O Brasil precisa e merece ter futebol de alto nível de janeiro a dezembro
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Não é tão simples a equação de que é preferível assistir a um clássico do Campeonato Brasileiro a um jogo de clube grande contra clube pequeno num Estadual. Fosse matemática pura, o Cruzeiro não teria colocado 42 mil espectadores no Mineirão contra o Tupi, para a estreia de Fred, contraste com a inauguração do Brasileiro de 2017, contra o São Paulo, com 6.000 espectadores.
É óbvio que o Brasileiro é mais importante do que o Estadual. O problema é resumir a questão dos torneios do primeiro semestre a "eu gosto ou eu não gosto", como ocorre há 20 anos.
O xis da questão é que, quando jogam clubes grandes, não pode haver menos de 30 mil espectadores ou 80% de ocupação do estádio.
E há, com frequência, em qualquer torneio. O Brasileiro também não é um campeonato que encha arquibancadas, mesmo repleto de clássicos. Seu carma é uma média de público de 16 mil pessoas por partida. O Flamengo teve 14 mil de média e 49% de ocupação.
O problema dos Estaduais não é ter de assistir Botafogo de Ribeirão x Palmeiras, no domingo (21) à tarde. É o que eles representam no calendário.
O Flamengo foi o clube brasileiro com maior número de partidas em 2017: 84. Destas, 17 foram pelo Estadual do Rio e quatro pela Primeira Liga. Então, poderiam ser 63. O Manchester United foi o clube europeu com maior número de jogos na temporada passada: 64.
Sem Estadual, seria mais fácil montar as tabelas.
Só que os times do interior do país precisam jogar. Não se fala aqui de Ribeirão Preto ou Campinas, mas de difundir o futebol em 8,5 milhões de quilômetros quadrados. O Brasil tem 662 clubes e apenas 128 disputam alguma das divisões nacionais -Séries A, B, C ou D.
O grande desafio é dar dez meses de calendário aos pequenos sem fazer com que os grandes sejam seus escravos. O outro desafio é fazer qualquer jogo de time importante ser uma atração.
Na quarta-feira (17), o Fluminense enfrentou o Boavista em Saquarema às 16h30, sol de 15h30 pelo horário de verão. Abel Braga reclamou da antecipação da partida, que seria disputada às 20h30, originalmente. Gramado ruim, campo semiamador, sol a pino. Nenhuma chance de a partida ser boa.
Na TV, às 18h, começou Paris Saint-Germain x Dijon. Show de Neymar! Se um menino de 12 anos trocasse de canal, a chance de virar torcedor do PSG seria muito maior do que a de ser Fluminense.
Cada dia mais há brasileiros que torcem para clubes da Europa. Barcelona, Real Madrid, Manchester City...
Campeonato, qualquer um, é como uma plantinha. Tem de regar todo dia. Há 20 anos, dizemos que os Estaduais não servem para nada. Não pode dar certo, assim. Mas o Brasileiro também não melhora, entra ano, sai ano.
O Brasil precisa e merece ter futebol de alto nível de janeiro a dezembro. Seja Botafogo de Ribeirão Preto x Palmeiras, seja Corinthians x Flamengo, é possível ter estádio cheio e boas jogadas.
Se é possível colocar 42 mil pessoas para assistir a Cruzeiro x Tupi, no primeiro jogo do Campeonato Mineiro, é possível regar a plantinha de maneira a fazer qualquer jogo de time grande virar uma atração. Só que dá trabalho.