Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CAPITÃES DA INDÚSTRIA/PAULO FERRAZ
Depois de 5 lançamentos, este é ano de maturação
Presidente da Mitsubishi confirma que única novidade em 2008 será o esportivo Lancer Evolution 10
A fábrica da Mitsubishi, em Catalão (GO), completa
dez anos em 2008, mesmo ano em que o seu presidente, Paulo Ferraz, perfaz 40 no setor automotivo. Começou como vendedor de carros e hoje dirige a sexta
maior montadora de comerciais leves do país, que, dizem boatos, pode trazer carros da Suzuki, "mortos"
em 2003. Ferraz nega, mas confessa que o esportivo
Eclipse serve apenas para mostrar ao mercado que a
Mitsubishi não vive só de "off-road".
(FABIANO SEVERO)
Sempre com um tom de voz
baixo e frases pausadas, o administrador de empresas Paulo
Ferraz nem parece ser um esportista nato. Sua origem "náutica" o faz mergulhar no barro
com facilidade. Compete em
regatas e em ralis e diz que,
além dos benefícios óbvios da
atividade física, o esporte ensina a gerenciar pessoas.
Eduardo Souza Ramos, presidente do conselho de acionistas do grupo e representante da
Mitsubishi no país há 17 anos,
também compete -os dois se
conheceram ao velejar-, mas
abdicou da presidência. "Temos de nos afastar enquanto
podemos voltar. Não dava para
ter dois velejadores na firma ao
mesmo tempo", brinca Ferraz.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista que o executivo da Mitsubishi -cuja fábrica no Brasil já recebeu aporte de R$ 850 milhões de Souza Ramos e Ferraz- deu à Folha.
FOLHA - A federação dos revendedores divulgou alta de 41,2% na
venda de carros em janeiro de 2008
em comparação com janeiro de
2007. A Mitsubishi acompanhou?
PAULO FERRAZ - Não sei responder. Sei que a marca cresceu
29% em 2007 sobre 2006, pouco acima da média do mercado.
FOLHA - Mas, mesmo assim, a marca perdeu participação. Entre os comerciais leves, caiu de 7,84% em 2007 para 6,39% em janeiro.
FERRAZ - É fácil entender. Entre dezembro de 2006 e janeiro
de 2007, nós [a fábrica de Catalão] paramos 15 dias. No fim do
ano passado, paramos três semanas. Tínhamos de fazer as
últimas adaptações para a linha
de montagem da Triton. Já estamos operando com plena capacidade, com dois turnos em
determinados setores para fabricar 160 carros por dia.
FOLHA - Por isso as vendas de Pajero caíram de 1.513 unidades em dezembro para 1.062 em janeiro?
FERRAZ - Sim.
FOLHA - A Mitsubishi perdeu a sétima posição para a Hyundai no mês
passado. Como deter a Hyundai?
FERRAZ - Nós não temos produtos vis-à-vis com a Hyundai,
que tem três "crossovers": o
Tucson, o Santa Fe e o Veracruz. Nós temos dois: o Airtrek
e o Outlander, que têm limites
de fornecimento.
FOLHA - Eles têm fila de espera?
FERRAZ - Não, pois nossos concessionários sabem quantos
carros vão receber até abril.
FOLHA - O segredo é não anunciar?
FERRAZ - Bem, desde o lançamento [junho de 2007], você
não viu nenhum anúncio, viu?
Tudo está sendo vendido.
FOLHA - Por que a Mitsubishi unifica o Renavam (Registro Nacional de
Veículos Automotores) dos Pajero
Full, Sport e TR4 Flex, que são carros
completamente diferentes?
FERRAZ - Você é a primeira pessoa que me pergunta isso.
FOLHA - A marca acaba maquiando os números de venda.
FERRAZ - O Renavam não é unificado. Por lei, não pode ser. Toda a informação é da Anfavea
[associação das montadoras].
FOLHA - Mas a Anfavea não publica os três Pajero separadamente?
FERRAZ - É verdade. São três categorias. Sempre foi assim. Não
sei por que publicam assim.
FOLHA - E qual o "mix" dos Pajero?
FERRAZ - Vendemos cerca de
1.500 Pajero/mês, sendo 200
Full, 800 TR4 Flex e 500 Sport.
FOLHA - A matriz pode construir
uma segunda fábrica no Brasil?
FERRAZ - Representamos a Mitsubishi há 17 anos, e esse assunto nunca foi discutido.
FOLHA - Mas o Brasil também nunca esteve tão bem.
FERRAZ - É verdade. Para o curto prazo, não há discussão.
