São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2008

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CRÍTICA DE LOJA [questão de gosto e opinião]

DELICADEZAS MODERNAS

Loja de inspiração portuguesa vende criações românticas


Vestidos atestam uma confiança abusada na mistura de detalhes disparatados como estampas, bordados e sianinhas

TETÉ MARTINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A loja surge quando a rua Augusta já passou da Oscar Freire e vai perdendo definitivamente a graça. Surge é modo de dizer. Na fachada da casa antiga, não há placa; só uma pequena etiqueta colada à campainha. A Alguidá, que abriu há pouco, fica na sobreloja. De cara, suas paredes com pinturas florais, roupas diáfanas penduradas em cabides originais e minijardim de inverno com cadeiras de ferro da vovó prometem um mundo de delicadezas em terra de vitrines blindadas e preços espantosos. Além de um pouco de originalidade -artigo em falta na área desde o fim da saudosa Berliner, que vendia roupas e acessórios direta ou vagamente relacionados à capital alemã, naquela quadra.
Como é de praxe nesses dias, a "bula" é entregue ao freguês sem demora. Em cinco minutos, a moça que atende já declinou o primeiro nome das donas da grife e contou que são "portuguesas angolanas". Nas araras, vestidos vaporosos atestam a preferência pelos tecidos naturais e uma confiança abusada na mistura de detalhes disparatados: estampas de lenço, algodões tingidos de cores diferentes, bordados inspirados em azulejos, sianinhas. Lembram outra marca saudosa, a Udi La Gallina, de uma italiana doida que, no século passado e não muito longe dali, misturava estampas e aviamentos com gosto e liberdade; e cujas criações, à falta de almoços campestres e ocasiões glamourosas do tipo, acabamos usando na festa junina das crianças.
As peças da Alguidá, é certo, poderiam ter um destino melhor. Mesmo sendo, no fundo, extremamente românticas, com idéias tiradas de velhas camisolas, têm desenhos competentes e uma pegada contemporânea, resultando em boas mangas, boas golas, bom caimento.
O drama é o preço, que, casinha antiga com escada de granilite à parte, não nega a vizinhança. Com 40% de desconto, uma blusa de algodão custa R$ 400 e alguma coisa; uma camiseta sem manga de malha estampada, R$ 150.
Às pobretonas de bom gosto, restam as curiosas baciadas de acessórios incomuns: grandes laços de tafetá para usar como broches, pulseiras de contas, cintos de fita. E as taças desparceiradas, algumas bem bonitas, vendidas por R$ 15 cada uma, à guisa de "coisas para a casa" -um peixe que a loja vende, mas quase não entrega.


ONDE ENCONTRAR
Alguidá, r. Augusta, 2.890, Cerqueira César, tel. (11) 3063-3575, São Paulo



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