Chef David Chang, do Momofuku, brilha em série de TV

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Não tenho televisão nem paciência para assistir a qualquer um dos milhões de programas de culinária em cartaz atualmente.

Já vi clipes simpáticos de chefs cozinhando alegremente e gostei —mas não a ponto de querer ver um episódio inteiro. Prefiro cozinhar do que ver os outros cozinharem.

Se antes era só na tevê, agora tem gente ensinando receitas no Instagram, no YouTube, em sites de revistas… chefs, não-chefs, gatinhas malhadas, neófitos, machões bons de grelha…

O chef americano-coreano David Chang, dos restaurantes Momokuku - Tara Ziembra/AFP

Outra categoria que explodiu é a dos realities —vide o renascimento de Erick Jacquin, que foi de chef-restaurateur falido a megastar graças ao MasterChef.

Há ainda os programas de culinária no estilo viaje sem levantar da poltrona. Encaixam-se neste formato o maior dos heróis televisivos, Anthony Bourdain (de “Parts Unknown”, exibido na CNN) e a série açucarada “Chef’s Table”, que endeusa chefs famosos em episódios biográficos.

Não sou contra qualquer um destes. Mas só uma série como a nova “Ugly Delicious”, incategorizável e atrevida, que estreou em fevereiro na Netflix, me faz passar horas grudada numa tela.

O protagonista é o desbocado David Chang, americano-coreano que se tornou um dos chef-restaurateurs mais famosos e poderosos do mundo, dono dos restaurantes Momofuku e muito mais.

Um dos oito episódios é sobre churrasco, outro sobre tacos e outro sobre pizzas. Editados com pegada pop, ensinam muito sobre as tradições culinárias de diferentes culturas sem serem cacetes. O tom é de brincadeira mas a mensagem é forte. 

Para Chang, muitos conceitos tidos como verdades são preconceituosos. Ele prova que comidas consideradas étnicas, populares, rápidas e baratas podem ter a mesma nobreza, gostosura e sofisticação associadas à alta gastronomia de base francesa.

Ataca ditadores que ditam que tal receita é autêntica e todas as variantes impostoras de menor valor.

Em “Ugly Delicious” (ou o delicioso feio, sua definição de comida caseira), Chang aborda tabus com muito humor, entrevista personagens deliciosos sem medo de cutucar feridas e viaja o globo comendo e fazendo o espectador babar.

A comida importa, mas o afeto, as tradições e as relações humanas importam mais. Devorei a série como se fora um banquete chinês.

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