São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2010

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China ainda fabrica o bom e velho Volkswagen Santana

Sedã tem um papel cultural importante; serve de táxi e, muitas vezes, é o primeiro automóvel de quem só andava de bicicleta

FABIANO SEVERO
ENVIADO ESPECIAL A XANGAI (CHINA)

Para qualquer lado que se olhe, veem-se uma bicicleta, um cortiço com ar-condicionado "split" e um Santana. Esteja você no centro novo ou velho de Xangai.
Para os três, há explicações razoáveis. Depois da era dos cavalos, a China adotou a "bike" -e depois a "scooter"- como o principal meio de transporte. É assim até hoje, em especial, no interior.
O clima abafado nem precisa ser tão poluído para exigir o ar nas casas ricas ou nos cortiços da era comunista.
Mas e o Santana, onde entra nessa história? O bom e velho sedã ajuda a explicar o fenômeno "automóvel".
Na China, muitos compradores emergentes estão adquirindo um carro pela primeira vez. E zero, claro. Porque praticamente não há seminovos num país que duplicou a frota em três anos.
Como a maioria não tinha carro, guardaram-se na memória as lembranças da adolescência: sedãs pretos do governo com uma autoridade esnobe no banco traseiro.
Para eles, carro bom é sedã. Se for Santana, melhor.
É que a Volkswagen, sabendo que o padrão de exigência chinês era baixíssimo, tratou de encharcar o mercado com um carro confiável -e bem melhor que as cópias das montadoras estatais do fim da última década.

TRADUÇÃO LIVRE
As trajetórias do Santana na China e no Brasil são parecidas. Ele chegou a São Bernardo (Grande SP) como um sedã inovador em 1985, ganhou luxo em 1992, perdeu luxo em 1997 e virou táxi, até morrer de vez em 2006.
Na China, levou metade do tempo para isso acontecer -e o final foi diferente. O Santana não morreu. Continua lá, firme e forte, sob os codinomes 3.000 e Vista -este, o mais "luxuoso".
O número nada tem a ver com a cilindrada. Hoje ele usa motor AP 1.8 (bem conhecido no Brasil) e tem poucos opcionais, como freios ABS e rodas de aro 14.
Assim, custa na China 99,8 mil yuans, o equivalente a R$ 26 mil. Quando saiu de linha no Brasil, em 2006, usava o mesmo motor 1.8 (99 cv), mas custava R$ 42 mil.
O Santana é feito pela Shanghai Volkswagen, uma das duas joint-ventures da marca alemã na China. A outra é a FAW Volkswagen -esta, sim, faz Jetta, Golf e outros alinhados com a Europa.
Desde 1984, para fabricar na China, é preciso fechar uma parceria com, no mínimo, 51% de capital chinês.
Em geral, a Shanghai VW é o primo pobre. Faz "traduções livres" de carros de uma geração passada, que ninguém quer na Europa e EUA.
Daí nasceram mutações de antigos Passat e Bora, inclusive o Bora que é feito no México e mal vendido no Brasil.
Ainda há muitas outras aberrações. Veem-se reestilizações de Peugeot 405 com logotipo atual da Citroën, interligando o Chevron da grade a faróis, e traseira daquelas que só a PSA sabe fazer.


O jornalista viajou a convite da Chery


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