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PEGOU PESADO
Brincadeira mostrava rapaz oferecendo "cocaína" ao cantor Rafael, que está em tratamento para se livrar do vício
Pegadinha com "droga" dá mais ibope a Mallandro
CLÁUDIA CROITOR
ERIKA SALLUM
DA REPORTAGEM LOCAL
A CENA foi suficiente para provocar
asco: o cantor Rafael, 27, ex-integrante do grupo Polegar que nos últimos
meses virou notícia ao engolir pilhas e isqueiros em recaídas em seu tratamento
contra o vício das drogas, entra no camarim do programa "Festa do Mallandro",
da TV Gazeta, no último dia 5.
Após um breve bate-papo, um rapaz
que estava no local oferece "cocaína" para o cantor. Exaltado, Rafael recusa a
droga e, ofegante, parte para cima dele,
aos socos e pontapés. A briga dura cerca
de 15 minutos, com requintes de crueldade: com a chegada do apresentador Sérgio Mallandro, o rapaz inverte a situação e acusa Rafael de lhe ter convidado a
"cheirar". Mais alguns minutos de tortura e Mallandro revela ao já abatido cantor que tudo não passou de uma... pegadinha!
A "brincadeira", segundo Mallandro, teve o "objetivo de
fazer o bem para o Rafael, mostrando para o país inteiro
que ele não tem mais nada a ver com drogas". Coincidentemente ou não, a boa intenção do apresentador refletiu diretamente na audiência -normalmente com média de cinco
pontos no Ibope (cada ponto equivale a 80 mil telespectadores na Grande São Paulo), o programa conseguiu picos
de 11 pontos durante a exibição da pegadinha.
E mais: na última terça-feira, a mesma brincadeira alavancou o Ibope do "Mulheres", também da TV Gazeta, que
chamou Mallandro e Rafael para "debater" a pegadinha
com outros convidados, entre os quais Vanessa Schultz, ex-namorada do tenista Guga, e Ricardo Macchi, mais conhecido por sua interpretação do cigano Igor numa antiga novela da Globo. A discussão rendeu picos de 13 pontos ao
"Mulheres", acostumado a uma média de cinco pontos.
Para responder às críticas de que sua pegadinha teria sido
de extremo mau gosto, Mallandro apenas declara: "O Rafael me disse que foi o melhor momento da vida dele. Claro
que as minhas pegadinhas sempre têm o propósito de levantar o Ibope do programa, mas dessa vez foi diferente, foi
para dar força a um amigo".
Recém-saído de um tratamento espiritual para ajudá-lo a
superar o vício, Rafael está em plena campanha promocional de seu novo CD e evita se indispor com o apresentador.
"Tudo isso mexeu psicologicamente comigo. Mas entendo
a intenção do Mallandro, que foi a de me ajudar. Não quero
pensar que ele possa ter feito a pegadinha pensando apenas
no Ibope", diz o cantor, que nega veementemente que tudo
não passou de uma armação.
"Eu não sabia de nada, fui pego de surpresa e entrei em pânico quando vi a cocaína. Jamais iria me expor daquele jeito
conscientemente."
Supondo que, de fato, Rafael não sabia
que seria vítima de uma pegadinha, a
brincadeira de Mallandro foi de "alto risco", de acordo com o psiquiatra Dartiu
Xavier da Silveira, coordenador do
Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes, da Universidade Federal de São Paulo).
"O processo de superação da dependência química é repleto de recaídas.
Uma pessoa nessas condições não deve
ser exposta às drogas dessa maneira,
ainda mais tão publicamente. Só de ver a
droga, ela pode ter reações físicas terríveis. No mínimo, foi uma brincadeira
sádica", afirma Silveira.
Para a psicóloga Ana Olmos, uma das
fundadoras da ONG TVer, que estuda o
conteúdo exibido pela TV brasileira, é
extremamente perigoso brincar com
drogas na televisão -ainda mais no horário em que a pegadinha foi ao ar, por
volta das 22h30: "É um vale-tudo e uma
inconsequência sem tamanho. Um
apresentador, no mínimo, deve ter consciência de sua responsabilidade social.
Tudo o que é mostrado na TV tem um
efeito em quem assiste. Qual o impacto
dessa pegadinha no telespectador?".
Para a psicóloga, Rafael não tem "noção, mesmo que tudo não tenha passado de uma armação, de que foi vítima de um marketing truculento e agressivo". "Não se brinca assim com
uma pessoa vulnerável como ele. E não se mostra cocaína, mesmo que de "mentirinha", do jeito
que foi mostrado."
Mallandro -que no "Mulheres" chegou a rasgar uma revista "Veja" que trazia na capa uma
reportagem sobre maconha, dizendo que "isso,
sim, é apologia das drogas"- se defende e afirma que sua pegadinha serviu, no final das contas, para Rafael "dar uma lição de vida" ao recusar a cocaína: "A partir de agora, quem for oferecer droga para ele vai ficar com medo de levar
porrada".
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