Exposição em Nova York mostra como moda e política caminham juntas

OSMAR FREITAS JR.
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Para observadores menos atentos, moda e política, nos Estados Unidos, são misturadas apenas nas formas de bottons de campanha ou de chapéus usados em convenções partidárias. O Fashion Institute of Technology (Instituto de Tecnologia da Moda), em Nova York, demole com elegância essa impressão com a exposição "Moda & Política".
São cem peças-que vão de sapatos, passando por vestidos, acessórios, e, sim, broches que marcam posições ideológicas das americanas desde a independência do país. Espere-se, portanto, o uso e abuso de "Old Glory"-o pendão nacional. Mas também inovações, como minissaias-pôsteres, de papel, com o rosto de Richard Nixon. "A moda acompanha os movimentos políticos que empolgaram a mulher", diz Melissa Marra, cocuradora da mostra.
A exposição, porém, revela de forma peremptória o ufanismo. Por exemplo: um camisolão listrado com retângulos azuis e estrelas brancas, de 1889, usado em comemorações da independência americana. Aliás, as cores predominantes nos corredores são o azul, vermelho e branco. Principalmente nos espaços de períodos de guerra-e como houve guerras.
A maioria das peças ali tem procedência famosa: cobriram celebridades. São vários trajes de primeiras-damas, como um tailleur simples, mas elegante, de Jacqueline Kennedy, e o vestido que revela a deselegância discreta de Lady Bird, mulher de Lindon Johnson.
Esta peça contrasta com a época em que foi criada por Mainbocher, autor dos primeiros uniformes femininos para a Marinha americana. Mas, nos anos 60, quando Johnson ocupou a Casa Branca, Mainbocher ficou ultrapassado. A moda havia enlouquecido e contribuiu de modo para lá de superlativo com o vestuário feminino. Eis então a minissaia com o semblante de Nixon, ou as camisetas de protestos pela Guerra do Vietnã. Trata-se da apoteose da mostra, e depois desse segmento, a criatividade parece que nunca mais foi a mesma. E que ninguém procure, porém, algum exemplo de sutiã queimado por feministas nos anos 70: as chamas dos protestos consumiram tudo.
As roupas, claro, não estão à venda. Mas na livraria do FIT é possível comprar o catálogo da mostra (US$ 36,50).