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MAKING OF
Apenas seis atrações contam com o sistema de 'closed caption', todas da Globo
Legendagem de programas ainda é pouco utilizada na TV brasileira
CRISTIAN KLEIN
DA SUCURSAL DO RIO
O BRASIL tem cerca de 4 milhões de
surdos e deficientes auditivos. Hoje,
essa população só tem acesso ao que é falado na TV por meio do "closed caption". O sistema de legendagem, inventado nos EUA há duas décadas, chegou
por aqui em 97. Apenas o "Jornal Nacional", da Globo, exibia. Agora, a emissora
já utiliza o sistema no "Fantástico",
"Programa do Jô", "Bom-Dia, Brasil",
"Jornal Hoje" e "Jornal da Globo".
Duas estenotipistas são responsáveis
pelo trabalho, que exige uma rapidez de
digitar, em média, 160 palavras por minuto. "É preciso uma concentração incrível, sobretudo nos telejornais, quando
trabalhamos em tempo real", afirma Simone Cristina Alvez, 28. Há dois anos,
Simone passou a revezar o trabalho de
"closed caption" com Débora Garcia
Santos, 20. "De vez em quando, a gente
se embanana. Tem repórter que fala rápido demais. O pior é o Cléber Machado
(locutor), que chega a falar 187 palavras
por minuto", conta Débora.
O serviço das moças é auxiliado por
uma maquininha especial, um estenógrafo computadorizado. Ele tem 24 teclas. Para digitar uma palavra como jornalismo, elas apertam 11 teclas. Todas ao
mesmo tempo. Isso é o que possibilita a
agilidade. Outro detalhe: as palavras não
são digitadas conforme a ortografia. Vale
a fonética aproximada. Um programa de
computador busca a palavra mais semelhante num dicionário.
Por causa disso, o sistema não é perfeito. "Certa vez, o programa buscou a palavra errada e entrou um "bunda" no ar. A
partir daí, tiramos os palavrões do dicionário", lembra, rindo, Paulo Roberto
André dos Santos, diretor da divisão de
engenharia de exibição da Globo.
Há momentos em que Simone e Débora não precisam digitar. É quando os
apresentadores dos telejornais lêem a
notícia do teleprompter. Esse texto entra
direto na transmissão. Em compensação, as estenotipistas se desdobram
quando surgem diálogos.
"No "Bom-Dia, Brasil", às vezes aparecem três apresentadores ao mesmo tempo, um de São Paulo, outro do Rio e um
terceiro de Brasília. Mas, quando não dá
para pegar tudo, a gente põe a idéia principal", conta Débora. No caso do "Jornal
Nacional", que é produzido no Rio, a
transcrição é feita em São Paulo, e os dados são enviados por telefone, via modem, para o Rio, e de lá para o satélite.
O "closed caption" é um serviço terceirizado pela Globo. O equipamento e as
funcionárias são da Steno do Brasil, empresa paulista que oferece outros serviços de estenografia, como transcrição de
reuniões de negócios. "Temos 12 estenotipistas. Mas o "closed caption" é o top do
nosso trabalho. Estamos treinando mais
quatro estenotipistas. Mas encontrar um
profissional desse é quase como achar
um virtuose no piano", afirma Wagner
Médici, dono da Steno Brasil.
Nos EUA, a lei obriga que toda a programação da TV tenha o sistema. No
Brasil, desde 1996, há um projeto de lei
no Senado para que o "closed caption"
entre em pelo menos 50% da programação nacional. A Globo já recebeu vários
pedidos de espectadores. O próximo
programa pode ser o "Casseta e Planeta".
"Eu preciso garantir um padrão de
qualidade, com no máximo 5% de erros.
Equipamento nós temos. O difícil é a
mão-de-obra. Além da velocidade, é preciso dominar o português e ter conhecimentos gerais", diz Médici.
Parte dos erros se deve a palavras novas, que surgem inesperadamente e não
constam no dicionário. "A cada dia, anotamos mais 60 palavras novas. O grande
problema são os nomes próprios, sobretudo os estrangeiros", afirma Simone.
As novelas, gravadas previamente, poderiam receber o sistema com uma legendagem caprichada. "Seria mais fácil.
Mas se houvesse mais tempo. Às vezes,
um capítulo de novela fica pronto poucas horas antes de ir ao ar. No jornalismo, apesar dos erros, já temos um processo de trabalho consolidado. Com novelas, teríamos problemas que não dependeriam da gente", diz Santos.
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