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DIA DO CONSUMIDOR
Publicidade infantil na rede é alvo de críticas
Entidades alertam contra sites de alimentos com apelo lúdico
DÉBORA MISMETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O uso de sites como ferramenta de publicidade dirigida a
crianças é um dos alertas da
pesquisa do Idec (Instituto
Brasileiro de Defesa do Consumidor) e do projeto Criança e
Consumo do Instituto Alana,
divulgada nesta semana.
O trabalho constatou que, de
12 multinacionais produtoras
de alimentos, 10 mantêm sites
que promovem as guloseimas,
9 deles com jogos interativos e
brincadeiras. A pesquisa também monitorou a publicidade
na programação infantil em
dois canais de televisão aberta
(SBT e Globo) e a cabo (Cartoon Network e Discovery
Kids), em janeiro e fevereiro
deste ano.
Um dos jogos propostos pelos sites das marcas de alimentos é o da bolacha Passatempo,
da Nestlé. Seguindo uma lista
de compras, é preciso selecionar, entre chocolates e pacotes
de biscoitos, o que vai entrar no
carrinho de supermercado. Se
algum item errado entrar na
compra, a "grana" some mais
rápido. Ao identificar corretamente as embalagens de bolachas, a criança passa de fase.
O problema da manutenção
desses sites e da publicidade na
televisão, segundo o estudo, é
que eles estariam em contradição com compromissos assumidos pelas multinacionais nos
Estados Unidos, na União Europeia e junto à Organização
Mundial da Saúde.
As empresas Burguer King,
Cadbury Adams, Coca-Cola,
Danone, Ferrero, General
Mills, Hershey, Kraft, Kellogg's, Mars, McDonald's, Nestlé, Pepsico e Unilever, que
atuam no Brasil, assinaram
acordos em que se comprometem, em linhas gerais, a não
anunciar alimentos não considerados saudáveis para crianças menores de 12 anos.
Para estabelecer o que é um
alimento não saudável, cada
empresa publicou critérios nutricionais. Segundo o Idec e o
Alana, esses parâmetros não
são seguidos no Brasil. Os institutos consideram isso uma diferença de tratamento entre
consumidores brasileiros e
americanos e europeus.
As entidades apontam que os
sites de Burguer King, Bubbaloo (Cadbury), Toddynho e
Cheetos (Pepsico), Kinder Ovo
(Ferrero), Kapo (Coca-Cola),
Danoninho (Danone), Sucrilhos (Kellogg's), Passatempo e
Chamyto (Nestlé) não poderiam conter apelos dirigidos
para crianças.
Comerciais de TV do McLanche Feliz e do cereal Estrelitas
de Mel, da Nestlé, foram considerados irregulares, por anunciarem produtos que excederiam os limites impostos pelas
próprias empresas nos acordos
internacionais.
A coordenadora do projeto
Criança e Consumo do Instituto Alana, Isabella Henriques,
diz que a publicidade na internet é tão prejudicial quanto a
de TV. "A audiência é menor,
mas o impacto é o mesmo.
Quando a criança vai na internet, procura o jogo, a diversão, e
recebe a publicidade."
No debate de lançamento da
pesquisa, as entidades defenderam a aprovação da regulamentação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)
sobre anúncios de alimentos. A
consulta pública 71 de 2006
prevê limites de açúcar, gordura e sal para alimentos anunciados na mídia e restringe o uso
de personagens na publicidade.
Representantes da ABA (Associação Brasileira de Anunciantes) e da Abap (Associação
Brasileira de Agências de Publicidade) compareceram ao
evento e se disseram favoráveis
à discussão de restrições, mas
não à proibição de anúncios e
de personagens.
Rafael Sampaio, vice-presidente da ABA, defendeu a aplicação integral das regras do Conar (Conselho de Autorregulamentação Publicitária) e disse
que, se for aprovada, a regulamentação da Anvisa será inconstitucional.
Sampaio negou que a publicidade seja a principal causa do
aumento da obesidade infantil,
como afirmaram alguns dos debatedores. "A mundaça de hábito da população em direção a
alimentos processados não vai
ser mudada pela publicidade."
Para o assessor da Abap Stalimir Vieira, a ideia da proibição
da publicidade "assusta". "Não
podemos ideologizar o processo. Não podemos decretar pensamento único." Vieira afirmou
que o marketing pode ser usado
como aliado na causa do combate à obesidade infantil. "É
preciso criar uma cultura, assim como foi feito com a conscientização ambiental", disse.
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