São Paulo, sábado, 01 de dezembro de 2007

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CAPA/TEMPO DE VENDER

O OUTRO LADO DO BALCÃO

DA REDAÇÃO

Repórter infi ltrada em treinamento de vendedores de shoppings aprende a técnica do sorriso falso

Em tom emocionado, o publicitário Marcelo Chita declara à platéia de vendedores: "Você ganha a vida ajudando as pessoas a serem felizes. Quem pretendia comprar um presente acaba levando outros porque você fez com que essa pessoa lembrasse que é Natal".
Na seqüência de sua palestra motivacional, ele comenta que muitos vendedores têm vergonha de sua profissão. Pede para que todos gritem: "Eu tenho orgulho da minha profissão!". Todos gritam e batem palmas. Algumas garotas anotam a frase nos seus cadernos.
"Pare com a desculpa de que o cliente não compra por causa do preço. A pessoa compra ou não por causa do vendedor", afirma. "Se o cliente entra na loja e todos estão ocupados, você dá oi mesmo assim, pra ele ver que foi notado. Não é fácil tirar dinheiro do bolso do cliente, ainda mais tratando mal".
Para vender, sorrir é essencial, segundo o consultor. Ele ensina a técnica: pede que todos se levantem, estiquem os braços e levem as mãos à frente do rosto, como se estivessem puxando as bochechas. Todos obedecem e, num instante, a platéia inteira exibe o mesmo sorriso paralisado, como o de uma máscara. "Pensem nas contas para pagar, na mensalidade da escola do filho, e o sorriso vai brotar na cara".
Na reta final do workshop, os vendedores aprendem os dez passos para fazer uma venda perfeita no Natal. Um deles tem a ver com o gorrinho do Papai Noel: "Você faz parte do cenário, fique com cara de dezembro. Use algum elemento natalino na roupa".
Outros mandamentos incluem a busca da falsa intimidade com o consumidor e uso de falsos elogios. No quarto ato da palestra, intitulado "Dando um Show", o consultor se aprofunda na técnica do empurra: "Quando você vende um item adicional, ganha dinheiro e presta serviço ao consumidor. Tem que oferecer acessórios junto com o produto principal. Falar da blusa que vai combinar com a calça...Ofereçam! Se a pessoa disser "Acho que meu namorado vai gostar", vocês têm que falar: "ele vai gostar! '".

Despedida calorosa
No penúltimo ato, o da "Despedida Calorosa", tem-se a comprovação daquilo que quase todo mundo sabe: qualquer consumidor, pelo menos uma vez na vida, já ganhou uma placa na testa onde se lê "otário", e já caiu nesse tipo de conversa. Acompanhe o discurso de Marcelo Chita:
"Se uma mulher comprar um vestido de noite, diga: "Ficou lindo em você! Posso te pedir um favor? Me conta depois o sucesso que você fez na festa". Com todas essas recomendações, é certeza de seu dever cumprido e de seu bolso cheio".
"É hora do quê? Showtime". Chita repete o bordão e pede que todos se levantem uma última vez, agora para chamar dinheiro. "Vem dinheiro, vem dinheiro". (LM)


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