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Tesouro sem quilates
O luxo agora é outro. Longe das joalherias, designers empurram metais e pedras para o segundo plano e inventam adornos preciosos com papel, pena, garrafa PET e até cabelo
LÍGIA MESQUITA
EDITORA-ASSISTENTE DO VITRINE
Quilates e pedras preciosas
ainda contam, sim, mas não definem uma jóia. O design pesa
cada vez mais.
A joalheria mundial passa
por uma mudança importante
operada no conceito de luxo.
Antes, a equação que dava o
preço era visível, o valor era dado pelo capital material. Hoje é
o capital cultural que conta.
Como disse a estilista Coco
Chanel, "o luxo não é o oposto
da pobreza. É o contrário da
vulgaridade'", cita Regina Machado, 53, consultora de estilo
do IBGM (Instituto de Gemas e
Metais Preciosos).
O Brasil, importante exportador de gemas, hoje também
se destaca na produção de jóias,
com trabalhos autorais de uma
leva de designers que aliam outros materiais aos tradicionais.
Um dos pioneiros na conquista do mercado externo foi o
carioca Antonio Bernardo, 60,
35 de profissão. Nos últimos
três anos ele conquistou seis
prêmios no iF Design Award,
importante premiação internacional de design. Bernardo diz
que a jóia brasileira está sendo
reconhecida.
E qual seria a identidade brasileira na jóia? "É a pluralidade.
O Brasil não é preconceituoso
com design, gosta das coisas
atuais, originais", diz Bernardo.
A designer e consultora Regina Machado enxerga alegria e
juventude nessa identidade. "A
nossa joalheria é jovem no sentido de tratamento dos materiais preciosos, tem estilo diferenciado. Há pouco mais de dez
anos éramos copiadores. Saímos para o lugar de criadores
de jóias contemporâneas", diz.
Para Bernardo, houve nos últimos 15 anos um desenvolvimento das artes aplicadas.
"Tem muitos estúdios que produzem jóias, vidros, cerâmicas.
Há um ressurgimento do artesão/designer", diz.
Por exemplo a paulistana Nami Wakabayashi, 37, arquiteta
de formação. Ela não usa brincos, nem colares ou anel, mas é
reconhecida pelos adornos que
cria. Fã do artista plástico indiano Anish Kapoor, faz um
trabalho com prata oxidada e
lava vulcânica.
Outra adepta de novos materiais é a paulistana Claudia
Cucchi, 38, que mistura ouro e
prata a latão, cobre e resina.
Cucchi estudou ourivesaria na
Itália, onde morou por dez
anos. Ela diz que o consumidor
brasileiro ainda não considera
como jóia uma criação que não
leva material precioso. "Aqui as
pessoas não sabem o que é jóia
conceitual, tudo é muito ligado
à moda. Não fazemos peças para combinar com roupa".
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