São Paulo, domingo, 16 de fevereiro de 1997.

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CAPA
Novela expõe `marquetingue' político

Divulgação
Ary Fontoura, Eva Wilma e Claudio Marzo em cena de "A Indomada"


do enviado especial

A novela ``A Indomada'', apesar de não ter compromisso com a realidade -como a panfletária ``O Rei do Gado''-, promete denunciar sutilmente o preconceito social (contra pobres, negros e prostitutas), o machismo e a corrupção.
Segundo o co-autor Ricardo Linhares, o núcleo de políticos de Greenville -que inclui o prefeito Ypiranga, o ex-ministro Pitágoras e a ``oposição''- reflete o Brasil. ``Todos brigam para mandar na cidade. Isso é o Brasil'', diz, antecipando que o tema reeleição deve entrar na trama.
Para Paulo Betti, 44, o prefeito Ypiranga, seu personagem é uma síntese de políticos brasileiros.
``Ele só se preocupa com efeitos, com o `marquetingue'. Quer obras faraônicas. Cria factóides. Tem um pouco do César Maia (ex-prefeito do Rio) e do Paulo Maluf'', conta.
Para Betti, a denúncia mais visível da trama é ``o ridículo de se tentar falar inglês, de se afirmar numa língua estrangeira.''
Na novela, a elite de Greenville (pronuncia-se, no caso, ``Gréinvile'') costuma usar expressões inglesas, no meio de falas em português, com sotaque nordestino. ``Love'' (amor) e ``Ó xit'' (de ``Oh, shit'', ``ô, merda'') são frequentes no vocabulário. Logo no início da novela, uma personagem irá dizer ao marido, ameaçadora: ``Você vai ver com quantos paus se faz um `Queen Elizabeth' (nome de um navio)''.
Para Linhares, ``o brasileiro tem mania de achar que tudo que é estrangeiro é melhor. No Brasil, não existe mais liquidação. Agora, é tudo `sale', `off''', diz, referindo-se a cartazes que anunciam promoções em lojas.
O ator Paulo Betti não acha isso uma questão irrelevante. ``É cruel, excludente. Imagina uma pessoa humilde que vê uma placa na rua e não sabe o que está escrito!'', exemplifica.
``O que mais me agrada na novela é essa crítica. Somos macaquitos querendo falar inglês a 40 graus na sombra'', diz.
``A novela não é politicamente correta. O povo está morrendo de fome, a situação política é uma piada e ninguém faz nada. A situação é tragicômica mesmo'', afirma -na sinopse de ``A Indomada''- o diretor Paulo Ubiratan. (DANIEL CASTRO)


INDOMÁVEIS

A novela ``A Indomada'' deverá ter 180 capítulos, que custarão, cada um, entre R$ 60 mil e R$ 100 mil, segundo o diretor-geral Paulo Ubiratan. Será substituída, no final do ano, por uma trama de Gilberto Braga.


A protagonista da novela, a princípio, seria Claudia Abreu, segundo Ubiratan. ``Queríamos alguém que fosse frágil no começo e surpreendesse quando voltasse forte'', diz. O papel acabou com Adriana Esteves.


Paulo Ubiratan diz que Adriana Esteves tem o perfil ideal para ser a ``indomada''. Sobre as críticas pela atuação de Adriana em ``Renascer'', o diretor diz que a atriz foi ``injustiçada''. ``Ela não deveria ter sido escalada para o papel de Mariana'', afirma.


A cidade cenográfica de Greenville foi construída no mesmo local de Tubiacanga, em Jacarepaguá (zona sul do Rio de Janeiro). O arruamento é quase o mesmo. Mudam as fachadas das casas, agora em estilo vitoriano.


Segundo o diretor Marcos Paulo, Greenville também é ``personagem'' da novela. Ele diz que 40% das cenas são externas.


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