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BELEZA
NATURAL, ‘PERO NO MUCHO’
Nem sempre o que o marketing vende corresponde à realidade; saiba o que vai dentro dos cosméticos
DANAE STEPHAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A indústria brasileira descobriu há alguns anos o poder que
o apelo natural exerce sobre a
venda de cosméticos. A busca
por produtos menos agressivos
ao organismo e ao ambiente é
uma tendência mundial, e seria
de se esperar que o Brasil, com
sua biodiversidade, fizesse parte desse movimento.
O problema é que, enquanto
nos países desenvolvidos esse
crescimento se dá por marcas
certificadas, muitas orgânicas,
por aqui o que mais se vê nas
prateleiras são falsos naturais:
têm rótulos apelativos, embalagens recicláveis, nomes sugestivos e até ingredientes da
Amazônia. Já as fórmulas pouco diferem das convencionais.
Mesmo que contenham os
ativos descritos nas embalagens (os extratos de açaí, cupuaçu e pitanga são os da moda), isso não significa que eles
sejam naturais. As concentrações de óleos essenciais e extratos naturais são normalmente
muito baixas, e o restante da
fórmula inclui corantes, conservantes e outros ingredientes
que impossibilitam sua classificação como natural.
"Isso quando o "contém frutas vermelhas" do rótulo não se
refere ao aroma artificial das
frutas, e não ao extrato natural", diz Fernando Lima, dono
da Florestas, marca nacional de
cosméticos orgânicos.
Estudos alertam sobre a periculosidade de determinadas
substâncias largamente usadas
em cosméticos. Os mais polêmicos hoje são os parabenos, o
triclosan e o lauril sulfato de sódio. O óleo mineral, derivado
do petróleo, já esteve na berlinda, mas como as pesquisas nada
concluíram, continua sendo
usado em óleos de banho e hidratantes, inclusive infantis.
O primeiro especialista a levantar os riscos dessas substâncias foi o médico Samuel
Epstein, no livro "Unreasonable Risk" (inédito no Brasil).
"Ele considera os parabenos,
por exemplo, carcinogênicos
escondidos. Ou seja, não provocam câncer, mas estimulam
uma divisão celular anômala
em indivíduos com predisposição a desenvolver a doença",
diz a engenheira química especializada em cosmetologia Sonia Corazza.
As pesquisas na área são esporádicas, e muitos componentes nunca foram estudados a
fundo. Outros foram testados
em animais, com resultados
preocupantes, mas não em humanos. Outros estudos ainda
relacionam certas substâncias
ao câncer ou a má-formação fetal, mas se usados em doses
muito maiores do que a encontrada em cosméticos.
Para fabricantes, isso prova a
segurança dos produtos. Para
os ativistas, a ciência está desconsiderando um fato importante: eles são usados diariamente, e em grandes quantidades. "Uma pessoa normal usa
no mínimo dez cosméticos todos os dias", afirma o professor
de cosmetologia Mauricio Pupo, formado pela PUC-Campinas. "Ninguém sabe ao certo o
que essa exposição diária pode
causar". Os cosméticos que ficam em contato com a pele são
ainda mais preocupantes. "Depois de oito horas, 60% dos parabenos são absorvidos. Se o hidratante contiver uréia, essa
absorção é potencializada", diz.
Mesmo substâncias reconhecidamente seguras, como o
dióxido de titânio (um filtro solar físico), não estão livres de
problemas. "Ele é extremamente tóxico, mas, como é usado superficialmente, não representa perigo. Porém, com a
nanotecnologia, ele é reduzido
a um tamanho que permite sua
absorção pela pele", diz Sonia
Corazza. "Na dúvida, prefiro os
feitos à base de óxido de zinco."
Na esteira das polêmicas, algumas marcas preferem não
correr riscos. A recém-lançada
Ada Tina é livre de parabenos e
óleo mineral, não usa ingredientes sob suspeita pelos principais organismos internacionais e não compra matérias-primas testadas em animais. A
linha para bebês Millebolleblu
e a Prophyto, da Cosmética,
também nasceram com um
conceito semelhante. "Os três
ingredientes mais reativos são
os corantes, os conservantes e
as fragrâncias, por isso usamos
apenas corantes e aromas naturais, e a menor quantidade possível de conservantes", afirma a
química Eliane Dornellas, da
Cosmética.
Hoje, essa é também a posição da Natura, que até 2006 tinha todos esses ingredientes
em suas fórmulas, inclusive nas
maquiagens. "Se há controvérsia e existe um substituto viável, não esperamos um estudo
definitivo e fazemos a substituição", diz Marcos Vaz, diretor
de serviços técnicos.
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