São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2000

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MAKING OF
Por meio de espelhos, aparelho passa a impressão de que texto é decorado
Teleprompter mantém o olhar do apresentador na câmera

DA SUCURSAL DO RIO

COMO os apresentadores conseguem ler as notícias de um telejornal sem tirar os olhos da câmera? A façanha, claro, não é resultado de decoreba, mas do teleprompter. "Ele é vital para sustentar a atenção do público. Se o apresentador desvia o olhar da câmera, cria desinteresse no espectador", afirma o apresentador da Globo Sérgio Chapelin.

Desde 1972, quando chegou à emissora, Chapelin presenciou a evolução tecnológica do teleprompter (TP). "Mas, no comecinho, nós líamos o texto no papel mesmo, em cima da mesa. Nessa época, diziam que nós, apresentadores brasileiros, éramos "ledores" de texto, que os americanos é que eram inteligentes porque improvisavam diante das câmeras. Depois trouxeram para cá a "inteligência" dos americanos, o teleprompter."
Quando chegou ao Brasil, o aparelho era primitivo. A notícia era batida numa máquina de escrever especial, com letras maiores. O texto passava numa bobina, no formato de um rolo de papel higiênico, que ficava em cima da câmera.
"A máquina de escrever quebrou em poucos dias, e ficamos um bom tempo escrevendo as matérias à mão, em letra de forma", recorda Chapelin. Mesmo assim, "alguma coisa" ainda continuava errada. "O Armando Nogueira reclamou que estávamos olhando muito para o alto da câmera. Foi quando nos demos conta de que haviam esquecido de trazer dos Estados Unidos o espelho do teleprompter", diverte-se Chapelin. Até hoje, é um espelho o responsável por refletir o texto na frente da lente da câmera.
Na década de 80, o teleprompter foi informatizado. Tudo é integrado. A redação do telejornal bate o texto, e ele entra direto no sistema. Primeiramente, o texto do teleprompter chega a um monitor sob a câmera. Nesse monitor, o texto está invertido. Quando ele passa pelo espelho, volta tudo ao normal. No "Jornal Nacional", há um operador no estúdio. Na Globonews, é o próprio apresentador quem controla a velocidade do texto, com o auxílio de um pedal sob a mesa.
"Há truques para que o telespectador não perceba o movimento dos olhos durante a leitura. Primeiro, cada linha de texto tem no máximo três palavras. Outra coisa importante é mexer um pouco a cabeça, isso disfarça a leitura", diz o apresentador Luís Ernesto Lacombe.
Quem controla o pedal de velocidade, porém, é sua colega, a apresentadora Luciana Ávila. "Mas a gente se comunica. Se o texto estiver indo depressa ou devagar, ele me avisa", diz Luciana.
A diretora da Globonews, Rosa Magalhães, diz, no entanto, que o teleprompter muitas vezes é "apenas um guia, não uma amarra". "Somos um canal 24 horas. Muitas notícias chegam, e não há tempo para redigi-las." Nesse caso, a informação é passada pelo ponto eletrônico ao apresentador, que anota no papel e fala quase de improviso. "Uma vez, li uma notícia que estava sendo passada na mesma hora pelo editor", diz Lacombe.
Rosa Magalhães lembra que já houve pelo menos um caso sério de pane no teleprompter e no sistema de computadores, quando todo o telejornal teve de ser feito de improviso. "Ninguém notou."
No caso de Sérgio Chapelin, uma confusão com o teleprompter provocou uma gafe inesquecível, em 89. Ele reclamou ao vivo para que o operador tirasse o texto errado do teleprompter. "Eu estava tentando ler o certo, que estava comigo, em cima da mesa, mas, quando olhava a câmera, eu via o teleprompter e começava a ler a matéria errada. O operador não se tocava. Até que eu reclamei e tiveram que tirar a estação do ar. Acharam que eu estava louco." A Globo ficou 32 segundos fora do ar.


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