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SALÃO DE GENEBRA
"Não há limite na criação de um veículo"
Criador do sQuba, 1º carro que anda debaixo d'água, diz à Folha que inspiração veio de filme de James Bond
Divulgação
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O sQuba foi à Flórida para gravação do filme de apresentação
DO ENVIADO ESPECIAL A GENEBRA
Frank Rinderknecht, 52, faz
coisas tão diferentes quanto
seu sobrenome. Suíço de Zurique, já criou carro-anfíbio, carro-grilo, carro transparente.
Chegou a vez do carro-submarino. O sQuba anda, corre e nada debaixo d'água.
Sua única unidade não será
vendida. "Fazer carros revolucionários é um hobby, e não um
negócio", afirma Rinderknecht,
que, desde 1977, "tuna" carros
esportivos.
Começou mexendo num
Golf Turbo e, em 1983, preparou seu primeiro Porsche, um
939 Targa. Virou especialista
na marca alemã e hoje faz um
911 Turbo ter 580 cavalos.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista que concedeu à Folha com exclusividade.
(FABIANO SEVERO)
FOLHA - De onde veio a idéia de fazer um carro-submarino?
FRANK RINDERKNECHT - A idéia começou no fim dos anos 70. Eu
tinha 20 e poucos anos e estava
num curso técnico em Zurique.
Vi um filme do James Bond
["007, O Espião que me Amava", de 1977] e pensei: "É isso.
Um dia vou fazer um carro nadar de verdade". Aquele era animação, nunca foi para a água.
FOLHA - Qual é o limite para a criação de um carro?
RINDERKNECHT - Para mim, enquanto os fornecedores me
apoiarem, não haverá limite.
FOLHA - Por que a ligação com a
água?
RINDERKNECHT - Não sei. Sempre
gostei muito das atividades
aquáticas. Acho que a água ainda nos fascina. Precisamos dela
para sobreviver e sempre a usamos para nos locomover, com
barcos, navios.
FOLHA - O Splash nunca entrou em
produção. O sQuba entrará?
RINDERKNECHT - Também não. É
uma única unidade e não está à
venda. É para mostrar o que somos capazes de fazer, para
mostrar a nossa tecnologia.
FOLHA - Mas o sr. acredita que um
carro desses um dia seja produzido?
RINDERKNECHT - Não. Talvez um
dos meus parceiros faça um
modelo pequeno para crianças.
Mas será puro divertimento, e
não meio de locomoção.
FOLHA - Por quê? É muito caro?
RINDERKNECHT - Muito caro. Esse, por exemplo, custou 1 milhão. Se não fossem meus parceiros, nunca teria realizado
esse sonho.
FOLHA - Como é o desenvolvimento do carro com os parceiros?
RINDERKNECHT - Eles dão um suporte técnico e sugerem algumas coisas. Analisamos se é
possível fazê-las ou não e começamos o projeto.
FOLHA - O que os parceiros ganham com isso?
RINDERKNECHT - Publicidade, visibilidade. Olhe a quantidade
de gente interessada no sQuba
[aponta para o stand da Rinspeed lotado].
FOLHA - E a Lotus? O sQuba é um
Elise modificado.
RINDERKNECHT - Não temos
qualquer relação com eles.
Comprei o carro novo numa revenda de um amigo. Só isso.
FOLHA - A Lotus não reclamou?
RINDERKNECHT - Não, dou publicidade de graça para eles.
FOLHA - E por que o Elise?
RINDERKNECHT - O carro é leve e
pequeno. Tem mecânica bem
conhecida e podíamos tirar o
teto. Sem falar que, no filme,
James Bond também usa um
Lotus, só que o Espirit. A Lotus
é uma marca forte. Não podíamos fazer o sQuba com um
Punto [risos].
FOLHA - Por que não?
RINDERKNECHT - [risos] Nada
contra a Fiat, mas não havia o
menor cabimento. É um carro
fechado, e teríamos problemas
de vedação e de infiltração.
FOLHA - O que sobrou do Lotus?
RINDERKNECHT - Basicamente,
só o chassi. Tiramos o motor e
colocamos três motores elétricos na traseira. Dois movem o
carro na água, e o outro o move
na terra. Nos pára-lamas, ainda
há jatos de ar que dão a direção
ao carro. Os bancos e o painel
são de plástico injetado, e os
instrumentos de navegação
têm vedação própria, como os
dos submarinos.
FOLHA - A quanto ele chega?
RINDERKNECHT - Faz de 0 a 100
km/h em cerca de 7s e tem velocidade máxima de 120 km/h.
Na água, pode descer até 10 m.
FOLHA - E os ocupantes?
RINDERKNECHT - Temos cilindros de oxigênio e máscaras para os dois passageiros.
FOLHA - Onde foram feitas as filmagens do vídeo promocional?
RINDERKNECHT - Levamos o sQuba à Flórida. Lá a água é clara, e
dá para ver os detalhes do motor, os "snorkels"...
FOLHA - Nenhum americano quis
comprá-lo?
RINDERKNECHT - Sim, mas não
vendo. Tive ofertas de Dubai,
da Rússia, da Nova Zelândia.
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