São Paulo, sábado, 14 de março de 2009

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DIA DO CONSUMIDOR

Publicidade infantil na rede é alvo de críticas

Entidades alertam contra sites de alimentos com apelo lúdico

DÉBORA MISMETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O uso de sites como ferramenta de publicidade dirigida a crianças é um dos alertas da pesquisa do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) e do projeto Criança e Consumo do Instituto Alana, divulgada nesta semana.
O trabalho constatou que, de 12 multinacionais produtoras de alimentos, 10 mantêm sites que promovem as guloseimas, 9 deles com jogos interativos e brincadeiras. A pesquisa também monitorou a publicidade na programação infantil em dois canais de televisão aberta (SBT e Globo) e a cabo (Cartoon Network e Discovery Kids), em janeiro e fevereiro deste ano.
Um dos jogos propostos pelos sites das marcas de alimentos é o da bolacha Passatempo, da Nestlé. Seguindo uma lista de compras, é preciso selecionar, entre chocolates e pacotes de biscoitos, o que vai entrar no carrinho de supermercado. Se algum item errado entrar na compra, a "grana" some mais rápido. Ao identificar corretamente as embalagens de bolachas, a criança passa de fase.
O problema da manutenção desses sites e da publicidade na televisão, segundo o estudo, é que eles estariam em contradição com compromissos assumidos pelas multinacionais nos Estados Unidos, na União Europeia e junto à Organização Mundial da Saúde.
As empresas Burguer King, Cadbury Adams, Coca-Cola, Danone, Ferrero, General Mills, Hershey, Kraft, Kellogg's, Mars, McDonald's, Nestlé, Pepsico e Unilever, que atuam no Brasil, assinaram acordos em que se comprometem, em linhas gerais, a não anunciar alimentos não considerados saudáveis para crianças menores de 12 anos.
Para estabelecer o que é um alimento não saudável, cada empresa publicou critérios nutricionais. Segundo o Idec e o Alana, esses parâmetros não são seguidos no Brasil. Os institutos consideram isso uma diferença de tratamento entre consumidores brasileiros e americanos e europeus.
As entidades apontam que os sites de Burguer King, Bubbaloo (Cadbury), Toddynho e Cheetos (Pepsico), Kinder Ovo (Ferrero), Kapo (Coca-Cola), Danoninho (Danone), Sucrilhos (Kellogg's), Passatempo e Chamyto (Nestlé) não poderiam conter apelos dirigidos para crianças.
Comerciais de TV do McLanche Feliz e do cereal Estrelitas de Mel, da Nestlé, foram considerados irregulares, por anunciarem produtos que excederiam os limites impostos pelas próprias empresas nos acordos internacionais.
A coordenadora do projeto Criança e Consumo do Instituto Alana, Isabella Henriques, diz que a publicidade na internet é tão prejudicial quanto a de TV. "A audiência é menor, mas o impacto é o mesmo. Quando a criança vai na internet, procura o jogo, a diversão, e recebe a publicidade."
No debate de lançamento da pesquisa, as entidades defenderam a aprovação da regulamentação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) sobre anúncios de alimentos. A consulta pública 71 de 2006 prevê limites de açúcar, gordura e sal para alimentos anunciados na mídia e restringe o uso de personagens na publicidade.
Representantes da ABA (Associação Brasileira de Anunciantes) e da Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade) compareceram ao evento e se disseram favoráveis à discussão de restrições, mas não à proibição de anúncios e de personagens.
Rafael Sampaio, vice-presidente da ABA, defendeu a aplicação integral das regras do Conar (Conselho de Autorregulamentação Publicitária) e disse que, se for aprovada, a regulamentação da Anvisa será inconstitucional.
Sampaio negou que a publicidade seja a principal causa do aumento da obesidade infantil, como afirmaram alguns dos debatedores. "A mundaça de hábito da população em direção a alimentos processados não vai ser mudada pela publicidade."
Para o assessor da Abap Stalimir Vieira, a ideia da proibição da publicidade "assusta". "Não podemos ideologizar o processo. Não podemos decretar pensamento único." Vieira afirmou que o marketing pode ser usado como aliado na causa do combate à obesidade infantil. "É preciso criar uma cultura, assim como foi feito com a conscientização ambiental", disse.


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