São Paulo, Domingo, 31 de Outubro de 1999
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JUVENTUDE TRANSVIADA

"Programa Livre" adota estilo "Rateen"

Lili Martins/Folha Imagem
O apresentador Otávio Mesquita e Tiazinha, no "Programa Livre" do último dia 22



Agora ancorado por cinco apresentadores, programa do SBT apela para atrações mais populares para manter audiência

ANDRÉA DE LIMA
ERIKA SALLUM
Da Reportagem Local



APÓS a saída de Serginho Groisman, o "Programa Livre", do SBT, manteve -e por vezes chega a superar- os índices de audiência que a atração conseguia anteriormente.
No entanto, para atingir tal feito, o SBT alterou radicalmente o perfil do programa: saíram os políticos, os especialistas em questões ligadas aos jovens, a MPB e o rock, que deram vez ao pagode, ao axé, à Tiazinha. É a era do Tchan no "Programa Livre", que virou uma espécie de filial teen do "Programa do Ratinho".
Desde o dia 13 de setembro com o rodízio de apresentadores -Nei Gonçalves Dias, Marcia Goldschmidt, Lu Barsotti, Christina Rocha e Otávio Mesquita-, a atração vem registrando média de 7 pontos no Ibope (cada ponto equivale a cerca de 80 mil telespectadores na Grande São Paulo), contra a média de 5 pontos contabilizada por Serginho Groisman em seus últimos meses à frente do programa.
Segundo Vildomar Batista, diretor do "Programa Livre", esse crescimento no Ibope se deve, especialmente, a um novo tipo de telespectador que passou a assisti-lo após as mudanças: "Com o Serginho, sempre perdíamos para o "Note & Anote", da Record. Agora, não. Agregamos um novo público: as donas-de-casa estão gostando de ver o "Programa Livre". Recebemos cartas dizendo que antes o programa era chato e atualmente está mais interessante".
Por "atualmente", entenda-se "após a popularização", com um naipe de convidados que inclui desde o sertanejo Daniel ao padre Marcelo, passando pela ex-delegada Marinara Costa e Carla Perez.
A nova fase do programa, mais apelativa, não se reflete apenas nos convidados, mas também na atuação dos novos apresentadores. No último dia 22, Otávio Mesquita fez um adolescente da platéia se deitar em uma toalha estampada com a imagem da Tiazinha: "Ele se deitou com a Tiazinha!", disse o apresentador.
O diretor do programa contesta a expressão "popularização": "Nós não estamos nos tornando mais populares, apenas ampliamos o leque de possibilidades do programa. Não posso fazer um programa para meu colega de faculdade, tenho de me preocupar com outros telespectadores -apesar de a moçada continuar sendo nosso principal alvo".
As mudanças, no entanto, não têm agradado a todos. Para o coordenador de eventos do colégio Arquidiocesano, de São Paulo, Ton Teschima, 39, o programa "ficou ridículo". "Os próprios alunos não pedem mais para ir. Essa versão não tem nada a ver. O Serginho tinha um carisma, não forçava a barra, a exemplo do que acontece agora."
Frequentadora do "Programa Livre" há quatro anos, a estudante Cintia Regina da Silva, 16, diz que "não tem mais chance de se expressar, como acontecia na época do Serginho". "Esse programa sempre foi uma ferramenta para o jovem dizer o que pensa. Agora, mudou. Não valorizam a gente", disse Cintia, na platéia do programa no último dia 22.
Em carta ao caderno Folhateen, um adolescente reclamou: "(o programa) ficou ridículo com apresentadores que querem transformar o espaço único que tínhamos em um mero programa de auditório".
Procurado pela Folha, Groisman preferiu não comentar as mudanças no programa.
Agora, se a meta é a audiência, o SBT está no caminho certo, segundo o publicitário Antonio Rosa Neto, 46, da Dainet Multimídia. "Noventa por cento dos telespectadores brasileiros se identificam com o popular". Mas, adverte, "se o programa deixar de falar com o jovem, sua linha tradicional, ele vai perder completamente o perfil de seus anunciantes. A saída do Serginho Groisman deixou o programa sob suspeita, e o mercado publicitário reage rapidamente".


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