Degustação? Só com brilho!

Dizem que o menu-degustação morreu, mas enganam-se: está vivinho da Silva!

Conteúdo restrito a assinantes e cadastrados Você atingiu o limite de
por mês.

Tenha acesso ilimitado: Assine ou Já é assinante? Faça login

alexandra forbes

Anda em voga o discurso de que o menu-degustação morreu. Dizem que deu o que tinha que dar, que ninguém aguenta mais passar mais de três horas comendo e bebendo. Pois enganam-se: ele está vivinho da Silva, isso sim!

Acabo de voltar de quatro dias em Marbella, na Espanha, degustando sem parar, dia e noite. O clímax da comilança foi o longuíssimo menu-degustação do chef Dani Garcia, a estrela da região. Começamos com uma gigante travessa de "amuse-bouches" originalíssimos sobre musgos e algas e terminamos 21 pratos e 13 vinhos depois.

O chef espanhol Joan Roca, chef do El Celler de Can Roca, terceiro melhor restaurante do mundo, segundo o ranking 50 Best - Sebastião Moreira/EFE

Na noite seguinte, encarei outra longa sucessão de bocados criativos preparados por nada menos do que 23 chefs, no mesmo restaurante, em um jantar que homenageava Juan Mari Arzak, o basco considerado pai da gastronomia espanhola moderna.

Entre eles, celebridades como os chefs Gastón Acurio e Quique Dacosta. Duas semanas atrás, passei por maratona ainda mais intensa na Catalunha. Sentei-me para almoçar no pluriestrelado El Celler de Can Roca, em Girona, às 14h e só terminei às…. 19h! Estava tudo tão bom que nem deu tempo de notar a passagem das horas.

Nem jantei para conseguir no dia seguinte fazer mais dois menus-degustação. Um mais clássico, no Moments, o restaurante com duas estrelas Michelin no hotel Mandarin Oriental. E outro (com mais de 30 bocados!) no ambiente surrealista e futurista do Enigma, nova casa do chef-celebridade Albert Adrià.

Ambos em Barcelona e ambos excelentes. No mundo da alta cozinha não conheço nenhum chef que  tenha abolido o menu-degustação, pela simples razão que ainda não inventaram um formato melhor para um chef exibir seu talento.

Vários chefs famosos abriram nos últimos anos restaurantes casuais sem os luxos  típicos dos gastronômicos clássicos, como toalhas de mesa, porcelanas e garçons engravatados.

Mas mesmo em seus salões descontraídos seguem servindo… menu-degustação!  Exemplos abundam, como Oteque e Lasai no Rio e A Casa do Porco e Esquina Mocotó em São Paulo. Eu já não tenho a mesma disposição para encarar longuíssimas refeições que tinha uns anos atrás.

Mas ainda rendo-me aos encantos de um menu-degustação preparado e servido com brilho. Eis aí o xis da questão. É quando um chef falha ao invés de brilhar que uma degustação transforma-se em martírio. E brilhar é coisa para poucos...

Relacionadas