São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2008

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Há 20 anos, Gol GTi inaugurava injeção

Histórias curiosas rondam VW, que hoje custaria R$ 149,1 mil, quase foi a álcool e "roubou" aerofólio do GTS

FABIANO SEVERO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando o primeiro Volkswagen Gol GTi chegou às ruas, em dezembro de 1988, o administrador Maurício R., 36, estava longe de completar 18 anos.
Via o carro passando na rua e ficava "babando". "Alimentei o sonho de ter um durante anos."
Anos mesmo. Maurício só conseguiu comprar o seu GTi da primeira geração no ano passado, depois de "namorar" muito um Gol à venda pela internet.
Ele conta que nunca teve problemas com a injeção eletrônica. "Mas ouvi uma história de que, na época, o GTi "apagava" ao sofrer interferência das antenas da avenida Paulista."
O GTi, aliás, é rodeado de histórias curiosas. Marcelo Brandão, gerente de calibração de injeção da Bosch, que fornecia o sistema LE-Jetronic para a VW, diz que, nos testes, sempre levava vários módulos de injeção e bombas de combustível reservas no porta-luvas de um Santana, o primeiro protótipo a receber o motor 2.0 "injetado".
"No início, não sabíamos como consertar o carro. Foi um trabalho duro para disseminar a cultura da injeção", lembra. Tudo por conta da gasolina que leva álcool na composição.
Falando em álcool, Brandão conta que o projeto da Volks era lançar o GTi a álcool em seguida. "O motor estava prontinho. Mas, em 1991, houve uma crise de abastecimento de álcool no país, e a Volks decidiu manter o GTi a gasolina."
Isso numa época em que a frota de carro a álcool chegava a quase 90%. Já em 1990, o protótipo despejava quase 130 cv (cavalos), contra os 120 cv do motor a gasolina que foi lançado em dezembro de 1988.
Todos esses detalhes da engenharia experimental -além de alterações de estilo e de conteúdo- mudavam o preço final do carro pré-lançamento.
Segundo Ngan Wai Hung, que, em 1988, era especialista de planejamento de produto da Autolatina -a fusão com a Ford ocorrera no ano anterior-, a intenção era criar um carro esportivo bem diferente do Gol GTS, do qual derivava.

Dois tons
Assim, havia quatro opções de GTi à disposição da diretoria, num relatório que as montadoras chamam de "Product Letter" (Carta de Produto).
O mais barato custaria, na época, o equivalente a US$ 19,5 mil -hoje, cerca de R$ 140,5 mil, segundo cálculos da FGV (Fundação Getulio Vargas). Sua previsão anual de vendas era de 2.000 unidades.
O mais caro sairia por US$ 23,2 mil (atualizado, R$ 167,2 mil), mas seriam feitas 1.200 unidades por ano.
A VW optou pela versão de US$ 20,7 mil (R$ 149,1 mil). Suas 1.740 unidades/ano tinham motor 2.0 "injetado", rodas de alumínio de aro 14, bancos Recaro, faróis de milha e de neblina, lanterna fumê e pintura em duas cores: azul e cinza.
"O [departamento de] design havia projetado um aerofólio traseiro exclusivo para o GTi, mas, na hora do lançamento, tivemos problemas com o fornecedor e usamos o do GTS mesmo, só que pintado na cor do carro", lembra Ngan.
Sucesso fez a antena no teto. Mas, dentro da VW, foi motivo de polêmica. Onde deveria ficar? "Por questões estéticas, ficou onde não deveria [atrás]. Lá o cabo da antena atravessava todo o teto e prejudicava a recepção do sinal", diz Ngan.
Agora, a marca prepara um novo Gol GTi, que deverá estrear o motor 1.4 turbo (155 cv).


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