São Paulo, Domingo, 10 de Outubro de 1999
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ARTIGO

'Pokémon' é auto-ajuda para crianças

ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha

"Pokémon" é a coqueluche infantil do momento. E não é para leigos. Não é fácil entender a lógica dos heróis japoneses que fascinam as crianças.
O desenho animado tem as cores claras dos cartoons orientais. Os olhões redondos dos personagens humanos, crianças que treinam esses bichinhos estranhos, também trazem a marca das produções orientais. Mas o desenho é sucesso no Brasil e nos EUA.
A história narra as aventuras de quatro heróis infantis -mestrinhos treinadores de 151 monstros Pokémon. Os Pokémon defendem causas boas e, ao fazê-lo, melhoram sua auto-estima, crescem e evoluem.
Os Pokémon são as armas dos meninos treinadores na sua luta pelo bem, uma luta que guarda alguma semelhança com uma gincana contra equipes do mal. Monstrinhos e treinadores têm sentimento. E treinar um Pokémon significa também estar sensível aos seus amores e horrores. A relação entre treinador e treinado é sentimental.
E o universo é o do crescimento. Os 151 bichos-heróis-domesticados são divididos em cinco tipos: veneno, água, elétrico, fogo e psíquico. Há o grupo dos Pokémon básicos, formas suporte a evoluções que guardam alguma semelhança com a natureza. Os Beedrill, por exemplo, meio abelha, meio borboleta, são formas resultantes da transformação de uma "larva" chamada Kahuna.
Talvez o fascínio do desenho tenha a ver com a tematização do crescimento do ponto de vista das crianças. Aqui elas estão no posto de comando. Crianças domam seres poderosos, que evoluem em direção a formas mais fortes. O Machop se transforma em Machoke e em Machamp, o Pokémon superpoderoso.
Os Pokémon são meio auto-ajuda infantil. A luta dos personagens vem sempre reforçada por metas de reforço pessoal. O desenho ritualiza as passagens da vida com referências cosmológicas totalizantes, que vão do mistério das larvas às estrelas. Cada episódio termina com uma lição de moral.
A sensação de desperdício é inevitável. Não que o desenho traga em si algum mal irreparável. Mas também não há por que ser condescendente com algo que não se esforça para estimular a criatividade.


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