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RECICLAGEM
Programas se inspiram em fórmulas de sucesso do passado; Globo prepara o retorno do "Sítio do Pica-Pau Amarelo'; "Namoro na TV" ganha duas versões
Novas atrações oferecem mais do mesmo
Folha Imagem
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A "Internética", do "O Super Positivo", da Bandeirantes |
CLÁUDIA CROITOR
ERIKA SALLUM
DA REPORTAGEM LOCAL
NO ANO em que completa sua quinta década de existência, a TV brasileira parafraseia mais do que nunca a famosa lei de Lavoisier: na televisão, nada
se cria, nada se perde, tudo se copia. Seja
revisitando o passado ou criando versões
locais de programas estrangeiros, as
emissoras nacionais provam que, de original, têm muito pouco.
Nos próximos dias, por exemplo, estréiam dois programas inspirados no ancestral "Namoro na TV", criado há décadas por Silvio Santos.
A Rede TV! sai na frente e põe no ar,
amanhã, às 18h, uma nova versão de seu
"Interligado", que ganhará um quadro
de "paquera virtual". Nele, serão escolhidos alguns telespectadores do programa,
que se comunicarão por e-mail, fax ou
telefone -trechos mais "picantes" desses bate-papos serão mostrados pela
apresentadora Fabiana Saba, que, durante a semana, dará informações sobre
a vida de cada participante. Se a paquera
funcionar, o encontro do casal será gravado e exibido dias depois.
"Não há nada de original nessa idéia,
mas aproveitá-la não significa plagiá-la.
Estamos fazendo uma homenagem a um
formato que deu muito certo no passado
e, ao mesmo tempo, acrescentando dados novos. E isso tem seu mérito. Reciclar faz parte da TV", diz Rogério Gallo,
superintendente artístico e de programação da Rede TV!.
Uma semana depois, no dia 2 de outubro, a MTV entra na onda "revival" com
"Fica Comigo", programa semanal que
será exibido toda segunda-feira, às 22h,
no lugar do "Barraco". A apresentadora
Fernanda Lima (ex-"Interligado") também comandará uma espécie de "Namoro na TV" "high tech" -no site da emissora, já estão disponíveis os "currículos"
de adolescentes que se candidatam a arranjar namorados.
"Fomos buscar essa idéia em uma atração semelhante que existe na MTV americana, o "Singled Out". Mas é claro que
eu era fã do "Namoro na TV", e o programa terá referências a ele", afirma Zico
Goes, diretor de programação da MTV.
Citando ainda o "20 e Poucos Anos",
que estreou recentemente na emissora e
é inspirado em "The Real World", outra
atração da MTV americana, Goes brinca:
"Talvez não tenha dado ainda para gastar todas as idéias nestes 50 anos de televisão brasileira. Mas, como diz aquele ditado, quem conta um conto aumenta um
ponto. Então sempre se acrescenta coisas
novas, mesmo que a idéia original não
seja tão original assim".
Pegando carona na nova moda estrangeira de "TV-realidade" -em que os
protagonistas das atrações são pessoas
"comuns"-, a TV brasileira prepara
mais uma leva de programas do gênero.
Além de uma nova edição de "No Limite", que a Globo promete para janeiro de
2001, o SBT acaba de assinar contrato
com a empresa holandesa criadora de
"Big Brother", um megassucesso de audiência em vários países no qual um grupo de pessoas tem de conviver em uma
casa fechada, cheia de câmeras.
Também nessa linha de "reality
shows", como são chamados esses programas, a produtora de Gugu Liberato
prepara uma versão local de um projeto
chileno em que uma pessoa fica trancada
em uma casa de vidro no meio da rua.
"Vamos tentar exibir esse programa
em uma emissora menor, como a TV
Gazeta, que tem flexibilidade para pôr no
ar, a qualquer momento, cenas da casa
de vidro. Se a pessoa entrar em crise, por
exemplo, entramos com um "flash" ao vivo no programa "Mulheres'", diz Homero Salles, que deve dirigir a atração, ainda
sem data de estréia.
A Bandeirantes já tem uma "filial" da
casa de vidro: a nova musa do "O Super
Positivo", a Internética, que passa o programa todo dentro de uma espécie de
jaula transparente com câmeras (que podem ser acessadas pela Internet). A personagem se comporta como se estivesse
em sua própria casa e não soubesse que
está sendo filmada. "Esse quadro é uma
brincadeira com essa onda de voyeurismo, sendo um misto de "Big Brother"
com as webcams", explica Cacá Marcondes, diretor do programa.
Do fundo do baú
Já que Xuxa foi copiada à exaustão e o
formato de infantis comandados por loiras parece estar chegando ao fim, a Rede
Globo vai buscar no fundo do baú um de
seus maiores sucessos entre as crianças:
o "Sítio do Pica-Pau Amarelo". A emissora mantém segredo sobre o projeto,
mas sabe-se que o remake deve estrear
em 2001, sem a participação do antigo
elenco. Os personagens imaginários, como Emília e visconde de Sabugosa, serão
feitos em animação, cuja criação está a
cargo do designer Hans Donner.
"Seria ótima uma readaptação do "Sítio", desde que a técnica não tire o foco da
obra de Monteiro Lobato, que deve ser
respeitada. O maravilhoso é que novas
gerações poderão acompanhar as aventuras de Narizinho", diz Zilka Sallaberry,
a dona Benta, que não tem nem sequer
uma cena guardada de sua personagem,
já que não possuía videocassete naquela
época (anos 70 e início dos 80).
Além de recorrer ao passado para recuperar bons índices de audiência, a Globo
está buscando inspiração na concorrência em mais uma tentativa de alavancar a
audiência do "Domingão do Faustão",
que no último domingo amargou sua 17ª
derrota consecutiva no Ibope para o
"Domingo Legal", do SBT.
A produção do programa de Fausto
Silva estuda a possibilidade de fazer "pegadonas" -pegadinhas com mais tempo de duração e com a participação de
famosos, ao estilo do "Telegrama Legal",
exibido por Gugu Liberato.
"Não vamos copiar ninguém, já fazíamos pegadinhas com artistas há muito
tempo. Eles é que nos copiaram", afirma
Lucimara Parisi, diretora de pegadinhas
do "Faustão".
Roberto Manzoni, diretor do "Domingo Legal", polemiza: "Não imitamos ninguém, o "Telegrama Legal" não é uma pegadinha. Além disso, o criador delas é o
Silvio Santos, que copiou o formato do
"Candid Camera" (programa criado nos
EUA na década de 50)."
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