São Paulo, quinta-feira, 29 de março de 2007

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VULCÃO DE CORES

Estrada revela mais desafios que belezas

Dividir a pista com ônibus e caminhões exige atenção enquanto o cenário desfila pela janela do carro

DA ENVIADA ESPECIAL À GUATEMALA

Plano traçado: alugar um carro em Antigua e subir a rota Interamericana (CA-1), que corta a América Central, no sentido noroeste, até Panajachel, às margens do lago Atitlán.
Formado a partir da erupção de vulcões, o lago tem 130 quilômetros quadrados, com trechos de profundidade superiores a 300 metros, e está a 1.560 metros de altitude. Das margens, a vista impressiona. Águas límpidas, céu invariavelmente azul ou estrelado, e um horizonte cercado por montanhas e três vulcões. O cenário foi definido pelo escritor inglês Aldous Huxley (1894-1963) como uma das mais maravilhosas paisagens da Terra.
Mas não é preciso ser inglês ou escritor para ver que Atitlán é um lugar especial. O imenso lago é circulado por 12 pequenas cidades e povoados, que levam, na maior parte, nomes de apóstolos, sinais da imposição espanhola, já que as comunidades que vivem ali são maias das etnias tz'utuzil e kaqchikel, ex-inimigos declarados.
Nos anos 60, esse caldeirão cultural encravado em um lugar único e de natureza ainda intocada atraiu legiões de hippies, que ajudaram Panajachel a receber o apelido de gringotenango. Era atrás disso que estava ao sair de Antigua.
A diária do aluguel do carro ficou 499 quetzals (pouco mais de US$ 70 dólares, ou R$ 140), com seguro total e quilometragem livre. Com 130 quetzals de gasolina, o total ficou perto de US$ 90, ou um pouco mais de R$ 180. No roteiro, subir cerca de 105 quilômetros. No papel, ok. Mas são três horas de viagem. A distância São Paulo-Campinas, de 99 quilômetros, não leva nem bem uma hora.
A CA-1, principal estrada guatemalteca, é apenas uma faixa de asfalto. Bem conservada, é verdade, só que limitada a uma pista simples na maior parte do tempo.
Ela escoa praticamente tudo, de gente a comida, já que liga a capital à fronteira com o México e é cortada por vilarejos e aldeias. Saindo de Antigua, passa-se por San Felipe, Jocotenango, Pastores, Parramos, Chimaltenango, Zaragoza, Tecpan, Água Escondida, Los Encuentros, Sololá e San Francisco Panajachel.
Tudo em meio a paisagens deslumbrantes. Do altiplano da CA-1, enxergam-se o vulcão Agua e seus 3.760 metros de altura a 50 quilômetros, em Antigua. É impossível não parar e tirar fotos. Perfeito, não fosse o fato de fazer o trajeto dirigindo um sedã alugado de uma tonelada, brigando com caminhões carregados e, pior: com ônibus pilotados por camicases.
São veículos comprados nos Estados Unidos, normalmente aqueles modelos amarelos que transportam estudantes, equipados aqui com motores de alta potência de megacaminhões.
Os motoristas que dirigem esses monstros "envenenados" fazem 120 km/h em trechos de subida. Se fosse só uma questão de tráfego numa rodovia de difícil ultrapassagem, tudo bem. Mas a viagem ganha desnecessários requintes de rali. Tanto que, dois dias depois, decidi ir a Chichicastenango de táxi. O motorista cobrou US$ 90 dólares para ir e voltar. O mesmo valor do aluguel de carro.
(PRISCILA PASTRE-ROSSI)


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