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São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2003

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HOLANDA EM TELAS

Pintura de Vermeer, "a mais bela do mundo", tocou escritor francês que a viu no museu Mauritshuis

Quadro fez Marcel Proust desmaiar em Haia

DO ENVIADO ESPECIAL À HOLANDA

Apenas 56 quilômetros separam a horda de turistas que visita anualmente Amsterdã da "pintura mais bonita do mundo". A opinião não é deste viajante, não apenas dele. Quem qualificou "A Vista do Delft" (1660), de Johannes Vermeer, dessa forma foi ninguém mais, ninguém menos, do que Marcel Proust (1871-1922).
O escritor francês viu a tela do artista holandês, em 1902, no mesmo lugar em que ela pode ser apreciada hoje, no museu Mauritshuis, em Haia. Diz a lenda que Proust teria inclusive desmaiado ao ver a pintura, uma panorâmica de um pedaço da cidade de Delft, onde nasceu o pintor.
E é fato que, em sua obra-prima, "Em Busca do Tempo Perdido", ele descreve um romancista que morre ao descobrir que não poderia escrever tão belamente quanto Vermeer pintava. E olha que Vermeer era um desconhecido então.
O quadro já faria valer a visita a Haia e não seria o único no acervo do Mauritshuis. Nem mesmo o único de Vermeer.
É do mesmo pintor holandês, que viveu só 43 anos, a contar de 1632, a obra mais famosa do museu de Haia. Não seria exagero chamar "Moça com Brinco de Pérolas" de "Mona Lisa dos Países Baixos" -nem disparate seria achar a garota holandesa mais bela do que a de Leonardo da Vinci.
Vermeer à parte -e o museu tem ainda outra tela do artista (das menos de 40 conhecidas)- são vários os outros "brinquedos" que fazem do espaço um parque de diversões inesquecível aos admiradores da pintura.
Comecemos pelo Brasil. Mauritshuis (pronuncia-se "mauritsraus") significa "casa do Maurício". E o Maurício em questão é o nosso Maurício de Nassau, o príncipe holandês que dominou parte do Nordeste brasileiro, ocupado pela Holanda entre 1630 e 1654.
Os holandeses, pasmem, não têm a menor idéia de nada disso. "A biografia de Johan Maurits não é conhecida por aqui. A maior parte das pessoas acha que Mauritshuis se refere a outro Maurício, irmão de Frederik Hendrik", disse à Folha o curador do museu, Quentin Buvelot.
Em viagem recente ao Brasil, por conta da exposição de Albert Eckhout, ele ficou surpreso ao saber que no Brasil, sim, se sabia quem era o patrono do museu que ele dirige.
Não é só Maurício que passa batido para os holandeses. Mesmo representados na Mauritshuis, Frans Post (de quem o museu tem um estupendo "Ilha de Itamaracá", dos poucos pintados em terras brasilis) e Eckhout são nomes que não dizem muito aos súditos da rainha Beatrix.
"Eles ficaram muito isolados. Post trabalhando na cidade de Haarlem, reconstituindo as paisagens brasileiras, e Eckhout trabalhando o tempo todo fora dos Países Baixos, especialmente no Brasil e na Alemanha", diz Buvelot. Segundo ele, a influência desses artistas nos demais holandeses é "muito pequena".
(CASSIANO ELEK MACHADO)

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