|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
HOLANDA EM TELAS
Pintura de Vermeer, "a mais bela do mundo", tocou escritor francês que a viu no museu Mauritshuis
Quadro fez Marcel Proust desmaiar em Haia
DO ENVIADO ESPECIAL À HOLANDA
Apenas 56 quilômetros separam a horda de turistas que visita
anualmente Amsterdã da "pintura mais bonita do mundo". A opinião não é deste viajante, não apenas dele. Quem qualificou "A Vista do Delft" (1660), de Johannes
Vermeer, dessa forma foi ninguém mais, ninguém menos, do
que Marcel Proust (1871-1922).
O escritor francês viu a tela do
artista holandês, em 1902, no
mesmo lugar em que ela pode ser
apreciada hoje, no museu Mauritshuis, em Haia. Diz a lenda que
Proust teria inclusive desmaiado
ao ver a pintura, uma panorâmica
de um pedaço da cidade de Delft,
onde nasceu o pintor.
E é fato que, em sua obra-prima,
"Em Busca do Tempo Perdido",
ele descreve um romancista que
morre ao descobrir que não poderia escrever tão belamente quanto
Vermeer pintava. E olha que Vermeer era um desconhecido então.
O quadro já faria valer a visita a
Haia e não seria o único no acervo
do Mauritshuis. Nem mesmo o
único de Vermeer.
É do mesmo pintor holandês,
que viveu só 43 anos, a contar de
1632, a obra mais famosa do museu de Haia. Não seria exagero
chamar "Moça com Brinco de Pérolas" de "Mona Lisa dos Países
Baixos" -nem disparate seria
achar a garota holandesa mais bela do que a de Leonardo da Vinci.
Vermeer à parte -e o museu
tem ainda outra tela do artista
(das menos de 40 conhecidas)-
são vários os outros "brinquedos"
que fazem do espaço um parque
de diversões inesquecível aos admiradores da pintura.
Comecemos pelo Brasil. Mauritshuis (pronuncia-se "mauritsraus") significa "casa do Maurício". E o Maurício em questão é o
nosso Maurício de Nassau, o príncipe holandês que dominou parte
do Nordeste brasileiro, ocupado
pela Holanda entre 1630 e 1654.
Os holandeses, pasmem, não
têm a menor idéia de nada disso.
"A biografia de Johan Maurits
não é conhecida por aqui. A
maior parte das pessoas acha que
Mauritshuis se refere a outro
Maurício, irmão de Frederik Hendrik", disse à Folha o curador do
museu, Quentin Buvelot.
Em viagem recente ao Brasil,
por conta da exposição de Albert
Eckhout, ele ficou surpreso ao saber que no Brasil, sim, se sabia
quem era o patrono do museu
que ele dirige.
Não é só Maurício que passa batido para os holandeses. Mesmo
representados na Mauritshuis,
Frans Post (de quem o museu tem
um estupendo "Ilha de Itamaracá", dos poucos pintados em terras brasilis) e Eckhout são nomes
que não dizem muito aos súditos
da rainha Beatrix.
"Eles ficaram muito isolados.
Post trabalhando na cidade de
Haarlem, reconstituindo as paisagens brasileiras, e Eckhout trabalhando o tempo todo fora dos Países Baixos, especialmente no Brasil e na Alemanha", diz Buvelot.
Segundo ele, a influência desses
artistas nos demais holandeses é
"muito pequena".
(CASSIANO ELEK MACHADO)
Texto Anterior: Suíngue do jazz é o canal em Amsterdã Próximo Texto: Crime de guerra termina na cidade da rainha Índice
|