Ninguém é Santos

José Carlos Peres precisa pensar seriamente no que fez de errado no primeiro trimestre

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O presidente do Santos, José Carlos Peres, conviveu nesta semana com um pedido de impeachment após apenas quatro meses de mandato, por desobediência ao estatuto e governar sem o conselho de gestão.

Mal cancelado o processo, na quinta-feira (19), outro requerimento deve ser enviado ao Conselho Deliberativo pedindo seu impedimento nesta semana. Desta vez, por ser sócio majoritário de empresas de agenciamento de jogadores.

O presidente do Santos, José Carlos Peres - Ivan Storti/Divulgação

Peres admite a existência da empresa Saga, fundada por ele em 2005, mas diz que os sócios desistiram seis meses depois, por não terem tempo para o agenciamento.

Ele próprio se desmentiu na entrevista coletiva de quinta-feira. “Dessa empresa veio o Gabigol, de graça”, afirmou. O atacante chegou à Vila Belmiro em 2007 e um dos sócios da Saga processou o Santos por 10% de seu contrato.

Ninguém aqui dirá se Peres deve ser ou não ser impedido. Cabe aos conselheiros, que não costumam perdoar.

Os últimos seis presidentes foram expulsos ou ameaçados de ser: Miguel Kodja, Samir Abdul-Hak, Marcelo Teixeira, Luis Álvaro, Odílio Rodrigues e Modesto Roma.

Peres tem dois anos e meio de mandato pela frente e precisa pensar seriamente no que fez de errado no primeiro trimestre.

Prometeu diminuir custos e formar um time competitivo investindo na base, mas encheu o departamento com aliados de competência e passado questionáveis. Um deles, o ex-zagueiro Lica, é sócio de Peres na empresa de gerenciamento e intermediação de atletas. Nesta semana, foi acusado de pedofilia.

Peres foi eleito anunciando já ter engatilhada a contratação do novo diretor-executivo e recebeu duas respostas negativas. Nem Rui Costa, da Chapecoense, nem Diego Cerri, do Bahia, aceitaram sua oferta.

Peres então contratou e demitiu Gustavo de Oliveira em apenas 40 dias. Como não honrou o combinado, o Santos pode ter de pagar na Justiça.

Na ocasião, Peres foi acusado de não atender aos telefonemas por dias seguidos e dificultar soluções de situações emergenciais. Quem tentou falar com Peres nos últimos quatro meses tem o direito de julgar que as acusações fazem sentido.

Peres também é acusado de tentar comandar tudo sozinho, sem ouvir nem seu vice-presidente, nem seus diretores, nem o Conselho Gestor, obrigação estatutária.

Numa de suas últimas visitas ao conselho, afirmou estar pronto para contratar Paulo Autuori ou Levir Culpi para o cargo de treinador, mesmo com Jair Ventura no cargo. Há testemunhas de que ele disse ao Conselho Gestor que contrataria para ser técnico, mas Autuori diz ter sido convidado para o cargo de diretor-técnico. Não aceitou.

Peres também contratou o treinador Reginaldo Lima para o Santos B e demitiu-o em dois meses, após apenas duas partidas, um empate e uma vitória por 4 a 1.

No passado, o Santos já pagou caro por crises políticas. Rubens Quintas renunciou em 1982, Manoel dos Santos Sá em 1988, Miguel Kodja sofreu impeachment em 1994. Períodos trágicos para o Santos.

A defesa do presidente é de que as acusações são políticas, por críticas à gestão, não por delitos confirmados. Dilma Rousseff e Fernando Collor dizem o mesmo.

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