O Supremo é uma vergonha mesmo
No intuito de constranger Lewandowski, advogado abusa do seu direito de manifestação
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Muita gente bateu palma para o advogado que disse ao ministro Ricardo Lewandowski que o “Supremo é uma vergonha”. A reação de apoio na internet veio de muitos eleitores do presidente eleito, Jair Bolsonaro, inconformados com o andamento da votação que validaria o indulto de Natal.
Bonito ver a defesa da liberdade de expressão, ainda mais num momento em que um estudo revela que o Brasil é o segundo país em que as pessoas mais perderam a independência de dizer o que querem sem sofrer patrulha, nos últimos três anos. Estamos piores do que Uganda, Nicarágua e Turquia. Os dados são do relatório Agenda de Expressão (Expression Agenda ou XPA).
Parte do público que levanta o punho na luta pelo direito de se expressar, apenas para achincalhar um ministro, é o mesmo que fica de plantão nas redes sociais da Folha e de outros veículos, de jornalistas e de blogueiros, não para comentar as reportagens, mas para mandar um cala boca, xingar os profissionais, decretar o fim das empresas.
Muitas dessas pessoas, se pudessem, amordaçariam os jornais dos quais não gostam. Sei disso porque parte do meu trabalho é ler comentários dos leitores. O que me ajuda a driblar os algoritmos e evitar viver numa bolha colorida, de paz e amor. Recomendo.
No intuito de constranger (sim, ao filmar o ministro isso fica claro) uma autoridade, o advogado abusa do seu direito de manifestação, age de forma intolerante e apela à liberdade de expressão para ter uma atitude antidemocrática. Sei que alguns leitores vão me acusar de defender Lewandowski. A defesa é da democracia e da civilidade.
O ministro, ofendidinho, mandou chamar a PF, mas deveria entender algo que sua colega Cármen Lúcia disse no julgamento em que votou contra a censura prévia de biografias: “Cala a boca já morreu”.
Dito tudo isso, o Supremo é uma vergonha mesmo.