|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MANTIQUEIRA EM AÇÃO
Moradores alegam que vila gera 75% dos impostos do município, mas não recebe benefícios
Distrito quer se separar de Camanducaia
DO ENVIADO ESPECIAL A MONTE VERDE
A julgar pela aparência pacata
de Monte Verde, tudo parece correr muito bem entre seus moradores: vivem em um local belíssimo, com ar puro de montanha e
cercado por atrativos naturais; o
turismo aumenta a cada ano; e
violência, só se for pela TV.
A verdade, nesse caso, é que as
aparências enganam. Basta conversar com os habitantes desse
distrito do município de Camanducaia (sul de Minas) para constatar certa insatisfação. Tanto que
o assunto mais recorrente, a
emancipação do distrito em relação a Camanducaia, parece ganhar força pelas suas poucas ruas.
"Cerca de 75% dos impostos recolhidos de Camanducaia são
provenientes de Monte Verde. Só
que quem tem as ruas asfaltadas e
bem conservadas? Camanducaia,
pois aqui é tudo precário", justifica a funcionária da associação comercial de Monte Verde que preferiu se identificar como Taty.
Entre as reclamações da moradora, está a falta de infra-estrutura na educação, já que a escola
"está em estado de abandono total". "Outro exemplo é a estrada
para cá, que oferece riscos à segurança dos turistas", completa.
Já a vendedora Fabiana Bueno
Barros, 22, que mora há sete anos
no distrito, diz ser a favor da
emancipação porque "não há
quem faça algo por Monte Verde". "Não faltam atrações turísticas, mas opções de lazer para
quem vive aqui não existem", diz.
Édio Moreira da Rosa, 23, e Silvano Lourenço, 25, compartilham da mesma opinião. "Não há
bares, diversão como boliche nem
clube. Quando queremos usar
uma piscina, temos de pedir aos
donos de hotéis", diz Rosa.
"O problema é que falta visão de
turismo para a Prefeitura de Camanducaia. Monte Verde recebe
um número grande de investimentos do setor hoteleiro. Mas
não tem infra-estrutura para abrigar toda essa gente", complementa Lourenço, que trabalha com turismo há 16 anos.
Ao mesmo tempo, os moradores temem que progressos como a
pavimentação da estrada que liga
o distrito a Camanducaia possam
desconfigurar o ar pacífico que
ainda reina absoluto na região.
"É um risco. Mas, localizado em
uma área de proteção ambiental,
onde não pode haver desmatamentos nem construção de prédios, e cercado por uma reserva
da Melhoramentos [empresa de
papel e celulose", dificilmente o
distrito sofrerá uma explosão demográfica", analisa Taty.
"Estamos fechados entre as
montanhas. Não dá para virar
uma Campos do Jordão, e isso é
algo que não queremos de forma
alguma", esclarece Lourenço.
A Folha tentou conversar durante uma semana com funcionários da Prefeitura de Camanducaia, entre eles o prefeito e o chefe
de gabinete. Após repassar a responsabilidade do assunto a várias
pessoas, ninguém respondeu. Entre as justificativas, "falta de tempo hábil para a resposta".
Já a assessoria de comunicação
do líder do governo na Assembléia Legislativa do Estado de Minas, Alberto Pinto Coelho, enviou
à Folha documentos afirmando
que "a competência da Assembléia Legislativa de Minas Gerais
está adstrita à alteração de topônimos e anexação de distritos".
(CÁSSIO AOQUI)
Texto Anterior: Hotel alivia dia agitado Próximo Texto: Vila tem clima de romance desde fundação Índice
|