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Venezuela definha, Brasil anuncia força-tarefa

Michel Temer quer distribuir venezuelanos por outros Estados

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Os venezuelanos estão passando fome. Não é força de expressão. Cerca de 73% dos venezuelanos perderam peso em 2016. Eles emagreceram em média 8,7 quilos no ano, segundo pesquisa citada em relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Diante dessa catástrofe humanitária no país vizinho, o que faz o governo brasileiro? Anuncia uma força-tarefa.

Em visita a Roraima, que já recebeu mais de 40 mil venezuelanos, o presidente Michel Temer teve a fineza de não ceder a apelos populistas de gente como o senador Romero Jucá, que quer "estancar a sangria" de migrantes entrando no país.

"Não podemos deixar de receber os refugiados que vêm para cá em situação de miserabilidade absoluta", disse Temer.

O presidente anunciou que irá mandar venezuelanos para outros Estados da Federação onde há demanda por mão de obra, porque Boa Vista está sobrecarregada. O processo deve começar em breve, mas os Estados selecionados para receber os migrantes —São Paulo, Paraná, Amazonas e Mato Grosso do Sul— pouco sabem sobre isso. É preciso evitar a repetição das cenas lamentáveis de 2014, quando o governo do Acre embarcou milhares de imigrantes haitianos em ônibus, muitas vezes não voluntariamente, e os despachou para o sul do país, sem aviso prévio.

Temer não falou sobre o acúmulo de pedidos de refúgio de venezuelanos —foram protocolados 17.130 só em 2017, mas o Conare ainda não concedeu nenhum. Segundo João Akira Omoto, procurador do Ministério Público Federal, mantido o ritmo atual, o órgão levaria mais de 12 anos para julgar os pedidos só dos venezuelanos.

Os migrantes têm a opção de pedir autorização de residência pelo acordo expandido do Mercosul. Mas muitos não conseguem, por causa da exigência de apresentação de documentos em que conste sua filiação, que não possuem.

Na discussão em Boa Vista, predominou a visão dos imigrantes como caso de polícia. A governadora Suely Campos pediu atuação do Exército no policiamento, afirmando existir "conexão com o crime organizado comandado por venezuelanos", e exigiu controle na entrada dos migrantes.

O presidente anunciou que vai dobrar o efetivo do Exército na fronteira e construir um hospital de campanha. Espera-se que a inspiração não seja a Colômbia, onde recentemente foi restrita a entrada dos venezuelanos, que agora se acumulam, famélicos, na fronteira.

Em Boa Vista, Temer não visitou abrigos de refugiados e não foi à praça onde vive parte dos venezuelanos.

Talvez se tivesse visto o estado do abrigo em Tancredo Neves, onde vivem centenas de venezuelanos em condições insalubres, teria colocado mais urgência e substância na tal força-tarefa.

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