São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2000

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RECICLAGEM
Programas se inspiram em fórmulas de sucesso do passado; Globo prepara o retorno do "Sítio do Pica-Pau Amarelo'; "Namoro na TV" ganha duas versões
Novas atrações oferecem mais do mesmo

Folha Imagem
A "Internética", do "O Super Positivo", da Bandeirantes


CLÁUDIA CROITOR
ERIKA SALLUM
DA REPORTAGEM LOCAL

NO ANO em que completa sua quinta década de existência, a TV brasileira parafraseia mais do que nunca a famosa lei de Lavoisier: na televisão, nada se cria, nada se perde, tudo se copia. Seja revisitando o passado ou criando versões locais de programas estrangeiros, as emissoras nacionais provam que, de original, têm muito pouco.
Nos próximos dias, por exemplo, estréiam dois programas inspirados no ancestral "Namoro na TV", criado há décadas por Silvio Santos.
A Rede TV! sai na frente e põe no ar, amanhã, às 18h, uma nova versão de seu "Interligado", que ganhará um quadro de "paquera virtual". Nele, serão escolhidos alguns telespectadores do programa, que se comunicarão por e-mail, fax ou telefone -trechos mais "picantes" desses bate-papos serão mostrados pela apresentadora Fabiana Saba, que, durante a semana, dará informações sobre a vida de cada participante. Se a paquera funcionar, o encontro do casal será gravado e exibido dias depois.
"Não há nada de original nessa idéia, mas aproveitá-la não significa plagiá-la. Estamos fazendo uma homenagem a um formato que deu muito certo no passado e, ao mesmo tempo, acrescentando dados novos. E isso tem seu mérito. Reciclar faz parte da TV", diz Rogério Gallo, superintendente artístico e de programação da Rede TV!.
Uma semana depois, no dia 2 de outubro, a MTV entra na onda "revival" com "Fica Comigo", programa semanal que será exibido toda segunda-feira, às 22h, no lugar do "Barraco". A apresentadora Fernanda Lima (ex-"Interligado") também comandará uma espécie de "Namoro na TV" "high tech" -no site da emissora, já estão disponíveis os "currículos" de adolescentes que se candidatam a arranjar namorados.
"Fomos buscar essa idéia em uma atração semelhante que existe na MTV americana, o "Singled Out". Mas é claro que eu era fã do "Namoro na TV", e o programa terá referências a ele", afirma Zico Goes, diretor de programação da MTV.
Citando ainda o "20 e Poucos Anos", que estreou recentemente na emissora e é inspirado em "The Real World", outra atração da MTV americana, Goes brinca: "Talvez não tenha dado ainda para gastar todas as idéias nestes 50 anos de televisão brasileira. Mas, como diz aquele ditado, quem conta um conto aumenta um ponto. Então sempre se acrescenta coisas novas, mesmo que a idéia original não seja tão original assim".
Pegando carona na nova moda estrangeira de "TV-realidade" -em que os protagonistas das atrações são pessoas "comuns"-, a TV brasileira prepara mais uma leva de programas do gênero. Além de uma nova edição de "No Limite", que a Globo promete para janeiro de 2001, o SBT acaba de assinar contrato com a empresa holandesa criadora de "Big Brother", um megassucesso de audiência em vários países no qual um grupo de pessoas tem de conviver em uma casa fechada, cheia de câmeras.
Também nessa linha de "reality shows", como são chamados esses programas, a produtora de Gugu Liberato prepara uma versão local de um projeto chileno em que uma pessoa fica trancada em uma casa de vidro no meio da rua.
"Vamos tentar exibir esse programa em uma emissora menor, como a TV Gazeta, que tem flexibilidade para pôr no ar, a qualquer momento, cenas da casa de vidro. Se a pessoa entrar em crise, por exemplo, entramos com um "flash" ao vivo no programa "Mulheres'", diz Homero Salles, que deve dirigir a atração, ainda sem data de estréia.
A Bandeirantes já tem uma "filial" da casa de vidro: a nova musa do "O Super Positivo", a Internética, que passa o programa todo dentro de uma espécie de jaula transparente com câmeras (que podem ser acessadas pela Internet). A personagem se comporta como se estivesse em sua própria casa e não soubesse que está sendo filmada. "Esse quadro é uma brincadeira com essa onda de voyeurismo, sendo um misto de "Big Brother" com as webcams", explica Cacá Marcondes, diretor do programa.

Do fundo do baú
Já que Xuxa foi copiada à exaustão e o formato de infantis comandados por loiras parece estar chegando ao fim, a Rede Globo vai buscar no fundo do baú um de seus maiores sucessos entre as crianças: o "Sítio do Pica-Pau Amarelo". A emissora mantém segredo sobre o projeto, mas sabe-se que o remake deve estrear em 2001, sem a participação do antigo elenco. Os personagens imaginários, como Emília e visconde de Sabugosa, serão feitos em animação, cuja criação está a cargo do designer Hans Donner.
"Seria ótima uma readaptação do "Sítio", desde que a técnica não tire o foco da obra de Monteiro Lobato, que deve ser respeitada. O maravilhoso é que novas gerações poderão acompanhar as aventuras de Narizinho", diz Zilka Sallaberry, a dona Benta, que não tem nem sequer uma cena guardada de sua personagem, já que não possuía videocassete naquela época (anos 70 e início dos 80).
Além de recorrer ao passado para recuperar bons índices de audiência, a Globo está buscando inspiração na concorrência em mais uma tentativa de alavancar a audiência do "Domingão do Faustão", que no último domingo amargou sua 17ª derrota consecutiva no Ibope para o "Domingo Legal", do SBT.
A produção do programa de Fausto Silva estuda a possibilidade de fazer "pegadonas" -pegadinhas com mais tempo de duração e com a participação de famosos, ao estilo do "Telegrama Legal", exibido por Gugu Liberato.
"Não vamos copiar ninguém, já fazíamos pegadinhas com artistas há muito tempo. Eles é que nos copiaram", afirma Lucimara Parisi, diretora de pegadinhas do "Faustão".
Roberto Manzoni, diretor do "Domingo Legal", polemiza: "Não imitamos ninguém, o "Telegrama Legal" não é uma pegadinha. Além disso, o criador delas é o Silvio Santos, que copiou o formato do "Candid Camera" (programa criado nos EUA na década de 50)."



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