São Paulo, domingo, 09 de março de 2008

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SALÃO DE GENEBRA

"Não há limite na criação de um veículo"

Criador do sQuba, 1º carro que anda debaixo d'água, diz à Folha que inspiração veio de filme de James Bond

Divulgação
O sQuba foi à Flórida para gravação do filme de apresentação

DO ENVIADO ESPECIAL A GENEBRA

Frank Rinderknecht, 52, faz coisas tão diferentes quanto seu sobrenome. Suíço de Zurique, já criou carro-anfíbio, carro-grilo, carro transparente. Chegou a vez do carro-submarino. O sQuba anda, corre e nada debaixo d'água. Sua única unidade não será vendida. "Fazer carros revolucionários é um hobby, e não um negócio", afirma Rinderknecht, que, desde 1977, "tuna" carros esportivos.
Começou mexendo num Golf Turbo e, em 1983, preparou seu primeiro Porsche, um 939 Targa. Virou especialista na marca alemã e hoje faz um 911 Turbo ter 580 cavalos. Leia abaixo os principais trechos da entrevista que concedeu à Folha com exclusividade. (FABIANO SEVERO)

 

FOLHA - De onde veio a idéia de fazer um carro-submarino?
FRANK RINDERKNECHT -
A idéia começou no fim dos anos 70. Eu tinha 20 e poucos anos e estava num curso técnico em Zurique. Vi um filme do James Bond ["007, O Espião que me Amava", de 1977] e pensei: "É isso. Um dia vou fazer um carro nadar de verdade". Aquele era animação, nunca foi para a água.

FOLHA - Qual é o limite para a criação de um carro?
RINDERKNECHT -
Para mim, enquanto os fornecedores me apoiarem, não haverá limite.

FOLHA - Por que a ligação com a água?
RINDERKNECHT -
Não sei. Sempre gostei muito das atividades aquáticas. Acho que a água ainda nos fascina. Precisamos dela para sobreviver e sempre a usamos para nos locomover, com barcos, navios.

FOLHA - O Splash nunca entrou em produção. O sQuba entrará?
RINDERKNECHT -
Também não. É uma única unidade e não está à venda. É para mostrar o que somos capazes de fazer, para mostrar a nossa tecnologia.

FOLHA - Mas o sr. acredita que um carro desses um dia seja produzido?
RINDERKNECHT -
Não. Talvez um dos meus parceiros faça um modelo pequeno para crianças. Mas será puro divertimento, e não meio de locomoção.

FOLHA - Por quê? É muito caro?
RINDERKNECHT -
Muito caro. Esse, por exemplo, custou 1 milhão. Se não fossem meus parceiros, nunca teria realizado esse sonho.

FOLHA - Como é o desenvolvimento do carro com os parceiros?
RINDERKNECHT -
Eles dão um suporte técnico e sugerem algumas coisas. Analisamos se é possível fazê-las ou não e começamos o projeto.

FOLHA - O que os parceiros ganham com isso?
RINDERKNECHT -
Publicidade, visibilidade. Olhe a quantidade de gente interessada no sQuba [aponta para o stand da Rinspeed lotado].

FOLHA - E a Lotus? O sQuba é um Elise modificado.
RINDERKNECHT -
Não temos qualquer relação com eles. Comprei o carro novo numa revenda de um amigo. Só isso.

FOLHA - A Lotus não reclamou?
RINDERKNECHT -
Não, dou publicidade de graça para eles.

FOLHA - E por que o Elise?
RINDERKNECHT -
O carro é leve e pequeno. Tem mecânica bem conhecida e podíamos tirar o teto. Sem falar que, no filme, James Bond também usa um Lotus, só que o Espirit. A Lotus é uma marca forte. Não podíamos fazer o sQuba com um Punto [risos].

FOLHA - Por que não?
RINDERKNECHT -
[risos] Nada contra a Fiat, mas não havia o menor cabimento. É um carro fechado, e teríamos problemas de vedação e de infiltração.

FOLHA - O que sobrou do Lotus?
RINDERKNECHT -
Basicamente, só o chassi. Tiramos o motor e colocamos três motores elétricos na traseira. Dois movem o carro na água, e o outro o move na terra. Nos pára-lamas, ainda há jatos de ar que dão a direção ao carro. Os bancos e o painel são de plástico injetado, e os instrumentos de navegação têm vedação própria, como os dos submarinos.

FOLHA - A quanto ele chega?
RINDERKNECHT -
Faz de 0 a 100 km/h em cerca de 7s e tem velocidade máxima de 120 km/h. Na água, pode descer até 10 m.

FOLHA - E os ocupantes?
RINDERKNECHT -
Temos cilindros de oxigênio e máscaras para os dois passageiros.

FOLHA - Onde foram feitas as filmagens do vídeo promocional?
RINDERKNECHT -
Levamos o sQuba à Flórida. Lá a água é clara, e dá para ver os detalhes do motor, os "snorkels"...

FOLHA - Nenhum americano quis comprá-lo?
RINDERKNECHT -
Sim, mas não vendo. Tive ofertas de Dubai, da Rússia, da Nova Zelândia.


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