fronteira com o México e é cortada por vilarejos e aldeias. Saindo de Antigua, passa-se por San Felipe, Jocotenango, Pastores, Parramos,
Chimaltenango, Zaragoza, Tecpan, Água Escondida, Los Encuentros, Sololá e San Francisco Panajachel.
Tudo em meio a paisagens
deslumbrantes. Do altiplano da
CA-1, enxergam-se o vulcão
Agua e seus 3.760 metros de altura a 50 quilômetros, em Antigua. É impossível não parar e tirar fotos. Perfeito, não fosse o
fato de fazer o trajeto dirigindo
um sedã alugado de uma tonelada, brigando com caminhões
carregados e, pior: com ônibus
pilotados por camicases.
São veículos comprados nos
Estados Unidos, normalmente
aqueles modelos amarelos que
transportam estudantes, equipados aqui com motores de alta
potência de megacaminhões.
Os motoristas que dirigem
esses monstros "envenenados"
fazem 120 km/h em trechos de
subida. Se fosse só uma questão
de tráfego numa rodovia de difícil ultrapassagem, tudo bem.
Mas a viagem ganha desnecessários requintes de rali. Tanto
que, dois dias depois, decidi ir a
Chichicastenango de táxi. O
motorista cobrou US$ 90 dólares para ir e voltar. O mesmo
valor do aluguel de carro.
(PRISCILA PASTRE-ROSSI)
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