São Paulo, domingo, 19 de novembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Consumidor entra na fila e paga ágio para ter novo Civic

Segundo Procon e Idec, clientes devem denunciar a concessionária que não cumprir prazo de entrega

DEISE DE OLIVEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A Honda ainda nem chegou ao final da lista de espera do Civic a gasolina e já há consumidores na fila para comprar a versão bicombustível, que começou a ser vendida na semana passada. Hoje, o tempo entre a compra e a entrega do carro é de, em média, três meses.
Dependendo da versão de acabamento, o ágio sobre o preço sugerido pela montadora pode chegar a R$ 7.000.
No início do mês, o empresário Jurandir de Oliveira Cardoso, 54, planejava comprar um Civic topo de linha EXS até o dia 20, quando sua mulher, Maria Aparecida, 57, fará aniversário. "Por R$ 85 mil, 9% a mais, eles arrumam um, que dizem ser desistência", diz Carvalho.
Segundo Márcia Christina Oliveira, técnica da área de produtos do Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor), cobrar ágio sobre o preço sugerido não é crime. "Ilegal é cobrar qualquer valor por fora, que não esteja no pedido. Esse delito precisa ser registrado na delegacia", afirma Oliveira.
A técnica diz ainda que, se não tiver o produto, o fabricante não pode oferecê-lo, a menos que informe se tratar de encomenda, com data para entrega.
É o caso do comerciante Leonardo Nunes Vieira, 31, que pagou R$ 2.000 acima do preço sugerido pela montadora -que é de R$ 61.745 para o LXS manual- e esperou 35 dias para recebê-lo. "Quando queremos muito uma coisa, pagamos. E as lojas se aproveitam: vendem pelo preço que querem."

Ressarcimento
O advogado Marcos Diegues, do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), alerta que, depois do negócio fechado, se o preço sofrer alteração, o consumidor pode cobrar indenização, desfazer o negócio ou pedir ressarcimento.
"Se não conseguir nada disso com o fornecedor, deve procurar a Justiça. O Código de Defesa do Consumidor prevê multa e até fechamento do estabelecimento", afirma Diegues.
Segundo o gerente-geral comercial da Honda, Alberto Pescumo Filho, a montadora não apóia a cobrança de valor acima do sugerido, porém não influencia a relação entre as concessionárias e os clientes.
"É uma relação de consumo, e o comprador decide se vai pagar", diz Pescumo. Sobre o ágio, ele orienta o cliente a procurar bons negócios nas revendas.
Para analistas de mercado, depois do lançamento de um carro, é comum a montadora fazer ajustes de produto, de preço e de acessórios.
Corrado Capellano, especialista em indústria automotiva da consultoria Roland Berger, acredita que, em busca de status e satisfação, o cliente não se importa em adiantar a compra.
"O sucesso pode ser maior que o previsto. Mas não justifica deixar de lançar", diz.
Sérgio Reze, presidente da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), concorda com a cobrança de valor acima do sugerido pela montadora, sempre que possível e de forma legal. "A formação de lista de espera nada tem a ver com falhas no planejamento das montadoras. É lei de mercado", avalia.

Fila pelo Prisma
O Chevrolet Prisma, por exemplo, há menos de um mês nas revendas, tem lista de espera de até 40 dias. De acordo com a General Motors, em outubro, antes mesmo do início das vendas oficiais, 305 carros já haviam sido emplacados.
Em agosto, a Honda lamentou, em nota no site, a lista de espera, e pediu a compreensão dos clientes. Nos planos da montadora, a situação deverá voltar ao normal até março, quando a fábrica de Sumaré (SP) aumentará a capacidade produtiva de 315 unidades por dia -entre Civic e Fit- para 360. Até junho de 2007, a marca espera chegar a 400 unidades, sendo 33% dos Civic "flex".


Texto Anterior: Montadoras só aprovam originais
Próximo Texto: Tracker volta para rivalizar com EcoSport
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.