|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
A ARTE DE COMPRAR [técnicas para escolher bem]
BACALHAU DE VERDADE
O chef português Vitor Sobral ensina a reconhecer a iguaria e revela segredos culinários
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Dois meses atrás, o chef português Vitor Sobral veio ao Brasil dar um aula e fez um único
pedido: "Não tirem a pele nem
a espinha do bacalhau". Ao conferir os ingredientes, deparou-se com um bacalhau de primeira e... completamente "limpo".
Exigiu que comprassem outro.
A solicitação não era frescura. O chef, que inaugura em junho o restaurante Di'Vinus,
nos Jardins, quis aproveitar o
mal-entendido para preparar
ambos e provar, na prática, que
o bacalhau cozido -com a pele
e a espinha- fica com textura e
suculência incomparáveis.
Durante um passeio pelo
Mercado Municipal de São
Paulo, Sobral arregala os olhos
ao ouvir que o destino da pele
do bacalhau é o lixo. "Vou começar a comprá-la", diz ele a
Márcio Correia, dono da Galeria do Bacalhau. "Sei que a pele
dá um sabor maravilhoso, mas,
se eu não tirar, ninguém compra", responde o comerciante.
"A pele e a espinha são fundamentais para dar gosto e aroma
e para segurar a umidade do
peixe. Devem ser tiradas só na
hora de servir", explica Sobral.
Na banca do Ramon, ele pára
e faz uma apologia ao bacalhau
de carne amarela. O vendedor
Daniel Albano concorda: "Ah, a
gente dá essa dica, mas os clientes acham que queremos empurrar um peixe velho".
Adiante, no Empório Chiappetta, o chef foi para trás do balcão para mostrar como cortar o
peixe. Um dos donos de lá, Leonardo Chiappetta, vem ver o
que se passa. Leva o chef até um
quadro, onde há vários peixes
desenhados, e explica que, no
Brasil, todos os peixes abertos e
salgados levam igualmente o
nome de bacalhau. Saithe, ling
e zarbo, apesar de serem vendidos como bacalhau, são peixes
de outras espécies.
O bacalhau mais nobre, considerado pelos especialistas o
legítimo, é o Gadus morhua, ou
"do Porto". "Em Portugal, nós
só temos esse, e o que define a
qualidade é o tamanho. Este
aqui [aponta o saithe na tabela]
também se vende lá, mas ninguém o chama de bacalhau. É o
escamudo."
Chiappetta diz que, no empório, eles separam em ambientes distintos os dois tipos.
Na esquina, fica o mais barato:
o Gadus macrocephalus, ou da
Noruega, um tipo de bacalhau
menos nobre. À direita, no fundo, o morhua.
"Um grelhado com o macrocephalus e um com o morhua
dão pratos completamente diferentes. Agora, se fizer uma
receita com muitos ingredientes, a qualidade [do morhua]
começa a sumir, não se nota",
diz Chiappetta.
onde encontrar
BANCA DO RAMON
r. da Cantareira, 306, rua B,
box 7, Mercado Municipal,
tel. (11) 3313-4091, São Paulo
EMPÓRIO CHIAPPETTA
r. da Cantareira, 306, rua G,
box 8, Mercado Municipal,
tel. (11) 3228-1497, São Paulo
GALERIA DO BACALHAU
r. da Cantareira, 306, rua
H, boxes 15/17/19, Mercado
Municipal, tel.(11)3227-6727,
São Paulo
Texto Anterior: MARIA INÊS DOLCI Próximo Texto: O corte Índice
|