São Paulo, domingo, 09 de janeiro de 2011

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Teste do Detran ignora automáticos

Código de trânsito só permite exame para tirar carteira de motorista em carro manual; nos EUA, pode-se optar

Participação de carros com câmbio automático disparou em 2010 e já atinge 10% no Brasil; em 2000, era de 2%


Alessandro Shinoda/Folhapress
Audi A3 tem sistema que estaciona o carro sozinho, mas aluno deve saber estacionar

FELIPE NÓBREGA
DE SÃO PAULO

A coordenadora de operações Andréia Menten, 30, vai passar pelo exame de habilitação no final deste mês. Só que, mesmo que saia de lá aprovada, terá de voltar à autoescola para aulas extras.
"No dia a dia, eu usarei um carro automático, mas, por lei, só posso aprender e fazer o exame num modelo manual, que é bem diferente", reclama Menten. Ela gastou R$ 800 no pacote obrigatório de 20 aulas e prevê gastar mais R$ 160 para aprender a guiar o modelo automático.
Segundo o Contran (Conselho Nacional de Trânsito), só deficientes podem tirar a carteira em automóveis sem o pedal de embreagem.
A última atualização da lei data de 2004, época em que a participação dos automáticos não passava de 5% -esse montante dobrou em 2010 e atingiu 350 mil carros, estimam as montadoras.
"O consumidor busca mais conforto", diz Fabrício Biondo, gerente-executivo de marketing da Volkswagen, que já oferece o câmbio I-Motion para Gol, Fox, SpaceFox, Polo e Voyage -fora os automáticos importados, como Jetta, Tiguan e Passat.
Para Alfredo Peres da Silva, diretor do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), os automáticos não influenciarão a lei.
"É melhor o condutor aprender a dirigir em um automóvel com câmbio manual, que exige mais coordenação. Depois, se quiser um automático, fica mais fácil. O contrário, não", argumenta.
O aprendiz de motociclista também é obrigado a ter aula em moto manual, apesar de 7% das vendas do setor já serem de automáticas (CVT).

CADA CASO, UM CASO
Segundo José Guedes Pereira, presidente da Sindiautoescola (sindicato dos centros de formação de condutores), essa discussão foi debatida na reforma do código de trânsito, em 1997 -quando a participação de carros automáticos não chegava a 1%.
"O tipo de veículo e o número de aulas deveriam ser baseados na necessidade do aluno", defende Pereira.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o aprendiz é aconselhado a realizar o teste no veículo que irá conduzir futuramente -e automático, cuja frota chega a 97%.
Na rede de autoescolas Javarotti, em São Paulo, um quinto da frota é de automáticos. "Basicamente para atender a deficientes. Mas existe uma procura crescente por condutores que terão carro automático", diz Luciene Habib, gerente da empresa.
Para quem vai guiar um carro automático, ela recomenda ao menos uma aula (R$ 35) para que se conheça particularidades do sistema.
Na partida, por exemplo, se a alavanca não estiver em "P" ("parking", ou estacionamento) e o freio pressionado, o carro não liga.
A estudante Bruna Reis, 18, conta que, quando tirou a habilitação, ganhou um jipinho automático. "Meu pai me ensinou a usar o câmbio, que é prático. Não pretendo trocá-lo por um manual."


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