São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2000

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VÍDEO
Filme de Danny Boyle com filmagens na Tailândia chega às locadoras
DiCaprio paga mico em "A Praia"

TIAGO MATA MACHADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

PARTINDO do princípio, não muito equivocado, de que existem dois tipos de turismo, o turismo "mico" e o turismo esperto, "A Praia", empreitada malfadada do oportunista diretor inglês Danny Boyle, não demora a revelar sua grosseira ambição mercadológica, fazendo uma espécie de guia de viagens para a juventude mochileira globalizada. Inevitável dizer que, quanto mais seu personagem, um jovem americano hedonista de férias no Sudeste Asiático, tenta fugir das "roubadas", mais Leonardo DiCaprio paga o "mico" por aqui. Ele segue a orientação do mapa que legou de um daqueles turistas-que-não-voltaram típicos das regiões litorâneas, levando consigo um casal francês. Aventureiros de um tempo em que a navegação se faz por Internet, desbravadores de um mundo em que até o mais humilde dos habitantes parece saber falar inglês, nossos jovens descobrem o Éden. Mas vejamos qual é a visão do paraíso de tal juventude. Não é de espantar que a primeira imagem da ilha seja como a de um cartão-postal, digitalmente retocado. Lá, vive uma comunidade que não é nem neo-hippie, nem nudista (para o desespero das tietes), mas apenas uma espécie de elite turística globalizada, uma "panelinha praieira". Trata-se de um "balneário para pessoas que não gostam de balneários", onde se pode fumar baseado, participar dos mais variados jogos, dançar em raves e trepar à vontade (contanto que se saiba que a fofoca rola solta). Após encarnar a virilidade e o espírito competitivo americanos, DiCaprio deixa as gatinhas de lado para embrenhar-se no "coração das trevas" dessa ilha da fantasia virtual. É quando seu imaginário se revela prenhe de imagens de filmes de guerra americanos (de "Apocalipse Now" a "Rambo") e de videogames homicidas. Ainda que não deixe de esnobar os americanos, o diretor Boyle acaba se rendendo, afinal, ao imaginário paranóico ianque (tornando real, por exemplo, a brincadeira do tubarão). Pior: ele exibe aqui, como de hábito, seu amoralismo fetichista de publicitário babaca (o que fazer com essa elite londrina?). Boyle não cansa de alardear que a realização de um sonho de consumo vale mais do que a vida de qualquer amigo. Como espantar-nos, portanto, com toda a devastação ambiental causada pela produção? Ela apenas prefigura a devastação moral encetada nessa barafunda. Para o bem da humanidade, seria preciso enterrar os filmes de Boyle numa "Cova Rasa".


A PRAIA
Warner
 
(The Beach). EUA, 1999. Direção: Danny Boyle. Com Leonardo DiCaprio. 117 minutos. Drama.




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