São Paulo, domingo, 07 de julho de 2002

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OLHAR ESTRANGEIRO

Diretor da CNN diz que microcâmera fere a ética


Harris Whitbeck, que veio do México para cobrir a festa do penta, afirma que repórteres da rede usam esse recurso cada vez menos


CARLA MENEGHINI
DA REPORTAGEM LOCAL

ATÉ que enfim o correspondente e diretor da sucursal do México da CNN, Harris Whitbeck, 37, acompanhou um assunto agradável. Escalado para cobrir os atentados de 11 de setembro, a guerra no Afeganistão e a guerrilha na Colômbia, Whitbeck esteve no Brasil na semana passada para mostrar as comemorações da vitória na Copa.
Em entrevista à Folha, o jornalista falou sobre sua missão no país, o caso Tim Lopes e o uso de microcâmeras na CNN.

Por que a CNN decidiu cobrir com detalhes a reação dos brasileiros ao pentacampeonato?
Este país é tão unicamente apaixonado por futebol que a Copa é uma ótima história para contar ao resto do mundo. Além disso, é a chance de, para variar, falar de coisas boas. Neste ano, estive no Afeganistão, na Colômbia, na Guatemala, cobrindo conflitos violentos. Cobrir uma festa alegre como essa, num país como o Brasil, é um presente para mim.
Faltam notícias boas sobre a América Latina na CNN?
Acho que sim. Sempre que parto para uma cobertura, me pergunto: por que estou sempre dando notícias ruins? Infelizmente, coisas terríveis acontecem na América Latina, e é obrigação da CNN mostrá-las ao mundo. Acaba faltando espaço para as notícias agradáveis.
Você tomou conhecimento do caso Tim Lopes? Como ele repercutiu no exterior?
Claro. Foi uma notícia de grande impacto fora do Brasil, ao menos no meio jornalístico. É muito preocupante.
A CNN permite o uso de microcâmeras escondidas em reportagens?
A CNN costumava usá-las no passado, mas somente se não houvesse outra forma de fazer a reportagem. Hoje, esse uso é ainda mais restrito, para não dizer raro, não só por causa da segurança, mas, principalmente, por motivos éticos. Mostrar a imagem de alguém sem o seu consentimento é contra a política da CNN, sustentada pelo comitê de ética.
Quais são as regras da CNN para o uso das microcâmeras?
Além de esquemas de segurança, os repórteres passam por um treinamento intensivo. Aliás, sempre que partimos para qualquer cobertura que envolva conflito armado, enfrentamos no mínimo uma semana de treinamento, em que aprendemos a operar em áreas de perigo e a enfrentar possíveis interrogatórios.
Você já fez matérias com microcâmeras?
Não, e estou na CNN há 11 anos.
Você faria?
Sim. Sei que a CNN só faria isso se fosse absolutamente necessário e seguro.
O que você acha da tentativa do governo israelense de tirar a CNN do ar no país?
Não posso comentar esse caso porque não respondo pela CNN.
Quais prêmios você recebeu?
Recentemente, recebi dois prêmios "National Headliner": um por uma reportagem sobre a atuação do Hizbollah na fronteira entre Brasil e Argentina; outro pela cobertura do atentado de 11 de setembro. O melhor não é ganhar um prêmio, mas testemunhar esses momentos históricos.



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