|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Bagagem (compras mundo afora)
Bond Street: A rua mais cara do mundo
O endereço londrino que concentra as grifes de alto luxo acaba de bater a Quinta Avenida, de Nova York, em preços de aluguel: agora é aguentar o esnobismo dos lojistas que ocupam os metros quadrados mais valiosos do planeta
RAFAEL CARIELLO
DE LONDRES
O porteiro, vestido a caráter,
abre um sorriso largo enquanto
avalia o grupo de possíveis
clientes. Após tomar a sua decisão (a presença da assessora de
imprensa inglesa deve ter ajudado alguma coisa), ele dá duas
leves batidinhas no vidro da
porta da Cartier e então um
funcionário lá de dentro gira a
chave e permite a entrada de
repórter e fotógrafa.
Quando se está na rua mais
cara do mundo, endereço de
grifes como Gucci, Chanel e outras tantas, há que se seguir certas regras. A Bond Street, no
West End londrino, acaba de
ultrapassar a Quinta Avenida,
em Nova York, como a rua comercial com o aluguel mais alto
do planeta, segundo pesquisa
da Colliers International.
O preço anual pago por cada
pé quadrado (cerca de 0,1 metro quadrado) ali é de US$
1.400, contra os US$ 1.350 gastos do outro lado do Atlântico.
O endereço tranqüilo fica
próximo a Piccadilly Circus e
sua multidão de turistas. Mas
aqui não há dólar barato que os
ajude. Na Cartier, as jóias mais
caras são tabeladas em euros.
Enquanto acompanha a reportagem, a moça que parece
ter acabado de sair do banho
(muito bem, outra regra da
Bond Street; ninguém fala pelas lojas, nenhum nome pode
ser citado) explica que essa é a
moeda usada para uniformizar
os preços das lojas de Londres,
Paris e Nova York.
Por exemplo, o colar de contas de rubis e enfeite de esmeralda na "high jewelry room"
custa 1,575 milhão de euros.
Duas quadras adiante, a marca de moda jovem Diesel. Para
os padrões locais, "baratinha".
O gerente se apressa a dizer que
para estar na Bond Street, é
preciso se adaptar. "Aqui está
só o "premium end" da coleção",
diz, cabelo espetado, barba calculadamente por fazer.
No andar de baixo, um cavalo
em tamanho natural e dourado
ocupa boa parte da vitrine. Ele
comenta: "Amei. Fantástico,
não é?", diz, enquanto mostra
um casaco preto de 900 libras.
O ambiente é radicalmente
diferente na Asprey, tradicional loja inglesa de altíssimo luxo que vende de jóias e roupas a
livros raros. A única coisa menos sóbria ali é o lema: "It can
be done" (pode ser feito).
Tipo o quê? Tipo gravar as
iniciais na prataria ali comprada, encomendar livros raríssimos, customizar vestidos. Mas
se o sujeito está disposto a pagar 32 mil libras num vestido
(uma espécie de apartamento
costurado a mão), não deve
querer mudar muita coisa nele.
Tudo é silencioso na loja, os
vendedores mantêm certa reserva inglesa em relação aos
clientes. Nada que se compare
ao ar de aristocrata do gerente.
Bochechas rosadas, olhos
azuis, ele suspira quando a reportagem pergunta sobre o fato
de a Bond Street ter ultrapassado a sua rival norte-americana.
"A Quinta Avenida hoje se parece com a Oxford Street", diz,
em referência à rua londrina de
consumo de massa. "Por isso
nossa loja nos EUA se mudou
de lá para a avenida Madison. É
um endereço mais exclusivo."
Texto Anterior: Duilio Ferronato vai às compras (colunista em campo): Meu quadrado no centro Próximo Texto: Crítica de loja: Perfumes, princesas e imaginação além da conta Índice
|