FOLHA - Em entrevista à Folha, Carlos Alberto de Oliveira Andrade, representante da Hyundai no Brasil, afirmou que a Mitsubishi aqui só fabrica carros ultrapassados. O que o
sr. tem a dizer?
FERRAZ - A Mitsubishi não fabrica só no Japão. Há anos, as
picapes são feitas na Tailândia.
Lá, as duas [L200 Outdoor e
Triton] continuam em linha.
FOLHA - A Mitsubishi do Brasil poderá desenvolver um carro global?
FERRAZ - O Eduardo Souza Ramos está negociando dois projetos com a Mitsubishi do Japão para 2009 e 2010.
FOLHA - São carros de passeio?
FERRAZ - Não. São carros na linha que trabalhamos hoje.
FOLHA - O Colt teria chance?
FERRAZ - [silêncio] Tem mais
coisas na mesa em discussão.
FOLHA - Fontes ligadas a Borg Warner afirmam que a Mitsubishi desenvolve um motor 2.0 16V turbo.
Virá no TR4?
FERRAZ - [silêncio] Não. Temos
programas para motores de
competição, e não de fábrica.
FOLHA - Em novembro, o sr. disse
que, se soubesse que o dólar iria cair
tanto, não teria fabricado a Triton
no país. Está arrependido?
FERRAZ - Não. Temos de fazer
escolhas. A nossa estratégia é
manter um balanço com, mais
ou menos, 60% do veículo nacional e 40% importado.
FOLHA - Não incomoda a Nissan
vender a tailandesa Frontier por um
preço menor que o da Triton?
FERRAZ - Isso é uma pergunta
que você precisa fazer para eles.
Cada um coloca o produto no
mercado como acha que deve.
Eles têm uma política agressiva
de preços, mas os preços são
equivalentes quando você compara os equipamentos.
FOLHA - A própria Nissan, quando
lançou o 350Z, disse que queria
mostrar que não tinha só "off-road". Ser só "off-road" é ruim?
FERRAZ - Nós sempre mostramos para o mercado que a marca não é só "off-road", mas enfatizamos o nosso DNA 4x4.
FOLHA - Mas a Mitsubishi hoje basicamente só tem "off-road".
FERRAZ - Não, temos Eclipse.
FOLHA - Que vende bem pouco.
FERRAZ - Sim. Vendemos justamente para dizer: "Olhe, está
aqui o nosso esportivo". São,
em média, 15 carros por mês.
Nosso negócio não é volume. A
Grandis é a mesma coisa. Vende 20 carros por mês. E temos
Airtrek e Outlander. São "crossovers", e não [só] 4x4.
FOLHA - E o novo Lancer?
FERRAZ - Traremos o Lancer
Evolution 10 até o fim do ano.
FOLHA - E quantos lançamentos a
Mitsubishi terá até dezembro?
FERRAZ - Bem, fizemos todos os
lançamentos no ano passado.
Foram cinco [Pajero TR4 Flex,
Pajero Full, Outlander, L200
Outdoor e L200 Triton]. Este é
o ano de maturação.
FOLHA - A Mitsubishi investe muito em competição. Como ela entrou
na vida do sr.?
FERRAZ - Eu e o Eduardo Souza
Ramos somos da mesma origem. Nós nos conhecemos na
náutica, mais precisamente na
vela. Somos velejadores. Faz alguns anos que parei de velejar.
Inclusive porque não dava para
ter dois velejadores na firma ao
mesmo tempo [risos].
FOLHA - O sr. compete em ralis.
FERRAZ - Ele [Eduardo] mais do
que eu. Faço rali "outdoor" e de
regularidade, e ele, de velocidade. Assim podemos entender
como funciona a atividade esportiva para a marca.
FOLHA - É uma realização pessoal?
FERRAZ - Também.
FOLHA - Há duas semanas o empresário Eike Batista falou à RedeTV!
que as competições servem para
mostrar aos funcionários que o chefe sempre gosta de desafios e de
romper barreiras. É essa a função?
FERRAZ - O esporte é essencial e
é de uma utilidade enorme para
o trabalho. O esporte ensina a
competir, a ganhar, a perder e a
perseverar num ambiente de
"fair play" [jogo limpo]. Se o cara agüenta na tensão [do esporte], tem toda a chance de
agüentar aqui dentro [da montadora], de ser um bom gerente,
um bom executivo.
FOLHA - Por que o Eduardo Souza
Ramos se afastou da presidência?
FERRAZ - Porque nós dois temos idade [risos]. E, principalmente, estamos criando a terceira geração para nós podermos nos afastar enquanto temos gás para voltar, se precisar.
Texto Anterior: Cartas Próximo Texto: Para sair da crise, Ford globaliza Fiesta Índice
|