São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 2011

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ANÁLISE

Em se tratando de carro, o nome quase sempre nada diz


O DISTRIBUIDOR BRASILEIRO DA CHINESA CHANA NÃO TEVE O MESMO PRURIDO... VAI SER UM TAL DE PÔR A CHANA PARA FORA...


PASQUALE CIPRO NETO
COLUNISTA DA FOLHA

Você compraria um carro cujo nome e/ou "sobrenome" fossem "suspeitos"? Pois o temor de que muita gente respondesse "não" a essa pergunta levou a GM a trocar "Swing" por "Wind" quando lançou aqui o Corsa.
O carrinho veio da Opel, subsidiária europeia da GM. No Velho Mundo, o "sobrenome" do Corsa era "Swing", termo que lá não tem o sentido que tem por aqui. Assim, no Brasil o "Swing" virou "Wind" ("vento", em inglês).
O distribuidor brasileiro da chinesa Chana não teve o mesmo prurido... Vai ser um tal de muita gente pôr a Chana para fora que... Bem, isso fica para o Macaco Simão.
Alguém diria que se poderia tentar para a montadora chinesa uma solução do tipo "Tomaso Buscetta" (é esse o nome do mafioso italiano). "Buscetta" se lê "buxéta", mas, com medo de que o sobrenome do bandido virasse sinônimo da marca chinesa, digo, de "vulva", o moralismo e/ou a ignorância da imprensa brasileira preferiram lascar um inexistente "h" no sobrenome do crápula. Assim surgiu "Buschetta" (que se lê "busquéta"). Pode?
O fato é que, como as montadoras são todas estrangeiras e os carros que vêm para cá vão também para muitos dos quatro cantos do mundo, o trabalho de nomear os veículos exige malabarismos que nem sempre têm final feliz. Como "criar" nomes que sejam pronunciáveis em diversas línguas, por exemplo?
Por falar em pronúncia... As próprias fábricas muitas vezes se rendem ao gosto local. A Fiat, por exemplo, nunca tentou ver o seu veterano "Mille" ser chamado de "Mille" mesmo. Por aqui, o carrinho virou "míli"; em italiano, o "e" final é "e" mesmo, e os dois eles não estão ali por mera frescura. Na língua de Dante, não se lê "palla" ("bola") como se lê "pala" ("pá"), assim como não se lê "penne" ("penas") como se lê "pene" ("pênis").
O Corsa (palavra italiana, que significa "corrida" e se lê "côrsa") aqui virou "córsa"; o Fiesta (palavra espanhola, que significa "festa" e se lê "fiêsta") aqui virou "fiésta".
Some-se a isso a incrível mania tapuia de americanizar tudo e... E, na voz de alguns locutores de anúncios, o Tempra Stile virou "stail", lembra? Ora pipocas! "Stile" é palavra italiana (significa "estilo") e se lê como se escreve (nada de pôr um "i" no início da palavra). É isso.


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