São Paulo, domingo, 05 de março de 2000


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MARATONA MUSICAL
Emissora relança evento musical que, nos anos 80, revelou Oswaldo Montenegro e Guilherme Arantes
Globo quer evitar pagode e sertanejo em festival

DA SUCURSAL DO RIO

O RELANÇAMENTO do Festival de Música Brasileira, promovido pela Rede Globo, é motivado por uma busca de músicas mais criativas. A definição é do diretor Roberto Talma, que gerencia a realização do evento.
"Está faltando mais criatividade na nossa música. Apareceram alguns nomes nos últimos anos, mas caiu muito a qualidade. Se pudermos nos desligar dos pagodes malfeitos e dos sertanejos quase mexicanos, o festival já vai ter cumprido o seu papel", afirma Talma.
Embora reclame da qualidade da música na TV, Talma foi o responsável por um dos maiores fracassos da Globo em 99, o programa "Samba, Pagode e Cia.", com Netinho, do Negritude Jr., e Salgadinho, do Katinguelê, exatamente na linha que agora ele condena.
Ele diz que, se não aumentar a qualidade das músicas, o festival vai, ao menos, criar novos nomes para serem apresentados nos programas de auditório. "Não há artistas para tantos programas ao mesmo tempo. Talvez ajude a parar de repetir as mesmas coisas", afirma.
Na fase de inscrição, que vai até o dia 15 de março, deverão ser distribuídos 60 mil kits em todo o Brasil. Até a semana passada, 8.000 inscrições já tinham chegado à emissora.
Quando essas composições chegam, são cadastradas em um banco de dados e distribuídas para a comissão julgadora, formada por 18 a 20 pessoas cujos nomes Talma promete não revelar.
"Os autores das músicas viram números para evitar favorecimento a um eventual competidor que já seja famoso. A comissão vai ser secreta ou a vida dos julgadores vai virar um inferno", diz.
Das milhares de composições, sobrarão apenas 48, que competirão em quatro eliminatórias semanais, a partir de 23 de agosto, no Credicard Hall, em São Paulo. A grande final contará com 12 competidores. Os vencedores dividirão R$ 1 milhão em prêmios.
Talma afirma que o critério principal para a escolha será o bom senso. "Vamos estar atentos às boas letras e melodias que surgirem, faremos as escolhas com muito bom gosto."
Julgando somente pela quantidade de candidatos, a disputa já seria acirrada. Mas Talma se encarregou de criar mais algumas dificuldades para quem quiser inscrever seu trabalho. A principal delas é a exigência do envio da música gravada em um CD ou em DAT (fita digital).
"Isso evita que uma pessoa com um gravador caseiro mande sua música para nós. Queremos gente que realmente queira ser artista, que esteja disposta a enfrentar dificuldades e a fazer sacrifícios. Além do mais, CDs e DATs são coisas que qualquer músico consegue gravar hoje em dia", afirma.
Ao se inscrever, o candidato deve preencher um documento que libera sua música para execução na Globo do momento da inscrição a até 60 dias após o fim do festival. Só é permitida a inscrição de uma música por autor.
Após selecionadas, as músicas ganharão videoclipes que serão exibidos durante a programação da Globo. Mas para o artista, cantor ou compositor que acha que vai ficar famoso na tela da Globo, poderá acontecer uma decepção.
Segundo o regulamento estabelecido pela emissora, será a Globo que escolherá quem interpretará a canção e os músicos que farão os arranjos para o festival.
A Globo não apresentará somente videoclipes com as atrações deste ano. Nos meses de junho, julho e agosto serão mostrados programetes diários nos quais a história dos festivais da canção, desde os anos 60, será lembrada.
"Será uma forma de aquecer o público e despertar neles as lembranças dos melhores momentos", diz Talma. Os festivais na TV revelaram artistas da categoria de Gilberto Gil e Caetano Veloso, além de Tom Zé, Geraldo Vandré e Oswaldo Montenegro.
Outro componente importante do festival será a participação popular. Nos dez dias entre a quarta eliminatória, no dia 13 de setembro, e a final, no dia 23, os espectadores poderão votar em sua música preferida por telefone, carta, e-mail ou fax.
O diretor acha que o festival abrirá novas possibilidades no cenário musical brasileiro. "Será um termômetro da nova música brasileira, que ninguém mais sabe bem qual é. Poderemos saber quais são os gêneros em ascensão, o que as pessoas estão produzindo. Com certeza, não é mais o pagode nem a axé music", analisa.


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