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CARTÃO VERMELHO
Em comparação com o Brasileiro-99, ibope médio caiu de 24,6 para 20,6 pontos em São Paulo, o que significa uma perca de 240 mil aficionados; para a emissora carioca, a culpa é dos
clubes, e não da Copa João Havelange
Futebol 'expulsa' espectadores da Globo este ano
Caio Guatelli - 6.ago.00/Folha Imagem
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Com o estádio do Morumbi praticamente às moscas, torcedor do Santa Cruz comemora um ataque do time pernambucano contra o São Paulo, em jogo válido pela fase classificatória da Copa João Havelange |
CRISTIAN KLEIN
DA SUCURSAL DO RIO
FIASCO da seleção olímpica em
Sydney, campeonatos mal organizados, CPIs da Câmara e do Senado. Não
são poucos os motivos apontados para a
queda dos índices de audiência do futebol na televisão. Os respingos do "mar de
lama" atingiram a Globo. A média do
Ibope do Campeonato Brasileiro do ano
passado, que foi de 24,6 pontos, caiu para
20,6 pontos, com os jogos da Copa João
Havelange, um torneio criticado pelo regulamento confuso e pela "virada de mesa", puxando times da segunda para a
primeira divisão.
Os dados são relativos à audiência na
cidade de São Paulo, pegando um mesmo período das duas competições (julho, agosto, setembro e outubro). A queda de audiência representou até agora
para a Globo uma "fuga" de 240 mil espectadores das suas transmissões do
campeonato nacional de 1999 para o de
2000, apenas na capital paulista.
"Inventaram essa Copa João Havelange, um campeonato em que a primeira
fase não serve para nada, e os últimos colocados não descem", critica José Trajano, diretor do canal de esportes ESPN
Brasil. O excesso de jogos é outra causa
na opinião do jornalista Juca Kfouri. "A
Globo está pagando o preço da banalização, da overdose de maus espetáculos",
afirma o comentarista.
Pelo contrato com seus anunciantes, a
Globo tem a obrigação de transmitir no
mínimo 105 jogos por ano, incluindo outros campeonatos. A meta deste ano já
foi cumprida. "O problema não é o número de jogos nem a Copa João Havelange. Jogo bom depende dos times, não
depende de campeonato", defende Júlio
Mariz, diretor de desenvolvimento de
novos negócios da Globo Esportes, empresa de marketing esportivo das Organizações Globo.
A culpa pelos baixos índices da Copa
João Havelange, segundo Mariz, tem
uma explicação. "Os times do Corinthians e do Palmeiras estão mal, e isso reflete na audiência. É um problema localizado em São Paulo. No resto do país, a
audiência vai bem", afirma Mariz.
Não é o que dizem os números. Segundo o Painel Nacional de Televisão (PNT),
com dados de 12 regiões metropolitanas,
a audiência da Globo caiu de 24,5 pontos
para 22,6. Cada ponto do PNT equivale a
200 mil espectadores. Logo, a Globo perdeu cerca de 400 mil espectadores em todo o Brasil, em relação ao Campeonato
Brasileiro de 99.
Valores
O concorrente SBT comemora. "Estamos assistindo a tudo isso de camarote.
Torcemos para que a Globo continue
transmitindo futebol. Estamos em grande vantagem", afirma Mauro Lissoni, diretor de programação do SBT.
Segundo Lissoni, o SBT vem ganhando
de todas as partidas de futebol transmitidas pela Globo aos domingos, com o
"Domingo Legal", apresentado por Gugu, e às quartas, com o "Show do Milhão", apresentado por Silvio Santos.
"No mês passado, só perdemos uma
vez, quando o jogo Venezuela x Brasil
ganhou do Gugu, por 24 a 21", afirma
Lissoni. O diretor do SBT enumera outras vitórias de outubro: "Domingo Legal" 26 contra 24 (Guarani x Corinthians), "Domingo Legal" 24 contra 19
(Ponte Preta x Palmeiras), "Show do Milhão" 25 contra 24 (Sport x Corinthians)
e "Domingo Legal" 20 contra 17 (Juventude x São Paulo).
"A Globo tentou mudar o futebol para
a terça-feira e pegou nossos filmes. Nossa grade está ótima", vibra Lissoni.
Após a criação da Copa João Havelange, a Globo já previa o resultado. Prova
disso é que, durante as negociações com
o Clube dos 13, entidade que reúne os
maiores clubes do Brasil, a empresa exigiu a extensão de seu contrato de direito
de transmissão por mais um ano.
"Pagamos a mesma coisa que nos outros anos (R$ 83 milhões) pela João Havelange. Mas nosso contrato agora vai
até 2004", disse Júlio Mariz.
Para diminuir os custos com o futebol,
a Globo Esportes vem tentando revender
seus direitos para outras emissoras, como a Rede TV! e a Record.
Seus gastos em direitos de transmissão
chegam a R$ 300 milhões por ano, incluindo outros campeonatos, como os
estaduais. Desse total, R$ 200 milhões
são abatidos com o patrocínio de cinco
anunciantes. "A nossa intenção é baixar
o custo de transmissão porque estamos
pagando essa conta sozinhos, (os direitos) aumentaram muito", afirma Mariz.
O coordenador de esportes da Record,
Eduardo Zerbini, confirma a negociação
com a Globo, apesar da bola murcha do
futebol. Na sua opinião, esse quadro é
"circunstancial". "Temos interesse em
transmitir futebol, mas o maior empecilho é encaixá-lo na nossa grade de programação. Não podemos botá-lo aos sábados no lugar de um programa de boa
audiência como o Raul Gil."
Além da Globo, a Bandeirantes vem
amargando baixos índices de audiência
com suas transmissões de futebol, que
tradicionalmente sempre foram uma garantia de bom ibope. "Perdemos 20% em
relação ao ano passado", lamenta J. Hawilla, sócio da empresa de marketing
Traffic, que responde pela programação
esportiva da Bandeirantes.
"O torcedor não é estúpido. A falta de
credibilidade atinge o futebol cada vez
que são mudadas as regras. A CPI também derruba o futebol", afirma.
Procurado pela Folha, o Clube dos 13
não quis comentar as críticas a respeito
da organização da Copa João Havelange.
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