São Paulo, domingo, 12 de novembro de 2000

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CARTÃO VERMELHO
Em comparação com o Brasileiro-99, ibope médio caiu de 24,6 para 20,6 pontos em São Paulo, o que significa uma perca de 240 mil aficionados; para a emissora carioca, a culpa é dos clubes, e não da Copa João Havelange
Futebol 'expulsa' espectadores da Globo este ano

Caio Guatelli - 6.ago.00/Folha Imagem
Com o estádio do Morumbi praticamente às moscas, torcedor do Santa Cruz comemora um ataque do time pernambucano contra o São Paulo, em jogo válido pela fase classificatória da Copa João Havelange


CRISTIAN KLEIN
DA SUCURSAL DO RIO

FIASCO da seleção olímpica em Sydney, campeonatos mal organizados, CPIs da Câmara e do Senado. Não são poucos os motivos apontados para a queda dos índices de audiência do futebol na televisão. Os respingos do "mar de lama" atingiram a Globo. A média do Ibope do Campeonato Brasileiro do ano passado, que foi de 24,6 pontos, caiu para 20,6 pontos, com os jogos da Copa João Havelange, um torneio criticado pelo regulamento confuso e pela "virada de mesa", puxando times da segunda para a primeira divisão.
Os dados são relativos à audiência na cidade de São Paulo, pegando um mesmo período das duas competições (julho, agosto, setembro e outubro). A queda de audiência representou até agora para a Globo uma "fuga" de 240 mil espectadores das suas transmissões do campeonato nacional de 1999 para o de 2000, apenas na capital paulista.
"Inventaram essa Copa João Havelange, um campeonato em que a primeira fase não serve para nada, e os últimos colocados não descem", critica José Trajano, diretor do canal de esportes ESPN Brasil. O excesso de jogos é outra causa na opinião do jornalista Juca Kfouri. "A Globo está pagando o preço da banalização, da overdose de maus espetáculos", afirma o comentarista.
Pelo contrato com seus anunciantes, a Globo tem a obrigação de transmitir no mínimo 105 jogos por ano, incluindo outros campeonatos. A meta deste ano já foi cumprida. "O problema não é o número de jogos nem a Copa João Havelange. Jogo bom depende dos times, não depende de campeonato", defende Júlio Mariz, diretor de desenvolvimento de novos negócios da Globo Esportes, empresa de marketing esportivo das Organizações Globo.
A culpa pelos baixos índices da Copa João Havelange, segundo Mariz, tem uma explicação. "Os times do Corinthians e do Palmeiras estão mal, e isso reflete na audiência. É um problema localizado em São Paulo. No resto do país, a audiência vai bem", afirma Mariz.
Não é o que dizem os números. Segundo o Painel Nacional de Televisão (PNT), com dados de 12 regiões metropolitanas, a audiência da Globo caiu de 24,5 pontos para 22,6. Cada ponto do PNT equivale a 200 mil espectadores. Logo, a Globo perdeu cerca de 400 mil espectadores em todo o Brasil, em relação ao Campeonato Brasileiro de 99.

Valores
O concorrente SBT comemora. "Estamos assistindo a tudo isso de camarote. Torcemos para que a Globo continue transmitindo futebol. Estamos em grande vantagem", afirma Mauro Lissoni, diretor de programação do SBT.
Segundo Lissoni, o SBT vem ganhando de todas as partidas de futebol transmitidas pela Globo aos domingos, com o "Domingo Legal", apresentado por Gugu, e às quartas, com o "Show do Milhão", apresentado por Silvio Santos.
"No mês passado, só perdemos uma vez, quando o jogo Venezuela x Brasil ganhou do Gugu, por 24 a 21", afirma Lissoni. O diretor do SBT enumera outras vitórias de outubro: "Domingo Legal" 26 contra 24 (Guarani x Corinthians), "Domingo Legal" 24 contra 19 (Ponte Preta x Palmeiras), "Show do Milhão" 25 contra 24 (Sport x Corinthians) e "Domingo Legal" 20 contra 17 (Juventude x São Paulo).
"A Globo tentou mudar o futebol para a terça-feira e pegou nossos filmes. Nossa grade está ótima", vibra Lissoni.
Após a criação da Copa João Havelange, a Globo já previa o resultado. Prova disso é que, durante as negociações com o Clube dos 13, entidade que reúne os maiores clubes do Brasil, a empresa exigiu a extensão de seu contrato de direito de transmissão por mais um ano.
"Pagamos a mesma coisa que nos outros anos (R$ 83 milhões) pela João Havelange. Mas nosso contrato agora vai até 2004", disse Júlio Mariz.
Para diminuir os custos com o futebol, a Globo Esportes vem tentando revender seus direitos para outras emissoras, como a Rede TV! e a Record.
Seus gastos em direitos de transmissão chegam a R$ 300 milhões por ano, incluindo outros campeonatos, como os estaduais. Desse total, R$ 200 milhões são abatidos com o patrocínio de cinco anunciantes. "A nossa intenção é baixar o custo de transmissão porque estamos pagando essa conta sozinhos, (os direitos) aumentaram muito", afirma Mariz.
O coordenador de esportes da Record, Eduardo Zerbini, confirma a negociação com a Globo, apesar da bola murcha do futebol. Na sua opinião, esse quadro é "circunstancial". "Temos interesse em transmitir futebol, mas o maior empecilho é encaixá-lo na nossa grade de programação. Não podemos botá-lo aos sábados no lugar de um programa de boa audiência como o Raul Gil."
Além da Globo, a Bandeirantes vem amargando baixos índices de audiência com suas transmissões de futebol, que tradicionalmente sempre foram uma garantia de bom ibope. "Perdemos 20% em relação ao ano passado", lamenta J. Hawilla, sócio da empresa de marketing Traffic, que responde pela programação esportiva da Bandeirantes.
"O torcedor não é estúpido. A falta de credibilidade atinge o futebol cada vez que são mudadas as regras. A CPI também derruba o futebol", afirma.
Procurado pela Folha, o Clube dos 13 não quis comentar as críticas a respeito da organização da Copa João Havelange.



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