São Paulo, sábado, 03 de janeiro de 2009

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MARIA INÊS DOLCI [defesa do consumidor]

MAIS OU MENOS SEGUROS


Gerentes de banco, obrigados a cumprir metas, empurram seguros sem explicar cláusulas contratuais

JOÃO ESTAVA preocupado com seus familiares, mulher e filhos. Pequeno proprietário rural, ele percebia a deterioração de sua saúde ano após ano. Pretendia, então, fazer algo pelo futuro deles, que os ajudasse caso ele sucumbisse à enfermidade.
O que ele fez, então? Um seguro de vida na mesma agência bancária que financiava o plantio de seus sítios. Feito isso, ficou bem mais tranquilo.
Seus temores se confirmaram e ele faleceu repentinamente, para grande tristeza de seus familiares, amigos e até de pessoas que pouco o conheciam, pois era honesto, trabalhador, empreendedor e solidário.
Lamentavelmente, contudo, a seguradora não pagou a indenização, porque, quando fez o seguro, João já estava com problemas cardíacos. E, nas cláusulas do seguro, estava expresso que, se houvesse algum tipo de doença não informada, a indenização não seria paga. E não foi.
A história, verídica, se justifica porque os brasileiros começaram, nos últimos anos, a se interessar por adquirir um seguro, principalmente o de vida ou de previdência complementar. Sem contar os seguros de carros, aos quais já nos acostumamos, apesar dos preços elevados.
E também porque gerentes de banco, obrigados a cumprir metas de vendas de produtos bancários, empurram seguros para correntistas desinformados, sem explicar claramente as cláusulas contratuais.
Atenção, então, quando decidir fazer um seguro de vida. O ideal é adquiri-lo de um corretor, que deve ter um diploma, comprovando que foi aprovado em exame promovido pela Funenseg (Fundação Escola Nacional de Seguros). Jamais compre um seguro por imposição de um banco.
Se ainda assim tiver dúvidas, procure o advogado de seu sindicato ou de sua empresa, e peça para ler o contrato antes de assiná-lo.
Não adianta omitir informações para que o seguro seja aprovado, ou para que a seguradora cobre um prêmio menor (valor pago pelo segurado). É preferível um prêmio mais caro a um seguro sem valor.
O ideal é que seguros de vida sejam feitos quando a pessoa tenha plena saúde, o que costuma ocorrer antes dos 40 anos, na maioria das vezes. Os seguros para garantir a educação dos filhos, contra incêndio e contra roubos também têm suas próprias exigências, que devemos saber de antemão.
Laura me ligou outro dia, ansiosa ao extremo. Perguntei o motivo de tanta agitação. Ela me explicou que havia pensado em um tipo diferente de seguro, e que havia consultado várias seguradoras. Mas nenhuma cobria o risco que ela apresentava.
-Que seguro é esse?
-Ora, seguro contra compras compulsivas, respondeu, sem qualquer tom de ironia ou brincadeira na voz. Por exemplo, quando há uma liquidação de sapatos.
Respondi que o seguro desse gênero é sair de casa sem cartões de crédito ou cheques. E, como garantia adicional, desviar de shoppings.
Ela desligou o telefone imediatamente, sem se despedir.

http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br



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