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São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2003

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MANTIQUEIRA EM AÇÃO

Moradores alegam que vila gera 75% dos impostos do município, mas não recebe benefícios

Distrito quer se separar de Camanducaia

DO ENVIADO ESPECIAL A MONTE VERDE

A julgar pela aparência pacata de Monte Verde, tudo parece correr muito bem entre seus moradores: vivem em um local belíssimo, com ar puro de montanha e cercado por atrativos naturais; o turismo aumenta a cada ano; e violência, só se for pela TV.
A verdade, nesse caso, é que as aparências enganam. Basta conversar com os habitantes desse distrito do município de Camanducaia (sul de Minas) para constatar certa insatisfação. Tanto que o assunto mais recorrente, a emancipação do distrito em relação a Camanducaia, parece ganhar força pelas suas poucas ruas.
"Cerca de 75% dos impostos recolhidos de Camanducaia são provenientes de Monte Verde. Só que quem tem as ruas asfaltadas e bem conservadas? Camanducaia, pois aqui é tudo precário", justifica a funcionária da associação comercial de Monte Verde que preferiu se identificar como Taty.
Entre as reclamações da moradora, está a falta de infra-estrutura na educação, já que a escola "está em estado de abandono total". "Outro exemplo é a estrada para cá, que oferece riscos à segurança dos turistas", completa.
Já a vendedora Fabiana Bueno Barros, 22, que mora há sete anos no distrito, diz ser a favor da emancipação porque "não há quem faça algo por Monte Verde". "Não faltam atrações turísticas, mas opções de lazer para quem vive aqui não existem", diz.
Édio Moreira da Rosa, 23, e Silvano Lourenço, 25, compartilham da mesma opinião. "Não há bares, diversão como boliche nem clube. Quando queremos usar uma piscina, temos de pedir aos donos de hotéis", diz Rosa.
"O problema é que falta visão de turismo para a Prefeitura de Camanducaia. Monte Verde recebe um número grande de investimentos do setor hoteleiro. Mas não tem infra-estrutura para abrigar toda essa gente", complementa Lourenço, que trabalha com turismo há 16 anos.
Ao mesmo tempo, os moradores temem que progressos como a pavimentação da estrada que liga o distrito a Camanducaia possam desconfigurar o ar pacífico que ainda reina absoluto na região.
"É um risco. Mas, localizado em uma área de proteção ambiental, onde não pode haver desmatamentos nem construção de prédios, e cercado por uma reserva da Melhoramentos [empresa de papel e celulose", dificilmente o distrito sofrerá uma explosão demográfica", analisa Taty.
"Estamos fechados entre as montanhas. Não dá para virar uma Campos do Jordão, e isso é algo que não queremos de forma alguma", esclarece Lourenço.
A Folha tentou conversar durante uma semana com funcionários da Prefeitura de Camanducaia, entre eles o prefeito e o chefe de gabinete. Após repassar a responsabilidade do assunto a várias pessoas, ninguém respondeu. Entre as justificativas, "falta de tempo hábil para a resposta".
Já a assessoria de comunicação do líder do governo na Assembléia Legislativa do Estado de Minas, Alberto Pinto Coelho, enviou à Folha documentos afirmando que "a competência da Assembléia Legislativa de Minas Gerais está adstrita à alteração de topônimos e anexação de distritos". (CÁSSIO AOQUI)

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