São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 2009

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OBJETOS RURAIS

Cada um com seu cada qual

Quem é bom de copo sabe que toda bebida pede um formato específico; mas vale separar o bom senso da pura frescura




RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

O momento de maior terror da vida de Bertrand Russell (1872-1970), filósofo, matemático e militante pacifista britânico, envolveu o uso errado de copos. Quando tinha 17 anos, o ganhador do Nobel de Literatura estava em um jantar em homenagem a William Gladstone (1809-1898), três vezes primeiro-ministro britânico, a caminho da quarta vez. No final, Gladstone vociferou indignado, para desespero de Russell, que lhe tinham servido vinho do porto em um copo de vinho tinto. Escândalo!
Frescura? Nem tanto. Você não tomaria uma Veuve Clicquot em copo de plástico. Cada bebida tem seu copo certo, com uma forma determinada historicamente, mesclando tradição e praticidade. Claro, também há uma dose de frescura e esnobismo na busca do copo ideal.
Por exemplo, o nome "cristal" soa bem mais imponente do que "vidro". E, de fato, os copos de cristal são de melhor qualidade. Mas também são de vidro. Cristal é só o nome chique dado a um vidro que usou mais óxido de chumbo na fabricação, resultando em um produto de melhor transparência.
E transparência é fundamental. Parte do prazer da bebida é ver a sua cor. Isso vale tanto para vinhos e suas várias gradações cromáticas, que servem também para sua avaliação pelos especialistas, como para coquetéis. Um tequila "sunrise" tem esse nome porque a grenadina (xarope de romã) no fundo do copo cria um efeito degradê com o suco de laranja que lembra o nascer do Sol.
O copo básico para coquetéis é o alto, cilíndrico e com base grossa. Ele é usado para coquetéis simples que envolvem grandes quantidades de líquido e de gelo, como gim tônica, "screw driver" (vodca e suco de laranja) ou "cuba libre".
Um bom exemplo é o Amassadinho, copo de vidro da empresa Nadir com reentrâncias na base ideais para segurá-lo. Coquetéis "transpiram" muito, e o risco de escorregar da mão é amenizado por esse detalhe.
Os copos de vinho tinto básico são de origem francesa. O copo de borgonha (uvas como pinot noir) é mais bojudo, o de bordô (cabernet, merlot) é mais alto. A boca sempre tem diâmetro menor para facilitar o acúmulo de aromas.
Baseados em sutilezas organolépticas como essas os fabricantes mais famosos, como a austríaca Riedel, têm copos para variedades de uvas de vinhos -para cabernet franc e cabernet sauvignon, por exemplo.
O bom senso indica que basta ter um bom copo para tinto e outro, menor, para branco.
Já o copo para champanhe e espumantes tem que ser o "flûte". Alto e com boca estreita, permite um melhor desenvolvimento das bolhas de gás, ao contrário das taças largas.
O copo de vinho é o que mais exige transparência. Mas convém não ser muito xiita. Uma haste colorida não chega a afetar tanto a visualização.
A variedade dos copos deve obedecer a uma regra básica: o que se bebe e com qual frequência? Quem nunca bebe "brandies" (conhaques) não precisa daquele bonito copo bojudo com haste pequena.
Apesar de estar entre as bebidas mais caras, o uísque pede apenas um copo baixo com base pesada. Para o saquê, há dois modelos básicos, o pequeno "choko" ou o maior, de forma quadrada, "massu", em geral acompanhado por um pires do mesmo formato.


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