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O livro de cabeceira do jornalista

Manual da Redação serve de instrumento para leitor conhecer a Folha e cobrar mais qualidade jornalística

Manual de redação da Folha de S.Paulo do ano de 2018 - Gabriel Cabral/Folhapress

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Em favor do método. Foi esse o título escolhido para apresentar ao leitor o primeiro "Manual Geral da Redação" da Folha em 29 de setembro de 1984. O país caminhava para a redemocratização, sob crise econômica sufocante. Tecnologias hoje dominantes eram restritas a laboratórios e grupos de pesquisa. Estava em seus primórdios a rede mundial de computadores que viria a ser conhecida como internet.

Não se questionava a sobrevivência dos jornais nem se imaginava que tivessem o digital como futuro. Criticado já na sua apresentação em textos publicados no próprio jornal, o "Manual" de 1984 tinha o objetivo de "traduzir, em normas empíricas e simples", a concepção de jornal que se procurava praticar na Folha. O diretor de Redação, Otavio Frias Filho, na apresentação, afirmava que o "Manual", "mesmo com lacunas e imperfeições técnicas", serviria de instrumento para "uma atitude mais profissional" e "em benefício de um produto mais técnico, homogêneo e estável".

Em debate na última quarta-feira (21), no lançamento da quinta versão do "Manual da Redação", a conclusão foi inequívoca: não se faz bom jornalismo sem métodos claros.

A semelhança de pontos de vista, passados mais de 30 anos, não é um acaso. Mesmo com todas as transformações ocorridas na forma de produzir, circular e consumir notícia, a qualidade da informação ainda é, e sempre será, o principal objetivo e o grande desafio.

Manuais de Redação estão presentes em grande parte das publicações jornalísticas em todo o mundo. Com objetivos específicos variados e concepções diferentes, servem tanto para aqueles que praticam o jornalismo como para leitores que se interessam por notícias.

A quinta edição do "Manual da Redação" da Folha codifica boas práticas jornalísticas e fornece ao leitor a base para entender seu projeto e suas opções editoriais.

Encarado na Redação como espécie de Constituição interna a ser conhecida e seguida, é instrumento valioso para o leitor cobrar coerência e equilíbrio, conhecer a lógica que leva o jornal a publicar (ou deixar de publicar) determinada informação, entender o motivo da adoção de determinadas nomenclaturas (por exemplo, quem é tratado como ditador e por quê, questionamento frequente de leitores), saber como o jornalista deve se comportar e que relações pode ter com uma fonte.

Mensagem do leitor Paulo Marinho é exemplo do desafio deste ano de 2018 e de como o "Manual" pode auxiliar na confecção do jornal.

Marinho questionou: "Por que a Folha trata candidaturas que são nitidamente de 'centro-direita' como 'centro'?" Referiu-se a trecho de reportagem que definia Geraldo Alckmin (PSDB) e Rodrigo Maia (DEM) como eventuais candidatos de centro. "Não lhe parece uma simplificação excessiva ou mesmo uma imprecisão? É até possível argumentar que os candidatos de 'centro-direita' fazem parte do conjunto mais amplo de candidatos de 'centro', o que justificaria tratá-los dessa forma. Entretanto, para seguir a mesma lógica, o jornal também deveria tratar os candidatos de 'centro-esquerda' como 'centro', mas isso não ocorre", reclamou.

No capítulo dedicado à prática jornalística, o longo verbete "qualificação ideológica (págs. 114/115)" joga luz na questão, ao mesmo tempo que mostra quão complexo pode ser o ato de redigir um texto. Em resumo, define que a variação política à esquerda "preconiza ativismo do Estado a título de reduzir a desigualdade social". À direita, estão aqueles que "valorizam a atuação estatal com o propósito de proteger valores nacionais e familiares". A vertente de centro "aglutina matrizes do liberalismo econômico, que prescreve limitada atuação estatal".

Recomenda que a qualificação ideológica deve ser "tão precisa quanto possível". O exemplo acima mostra que há sempre um grau de subjetividade na aplicação prática dos verbetes do "Manual".

O leitor Paulo Marcos Gomes Lustoza lembrou que manuais dão orientações e diretrizes para determinada atividade-fim. "Não resolve burrices, mas incentiva a correção e demonstra como a instituição que o expediu entende a execução das ações por ela regulamentadas".

Ao lado de duas ex-ombudsmans, Suzana Singer e Vera Guimarães, fiz parte da comissão responsável pela elaboração da nova versão do "Manual", coordenada por Uirá Machado, editor do caderno "Ilustríssima". Sinto-me assim impedida de analisar criticamente seu conteúdo.

Fico à vontade para recomendar um capítulo: "Errei, mas quem não Erramos", pequena coletânea de correções curiosas, embaraçosas e inacreditáveis, que resulta em peça cômica e ao mesmo tempo, escancara o que pressa, desconhecimento e má apuração podem produzir.

SOBRE A RELAÇÃO COM O LEITOR

"O leitor é o principal interlocutor do jornalista e quem sustenta o jornal. Dispõe de tempo cada vez mais escasso e disputado por fontes informativas abundantes. Para assegurar sua fidelidade, é preciso oferecer conteúdo de qualidade, esforçar-se para que ele o receba e manter com ele comunicação atenciosa."

"Responda com agilidade e educação às manifestações do leitor. Apontamentos de erro devem ser checados e, sendo o caso, a correção deve ser publicada com rapidez." (do MANUAL DA REDAÇÃO, versão 2018, página 55)

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