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Dicas para Bolsonaro

Antes de falar bobagem sobre a África, que tal ler Alberto da Costa e Silva?

O candidato à Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro, no programa Roda Viva - Eduardo Anizelli/ Folhapress

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Candidato à Presidência, Jair Bolsonaro fez um comentário aloprado —mais um!— em entrevista ao programa Roda Viva: “Se for ver a história realmente, os portugueses nem pisavam na África. Foram os próprios negros que entregavam os escravos. (...) Faziam tráfico, mas não caçavam os negros. Eram entregues pelos próprios negros”.

Em artigo publicado na Folha, a historiadora Lilia Schwarcz refutou a asneira, mostrando que os portugueses “pisaram”, sim, em território africano —primeiro na Guiné, depois em Cabo Verde e São Tomé e Príncipe—, contato que marcou uma longa aventura e antecede em meio século a descoberta do Brasil. Por dois séculos estiveram com os pés fincados na região de Luanda, hoje capital de Angola —muito bem familiarizados com a população que escravizavam.

Não sei se o candidato aprendeu a lição que Lilia lhe deu de graça, ou mesmo se está interessado em aprender alguma coisa na vida. No entanto, gostaria de lhe indicar a leitura de dois livros do embaixador Alberto da Costa e Silva, o brasileiro que mais entende de África e de sua gente. 

São obras volumosas, juntas somam mais de 2.000 páginas —mas não desista só de olhar, Bolsonaro, coragem. O primeiro é “A Enxada e a Lança”, cujo subtítulo é esclarecedor: “A África Antes dos Portugueses”. O segundo, “A Manilha e o Libambo”, trata da escravidão no continente, abrangendo o período de 1500 a 1700. Ambos são estudos que iluminam o que os brasileiros somos hoje e o que podemos nos tornar no futuro.

Outra dica: o angolano Pepetela abordou a trajetória de um colonizador português no romance histórico “A Sul. O Sombreiro”. Seguem as primeiras linhas: “Manuel Cerveira Pereira, o conquistador de Benguela, é um filho de puta. O maior filho de puta que pisou esta miserável terra. Pisou no sentido figurado e no próprio, pisou, esmagou, dilacerou, conspurcou, rasgou, retalhou”.

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