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CAPITÃES DA INDÚSTRIA/MARCOS S. DE OLIVEIRA
Edge será um dos quatro focos da Ford em 2008
Presidente da Ford quer importar o "crossover" e adaptar o novo Focus europeu à fábrica da Argentina
FABIANO SEVERO
DA REPORTAGEM LOCAL
Marcos S. de Oliveira completa 24 anos de Ford em
2008. Já viu, em 1995, a companhia pensar em fechar
a fábrica de São Bernardo do Campo e deixar o país
para se tornar só importador. Hoje comemora o recorde de vendas e crê que o Brasil possa virar um dos
centros de desenvolvimento de produtos globais.
Crescer sem depender de pai
e mãe. Assim, como ex-diretor
de plataforma da Ford norte-americana, que ainda acumula
prejuízos, o engenheiro Marcos
S. de Oliveira, 47, preside, há
um ano, a Ford Brasil.
Nascido e criado no ABC
paulista, está na montadora
desde 1984 e hoje comemora o
sucesso do EcoSport, um dos
responsáveis pela fase lucrativa
da filial brasileira. Foi presidente da Ford México, passou
por Espanha e África do Sul e
"mandou" os primeiros Fusion,
que surpreenderam até a Ford.
Oliveira conversou com a
Folha e avaliou o ano à frente
da quarta (e longe da terceira)
maior montadora do país.
FOLHA - A Anfavea [associação dos
fabricantes de veículos] divulgou o
balanço de produção de 2007, que
cresceu 14%, e prevê alta de 9% neste ano. A Ford acredita na redução?
MARCOS S. DE OLIVEIRA - A indústria deve crescer, em 2008, de
15% a 17%. Na produção, esse
crescimento será compensado
pela redução na exportação,
que deve cair em torno de 5%.
FOLHA - A alta de 1,5% para 3% ao
ano no IOF [Imposto sobre Operação
Financeira] vai prejudicar as vendas?
OLIVEIRA - Não. O consumidor
não está preocupado só com o
valor final, mas com o quanto
terá de pagar por mês. E R$ 20,
R$ 25 a mais não são suficientes para deixar de comprar.
FOLHA - Com planos de financiamento longos, como o anunciado
pela Ford (84 meses), não preocupa
o grau de endividamento do cliente?
OLIVEIRA - Sim, mas não a curto
prazo. O brasileiro tem de administrar o acesso ao financiamento, e não entrar na fria de
achar que tem mais poder aquisitivo do que tem. Talvez seja
uma preocupação para 2010.
FOLHA - A Fenabrave [federação
dos concessionários de veículos] divulgou o registro de emplacamentos de 2007. A participação da Ford
caiu pelo terceiro ano consecutivo.
Em 2005, era de 12,13%. Em 2006,
caiu para 11,25%, e em 2007, fechou em 10,55%. Por que a queda?
OLIVEIRA - Começamos 2007
sabendo que iríamos perder
mercado devido à nossa limitação na capacidade de produção.
O volume de vendas bateu recorde, mas não acompanhou o
do mercado. A Ford cresceu
21%, e o mercado interno, 28%.
FOLHA - Hoje a fábrica de São Bernardo só tem capacidade de produzir 60 mil Ka por ano. Não é pouco?
OLIVEIRA - Sem dúvida. Nossos
concorrentes têm capacidade
maior. Mas a fábrica de São
Bernardo opera com turno parcial. Nossa meta é ativar o turno completo em 2008 e aumentar a capacidade para 100 mil
carros/ano. Há como ativar um
segundo turno, que elevaria a
produção para 200 mil carros.
FOLHA - Quando a Ford anunciou
um investimento de R$ 2,2 bilhões
até 2011, não falou em nova fábrica.
OLIVEIRA - Não temos planos de
uma nova planta. Trabalhamos
abaixo da nossa capacidade.
Em 2007, aumentamos nossa
capacidade na fábrica de Pacheco (Argentina) em 15% com
um turno. Só Camaçari opera
no limite, com três turnos e capacidade para produzir 250 mil
carros/ano. A estratégia das
três fábricas funciona bem.
FOLHA - Mesmo assim, exceto no
segmento do EcoSport, a Ford não lidera nenhum outro. Falta produto?
OLIVEIRA - Temos uma estratégia de crescimento sustentável.
A Ford não tem recursos para
mover dos EUA e ajudar operações no Brasil. Por isso todo investimento local deve ser feito
com recursos locais.
FOLHA - Pode-se dizer que o projeto Amazon tirou a Ford da lama?
