São Paulo, sábado, 27 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bagagem (compras mundo afora)

Bond Street: A rua mais cara do mundo

O endereço londrino que concentra as grifes de alto luxo acaba de bater a Quinta Avenida, de Nova York, em preços de aluguel: agora é aguentar o esnobismo dos lojistas que ocupam os metros quadrados mais valiosos do planeta

RAFAEL CARIELLO
DE LONDRES

O porteiro, vestido a caráter, abre um sorriso largo enquanto avalia o grupo de possíveis clientes. Após tomar a sua decisão (a presença da assessora de imprensa inglesa deve ter ajudado alguma coisa), ele dá duas leves batidinhas no vidro da porta da Cartier e então um funcionário lá de dentro gira a chave e permite a entrada de repórter e fotógrafa.
Quando se está na rua mais cara do mundo, endereço de grifes como Gucci, Chanel e outras tantas, há que se seguir certas regras. A Bond Street, no West End londrino, acaba de ultrapassar a Quinta Avenida, em Nova York, como a rua comercial com o aluguel mais alto do planeta, segundo pesquisa da Colliers International.
O preço anual pago por cada pé quadrado (cerca de 0,1 metro quadrado) ali é de US$ 1.400, contra os US$ 1.350 gastos do outro lado do Atlântico.
O endereço tranqüilo fica próximo a Piccadilly Circus e sua multidão de turistas. Mas aqui não há dólar barato que os ajude. Na Cartier, as jóias mais caras são tabeladas em euros.
Enquanto acompanha a reportagem, a moça que parece ter acabado de sair do banho (muito bem, outra regra da Bond Street; ninguém fala pelas lojas, nenhum nome pode ser citado) explica que essa é a moeda usada para uniformizar os preços das lojas de Londres, Paris e Nova York.
Por exemplo, o colar de contas de rubis e enfeite de esmeralda na "high jewelry room" custa 1,575 milhão de euros.
Duas quadras adiante, a marca de moda jovem Diesel. Para os padrões locais, "baratinha". O gerente se apressa a dizer que para estar na Bond Street, é preciso se adaptar. "Aqui está só o "premium end" da coleção", diz, cabelo espetado, barba calculadamente por fazer.
No andar de baixo, um cavalo em tamanho natural e dourado ocupa boa parte da vitrine. Ele comenta: "Amei. Fantástico, não é?", diz, enquanto mostra um casaco preto de 900 libras.
O ambiente é radicalmente diferente na Asprey, tradicional loja inglesa de altíssimo luxo que vende de jóias e roupas a livros raros. A única coisa menos sóbria ali é o lema: "It can be done" (pode ser feito).
Tipo o quê? Tipo gravar as iniciais na prataria ali comprada, encomendar livros raríssimos, customizar vestidos. Mas se o sujeito está disposto a pagar 32 mil libras num vestido (uma espécie de apartamento costurado a mão), não deve querer mudar muita coisa nele.
Tudo é silencioso na loja, os vendedores mantêm certa reserva inglesa em relação aos clientes. Nada que se compare ao ar de aristocrata do gerente.
Bochechas rosadas, olhos azuis, ele suspira quando a reportagem pergunta sobre o fato de a Bond Street ter ultrapassado a sua rival norte-americana. "A Quinta Avenida hoje se parece com a Oxford Street", diz, em referência à rua londrina de consumo de massa. "Por isso nossa loja nos EUA se mudou de lá para a avenida Madison. É um endereço mais exclusivo."


Texto Anterior: Duilio Ferronato vai às compras (colunista em campo): Meu quadrado no centro
Próximo Texto: Crítica de loja: Perfumes, princesas e imaginação além da conta
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.