Descrição de chapéu

No embalo do Cacique

Apesar de 'problematizada', fantasia de índio se impôs no Carnaval

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A atriz Paolla Oliveira fantasiada de índia - Reprodução Instagram/paollaoliveirareal

Assim como o glitter, a saia de tule, a tiara com chifres e o xixi na rua, a problematização incorporou-se ao Carnaval. Cigano, enfermeira, nega maluca, árabe, china-pau e até homem vestido de mulher —nada disso pode.

Este ano as baterias do politicamente correto concentraram-se nas penas coloridas. A ativista Katú Mirim lançou na internet a campanha #ÍndioNãoÉFantasia, na qual defende que o uso de trajes indígenas é um ato ofensivo e racista.

Fora das redes sociais, no entanto, a bronca caiu no vazio. Na hora da brincadeira, o visual selvagem se impôs. No Rio, uma deslumbrante Paolla Oliveira, de cocar e pintura no rosto, parou o Baile do Sarongue (ainda tem gente que brinca de sarongue?). No sambódromo de São Paulo, uma não menos maravilhosa Viviane Araújo, à frente da bateria da Mancha Verde, lembrou uma comanche de Hollywood com tufão nos quadris. Na Marquês de Sapucaí, o ponto alto no desfile do grupo de acesso foi o último carro da Renascer de Jacarepaguá: mostrou um boneco gigante de Heitor Villa-Lobos regendo uma orquestra sinfônica formada por índios da Amazônia.

Mas o melhor ficou para o domingo gordo. Como acontece desde 1961, o embalo do Cacique de Ramos ganhou as ruas, sob a batuta de Ubirajara Félix do Nascimento, o Bira Presidente. Camarada educadíssimo, mas altivo: não gosta que lhe pisem no pé. Eu adoraria ver o pessoal que problematiza fantasia explicar o conceito ao Bira minutos antes do cortejo com milhares de pessoas de saiote, colete e, claro, cocares de penas pulando nas alas dos apaches e dos carajás.

Como quase todas as agremiações nascidas nas camadas mais pobres da população, o bloco de Ramos tem estreita ligação com a religiosidade. O Cacique é da umbanda, com influência do xamanismo caboclo. Proibir o índio velho não seria preconceito?

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