OLIVEIRA - Bem, com Camaçari,
que produz Fiesta e EcoSport,
saímos de uma posição de perdas financeiras grandes para a
de lucratividade. Em 2007, começamos o ano com o EcoSport automático, depois os
Fiesta hatch e sedã reestilizados, o Focus "flex", o EcoSport
2008 e, no fim do ano, o Ka.
FOLHA - Ou seja, faltará produto
para ser lançado em 2008?
OLIVEIRA - Não. Além do Ka, teremos mais três lançamentos.
FOLHA - Isso inclui o "crossover"
Edge? O motor V6 foi homologado...
OLIVEIRA - (risos) Vemos uma
grande oportunidade para o
Edge. Aliás, quando a sua reportagem será publicada?
FOLHA - No domingo [hoje].
OLIVEIRA - (risos) Bem, só confirmamos que estudamos seriamente o Edge. Não sei a data.
FOLHA - Será que o sucesso do Fusion não garante a versão V6?
OLIVEIRA - O Fusion foi um
grande sucesso. Vendemos
60% mais em 2007 sobre 2006.
O V6 é para médio prazo.
FOLHA - O jornal inglês "Birmingham Post" afirmou na semana passada que o grupo indiano Tata havia comprado as marcas Jaguar e Land
Rover por US$ 2 bilhões. É verdade?
OLIVEIRA - A Ford e a Tata estão
em fase final de negociação.
FOLHA - Como ficam as operações
no Brasil?
OLIVEIRA - O consumidor estará
protegido, as duas marcas têm
tido boa aceitação no Brasil.
Mercado em expansão e real
forte são oportunidades para
quem administrar as marcas.
FOLHA - No Salão de Detroit, que
começa nesta semana, a Ford vai
anunciar prejuízos menores que os
US$ 12,6 bilhões referentes a 2006?
OLIVEIRA - Pelos números de janeiro a setembro de 2007, vemos que será melhor que 2006.
A Ford planeja voltar a lucrar
nos EUA em 2009.
FOLHA - E o americano está mesmo
preocupado com o ambiente?
OLIVEIRA - Muito mais do que
há cinco anos. Quando vemos o
barril do petróleo chegar a US$
100, os carros grandes e potentes perdem lugar para os menores e mais econômicos. O Salão
de Detroit já não é mais um salão de carros V8.
FOLHA - Qual é a importância hoje
da Ford Brasil para o grupo?
OLIVEIRA - O Brasil deve ser hoje o terceiro ou quarto maior
mercado para a Ford, depois de
EUA, Inglaterra e Alemanha.
FOLHA - O Focus, mostrado na Alemanha em setembro, será feito na
Argentina?
OLIVEIRA - É a tendência natural das coisas. A Ford vai compartilhar plataformas globais
adaptadas para cada mercado.
FOLHA - É a escola japonesa?
OLIVEIRA - É. É a escola que faz
sentido em investimentos de
engenharia e de produção.
FOLHA - O Focus terá design europeu e plataforma e motores locais?
OLIVEIRA - Essa é uma estratégia sul-americana. O Focus
atual é o último "New Edge" [linhas com elementos ovalados],
desenhado há muito tempo e
adaptado para cá.
FOLHA - Compartilhar plataforma
inclui peças? O Ka tem 85% de peças
de outros modelos da Ford.
OLIVEIRA - É a tendência de economia de escala. Precisamos
usar desenhos, peças e sistemas
que tenham sido usados e sejam eficientes. Carro todo novo
passa por amadurecimento.
FOLHA - Mas, mesmo aproveitando as peças, o Ka teve de se render
ao design padrão?
OLIVEIRA - Sem dúvida. Mas na
parte mecânica, não mudamos
nada. Para o consumidor, não
importa se aquele motor vem
do carro A, B ou C. Ele precisa
ser durável, ter um consumo
baixo e bom desempenho.
FOLHA - E como fazer o tal carro de
US$ 2.500 da Tata?
OLIVEIRA - (risos) Estou curioso
para ver esse carro. O brasileiro
teve, por muitos anos, acesso à
veículos baratos, mas que
eram... Eu não gosto do termo...
FOLHA - Carroças?
OLIVEIRA - É. Carroças, veículos
"pé-de-boi". Se os competidores atingirem tudo que oferecemos, criarão um caminho para
que todos possamos seguir.
FOLHA - Mas a própria Ford tem estudos para um carro de US$ 7.500.
OLIVEIRA - Sim. Mas qual é esse
patamar? Há um ano, falávamos em US$ 4.000. Hoje tem
gente falando em US$ 2.500...
FOLHA - Você tem vontade de voltar para os EUA?
OLIVEIRA - Para ser sincero, não
estou nem um pouco interessado. Mas há o ditado "You never
say never" [Você nunca diz
nunca]. Tudo pode acontecer...
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