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MAKING OF
Por meio de espelhos, aparelho passa a
impressão de que texto é decorado
Teleprompter mantém o olhar do apresentador na câmera
DA SUCURSAL DO RIO
COMO os apresentadores conseguem ler as notícias de um telejornal
sem tirar os olhos da câmera? A façanha,
claro, não é resultado de decoreba, mas
do teleprompter. "Ele é vital para sustentar a atenção do público. Se o apresentador desvia o olhar da câmera, cria desinteresse no espectador", afirma o apresentador da Globo Sérgio Chapelin.
Desde 1972, quando chegou à emissora, Chapelin presenciou a evolução tecnológica do teleprompter (TP). "Mas, no
comecinho, nós líamos o texto no papel
mesmo, em cima da mesa. Nessa época,
diziam que nós, apresentadores brasileiros, éramos "ledores" de texto, que os
americanos é que eram inteligentes porque improvisavam diante das câmeras.
Depois trouxeram para cá a "inteligência"
dos americanos, o teleprompter."
Quando chegou ao Brasil, o aparelho
era primitivo. A notícia era batida numa
máquina de escrever especial, com letras
maiores. O texto passava numa bobina,
no formato de um rolo de papel higiênico, que ficava em cima da câmera.
"A máquina de escrever quebrou em
poucos dias, e ficamos um bom tempo
escrevendo as matérias à mão, em letra
de forma", recorda Chapelin. Mesmo assim, "alguma coisa" ainda continuava
errada. "O Armando Nogueira reclamou
que estávamos olhando muito para o alto da câmera. Foi quando nos demos
conta de que haviam esquecido de trazer
dos Estados Unidos o espelho do teleprompter", diverte-se Chapelin. Até hoje, é um espelho o responsável por refletir o texto na frente da lente da câmera.
Na década de 80, o teleprompter foi informatizado. Tudo é integrado. A redação do telejornal bate o texto, e ele entra
direto no sistema. Primeiramente, o texto do teleprompter chega a um monitor
sob a câmera. Nesse monitor, o texto está
invertido. Quando ele passa pelo espelho, volta tudo ao normal. No "Jornal
Nacional", há um operador no estúdio.
Na Globonews, é o próprio apresentador
quem controla a velocidade do texto,
com o auxílio de um pedal sob a mesa.
"Há truques para que o telespectador
não perceba o movimento dos olhos durante a leitura. Primeiro, cada linha de
texto tem no máximo três palavras. Outra coisa importante é mexer um pouco a
cabeça, isso disfarça a leitura", diz o
apresentador Luís Ernesto Lacombe.
Quem controla o pedal de velocidade,
porém, é sua colega, a apresentadora Luciana Ávila. "Mas a gente se comunica.
Se o texto estiver indo depressa ou devagar, ele me avisa", diz Luciana.
A diretora da Globonews, Rosa Magalhães, diz, no entanto, que o teleprompter muitas vezes é "apenas um guia, não
uma amarra". "Somos um canal 24 horas. Muitas notícias chegam, e não há
tempo para redigi-las." Nesse caso, a informação é passada pelo ponto eletrônico ao apresentador, que anota no papel e
fala quase de improviso. "Uma vez, li
uma notícia que estava sendo passada na
mesma hora pelo editor", diz Lacombe.
Rosa Magalhães lembra que já houve
pelo menos um caso sério de pane no teleprompter e no sistema de computadores, quando todo o telejornal teve de ser
feito de improviso. "Ninguém notou."
No caso de Sérgio Chapelin, uma confusão com o teleprompter provocou
uma gafe inesquecível, em 89. Ele reclamou ao vivo para que o operador tirasse
o texto errado do teleprompter. "Eu estava tentando ler o certo, que estava comigo, em cima da mesa, mas, quando olhava a câmera, eu via o teleprompter e começava a ler a matéria errada. O operador não se tocava. Até que eu reclamei e
tiveram que tirar a estação do ar. Acharam que eu estava louco." A Globo ficou
32 segundos fora do ar.
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